Apesar do empate, Coritiba ainda tem chances

Fortaleza – “Se a justiça dos homens não foi verdadeira, a justiça divina não iria nos deixar.” A frase do secretário Domingos Moro reflete o estado de espírito do Coritiba, que está a uma vitória da sua segunda participação na Copa Libertadores. Com 70 pontos, na sexta posição do campeonato brasileiro, o time foi beneficiado pelos tropeços de Internacional e São Caetano, que jogam no sábado uma partida de vida ou morte – isso caso o Coxa faça a sua parte no mesmo dia contra o Criciúma, às 18h, jogo que tem promoção de ingressos para lotar o Couto Pereira.

A diretoria anunciou a redução dos preços logo após a partida contra o Fortaleza. “É a hora da torcida ir ao Couto Pereira na proporção dos setenta pontos que a equipe tem, da fantástica participação no clube neste campeonato brasileiro”, afirma o secretário Domingos Moro. A partir de amanhã, os ingressos estão à venda, e quem comprar até as 14h de sábado paga meio-ingresso: R$ 7,50 por uma arquibancada, R$ 15,00 pelas cadeiras inferiores e R$ 25,00 pela cadeira superior.

E por mais que o empate tenha sido encarado de forma amarga, principalmente porque veio quando faltavam quatro minutos para o final do jogo, o Coxa não tem do que reclamar. Mais uma vez os adversários colaboraram: o empate do Inter com o São Paulo e a derrota do São Caetano para o Juventude mantém o time dependendo apenas das próprias forças para chegar à Libertadores. “Torcer contra é sempre a pior parte, ainda mais quando as coisas acontecem da forma que aconteceram nesse jogo”, desabafa o capitão Reginaldo Nascimento.

Mas será preciso vencer, o que não acontece desde a partida contra o Corinthians. “Agora nós sabemos o que precisamos fazer, e vamos acabar com essa agonia”, comenta o centroavante Marcel. “Para quem sofreu tanto nos últimos jogos, um pouco mais não vai fazer mal para ninguém”, completa o secretário coxa.

Ainda mais com a reabilitação moral do time, que vinha de um vexame em Salvador e fez boa partida no Castelão. “O time mostrou recuperação, vontade de vencer e atitude”, define o técnico Paulo Bonamigo. “Eu sempre acreditei neles, e nesse jogo eles provaram que são homens, na acepção da palavra”, elogia Nascimento. “Ficou claro que este é o Coritiba, com atletas que se entregam e que buscam sempre a vitória”, diz Moro.

A única coisa lamentada foi a arbitragem, que não consignou o gol legal de Marcel. “Quando os jogadores erram, uma imagem é prova nos tribunais. Mas quando um árbitro erra, nada acontece. É realmente lamentável, isso pode prejudicar o trabalho de uma temporada”, desabafa o secretário coxa. “É uma pena, porque parece que é sempre com a gente. Contra marcam pênaltis, dão cartões e nos prejudicam”, reclama Nascimento. “É melhor nem falar nessas coisas”, resmunga Fernando.

Só que isso não tira a confiança coxa, que festejou discretamente os resultados combinados da noite de domingo. Mais comemorada era a volta da confiança, que parecia estar longe. “Pode anotar: eu garanto que nós vamos estar na Libertadores”, finaliza Bonamigo.

Coritiba foi totalmente diferente dos últimos jogos

Fortaleza (CE)

– Se foi necessária uma injeção de ânimo e uma não confirmada promessa de alta gratificação financeira, valeu. O Coritiba fez ontem sua melhor partida desde a saída de Tcheco e empatou com o Fortaleza em 2×2, em um Castelão lotado. O Coxa só não saiu com uma vitória porque a marcação falhou em um momento decisivo e a arbitragem invalidou um gol legítimo de Marcel.

O clima do estádio era impressionante. Poucas vezes se viu estádios cheios neste campeonato brasileiro, ainda mais em partida de uma só torcida. Os cearenses cumpriram mais uma vez a promessa de lotar o estádio, e quando a bola rolou quase quarenta mil pagantes empurravam o Fortaleza aos gritos de “Fica Leão na primeira divisão”. Era a pressão que os jogadores da casa sentiam.

E como. O Fortaleza iniciou a partida acuado, enquanto o Coritiba assumia o controle tático com nítida vantagem do ataque sobre a frágil defesa cearense. Marcel vencia os duelos com o zagueiros, e ainda abriam-se espaços para as penetrações de Lima e Alexandre Fávaro. Para completar, até Pepo podia trabalhar sem marcação as jogadas, tanto que aos 8 minutos ele quase abriu o placar em uma arrancada.

Só que a vida não seria tão fácil. Motivado pelos gritos dos torcedores, o Leão equilibrou o jogo, apoiando-se nas investidas de Chiquinho pela direita, com o auxílio de Vinícius. Em jogadas perigosas, Rena e Mazinho Loyola fizeram Fernando trabalhar, e a cada avanço malsucedido do Fortaleza a torcida parecia perceber que o desespero ia aumentar.

