Tanguá

Dom de sonhar

Meio século de vida e uma capacidade inabalável de transformar miniaturas de carros, principalmente os modelos antigos da marca Matchbox, em peças exclusivas, que eternizam a emoção de quem encomenda um novo desafio ao ex-bancário Jefferson Luiz Salata. O dom de restaurar ou personalizar as miniaturas surgiu meio ao acaso, há cinco anos, quando ele customizou um modelo por mera distração.

O resultado final foi tão bom que chamou a atenção, primeiramente, de pessoas mais próximas e depois de proprietários de lojas especializadas em artigos para colecionadores. “Nem eu esperava essa reação de profissionais do ramo com o trabalho”, comenta.

O passo seguinte era a encomenda de algum modelo específico. “Até agora não houve encomenda impossível. Sempre há um grau de dificuldade diferente, mas o gosto por conseguir fazer compensa todo o esforço”.

Um dos pedidos de cliente que ele sente orgulho de ter feito foi transformar um ônibus em uma cópia perfeita da Linha Turismo de Curitiba. “O cliente que me pediu isso achou que ficou tão perfeito que guardou para a sua coleção particular”, conta.

Ele costuma a fazer de 20 a 30 modelos por mês. Só não aceita mais trabalhos porque no restante do tempo trabalha como porteiro. “Assim que eu me aposentar pretendo dedicar tempo integral para isso, porque tem mercado e é uma grande realização”, afirma.

A esposa Rosalba Rodrigues Salata ajuda nas criações de Jefferson. “A parte chata de remover a tinta e preparar os modelos para receber todo o trabalho dele, sou eu quem faço”, conta a companheira.

Depois de retirados os resíduos de cada miniatura, Jefferson submete cada peça a aplicação de um produto para tornar lavável o material e outro para fixar melhor a tinta e preencher eventuais irregularidades da superfície. “Depois vem o processo de pintura e adesivagem, que envolvem muita minúcia para atingir o objetivo de cada encomenda”, conta.

Ele faz muita pesquisa para obter o tom desejado para cada modelo. “No restauro, o maior risco é de estragar a peça, mas em outros trabalhos, como o de personalização, há o desafio de captar e realizar aquilo que a pessoa idealiza”, avalia. E ele atribui às peças de personalização alguns dos momentos inesquecíveis do trabalho. “Muitas vezes pegamos o trabalho sem conhecer os motivos daquele cliente, mas a pessoa se emociona de tal forma com o resultado final, que na entrega acabamos entendendo e é extremamente gratificante produzir algo que será exclusivo e fará parte da história de quem recebe”, explica.

Satisfação

Jefferson conta que certa vez pediram para ele reproduzir uma van da Força Aérea Brasileira (FAB). “Quando finalizei o trabalho, o cliente disse que aquilo lembrava o pai dele”, recorda.

Ele mesmo, recentemente, desenvolveu uma espécie de sala do piloto Ayrton Senna com os dez modelos usados pelo brasileiro de 1985 a 1994. Além de considerar Senna um herói, para Jefferson o apreço pelo ídolo tem um significado diferente. “Minha filha tinha apenas quatro anos e adora o piloto, a ponto de acordar de madrugada para ver a corrida. Certa vez ela declarou que ele era o número um”, conta. Meses depois, a menina morreu vítima de um atropelamento.

Pai de outros três rapazes, ele conta que a certeza de que suas criações vão ficar mesmo após ele partir é uma grande satisfação pessoal. “Sei que vou emocionar meus netos e demais gerações, mesmo depois que eu partir. E o mesmo acontecerá com os colecionadores que sabem dar valor a essas relíquias”, projeta.

Quem quiser encomendar uma miniatura deve entrar em contato com Jefferson pelo email jldesigner@yahoo.com.br.

Jogos não conseguem mercado

Antes de enveredar pelas miniaturas de carros, Jefferson sempre se interessou por desenvolver jogos de estratégias. Um deles levou dez anos para atingir o ponto idealizado por ele. “É um jogo de cards com futebol, onde cada jogador é um presidente de clube e ganha o que melhor gerencia o clube e consegue vitórias no campeonato”.

Ele conta que durante a adolescência dos filhos, cansou de testemunhar os garotos e seus amigos ficarem até 14 horas jogando. “Fiquei impressionado e até tentei mostrar a minha ideia para empresas, mas acabei esbarrando em um mercado fechado e cheio de burocracias”.

De tão bem elaborado, ele sente que o produto poderia ser perfeito para este ano. “Teria todas as condições de ser o jogo da Copa”.

Outro jogo de estratégias foi direcionado para a corrida de carros. Como também não foi produzido por nenhum fabricante, ele adaptou em uma maquete que ocupa quase um cômodo inteiro da casa no bairro Tanguá. “O bom de uma maquete é que nunca termina, sempre há algo para incrementá-la”.

Veja a galeria de fotos das miniaturas.

Sobre o autor

Magaléa Mazziotti

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