Não deu outra. Aos 28 minutos, o Cori acertou um preciso contra-ataque: Pepo roubou a bola, passou para Ricardo, e o lateral lançou Alexandre Fávaro em profundidade. O “Príncipe” teve calma para vencer Jefferson e marcar o primeiro gol alviverde, calando a massa cearense. E por mais que o time da casa pressionasse, o Coxa mostrava seriedade – sintetizada nos incontáveis chutões da defesa.

Na volta para o segundo tempo, a preocupação de Bonamigo era com o setor esquerdo de marcação. “Não esquece a esquerda!”, gritava para Reginaldo Nascimento, pedindo que se evitassem as jogadas de Chiquinho. Foram cinco minutos de extrema pressão do Fortaleza, que teve quatro escanteios no período. Parecia que a casa coxa ia cair.

Mas Marcel venceu de novo seus marcadores e calou o Castelão pela segunda vez. Aos 10 minutos, ele recebeu após boa trama entre Jackson e Fávaro, driblou Erivélton e marcou mais um gol para o Coxa – seu 19.º no brasileiro. Logo depois, o Cori teve chances para definir o placar, mas errou, tanto com Jackson, quanto com Edu Sales, que entrara no lugar do “Príncipe”.

O castigo começou a vir aos 32 minutos, quando Vinícius cobrou falta, a bola espirrou na defesa e Daniel fuzilou Fernando, fazendo o estádio ferver. Dali em diante, mais pressão do Fortaleza e mais espaços para o Coxa – e em uma dessas estocadas, Marcel chutou forte, a bola explodiu no travessão e bateu dentro do gol, mas nem o árbitro Álvaro Azeredo Quelhas nem o assistente Alexandre Santos Conceição viram legalidade no lance.

Logo depois, Quelhas torceu o tornozelo e quase saiu da partida, que ficou paralisada por oito minutos. No tempo acrescido, o Fortaleza metralhou o gol do Coritiba, e aos 49 Rena fez jogada individual e empatou a partida. Um duro golpe para aqueles que, ao menos, provaram ter atitude e vontade de vencer.

Apesar das falhas, 2×2 é visto como castigo

O primeiro passo foi conseguido ontem, mesmo com o empate. O Coritiba conseguiu retomar a autoconfiança que parecia perdida, e volta para casa com a chance real de chegar à Libertadores. Para o técnico Paulo Bonamigo, a atitude dos atletas foi decisiva para a boa atuação contra o Fortaleza. E o gol de Rena foi definido pelo treinador como “castigo” para sua equipe.

Mesmo depois dos resultados de São Caetano e Internacional, Bonamigo lamentava a falha na marcação que permitiu o gol do Fortaleza. “Eu não sei o que a gente fez para merecer esse castigo. A atuação da equipe foi perfeita, nós voltamos a ter aquela atitude que nos fez ter essa campanha tão boa no brasileiro”, diz o treinador, mais cansado que o normal.

A preocupação primordial era o lado direito do ataque adversário, que acabou sendo explorado pelo Cori. “Nós tínhamos que ocupar aquele setor, porque o Chiquinho e o Vinícius tinham uma jogada forte”, explica o técnico, que contou com a personalidade de Ricardo para assumir o controle do jogo. “O menino entrou nessa pressão e não sentiu, teve um comportamento fantástico”, elogia.

Fruto, possivelmente, do crescimento global do time, que começou a partida com seis ?pratas da casa?. “Quem entrou saiu-se muito bem”, resume o secretário Domingos Moro. “Os parabéns têm que ser dados para todos os que jogaram, sem exceção”, completa Alexandre Fávaro, autor do primeiro gol e exatamente um dos que entraram na partida de ontem.

Sem dificuldades, o Coritiba teve controle do jogo e pôde atacar. “Nossos jogadores de frente tiveram vantagem em todos os duelos individuais, e isso colaborou para a boa produção da equipe como um todo”, avalia Bonamigo. Mais ainda Marcel, que fez sua melhor partida desde que voltou da seleção olímpica. “Todo mundo está querendo vencer, e assim fica mais fácil”, diz o centroavante.

Por isso a desolação logo depois do final da partida. “Por mais que a arbitragem tenha atrapalhado, a gente errou, e tomou um gol que não podia tomar”, afirma o zagueiro Danilo, um dos melhores em campo.

Agenda

A delegação coxa deixa Aquiraz ainda na madrugada – a viagem de volta está marcada para as 6h30, com chegada prevista para as 14h30. “Os torcedores estão convidados para ir ao aeroporto e receber os jogadores”, avisa Domingos Moro. Toda a delegação estará trajando a camisa com a inscrição Libertadores, eu acredito”!. Alexandre Fávaro, suspenso, é o desfalque para o jogo decisivo contra o Criciúma.

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