Pinheirinho

Vida nova

Em meio às casas, comércios e outras edificações do bairro Pinheirinho existe um verdadeiro oásis, um lugar calmo e arborizado, que representa a chance de uma vida nova para muitos dependentes químicos. O Mosteiro Monte Carmelo é uma “chácara” que abriga a sede da Associação Casas do Servo Sofredor (CSS), instituição filiada à Ordem Carmelitana, que também possui outras casas de recuperação no Paraná e em Santa Catarina, e que há mais de 20 anos faz acolhimento e tratamento de pessoas que desejam se livrar dos vícios do álcool e das drogas.

Foto: Lineu Filho.
Mosteiro Monte Carmelo é uma “chácara” que abriga a sede da Associação Casas do Servo Sofredor. Foto: Lineu Filho.

Fundado e comandado pelo Frei Francisco Manoel de Oliveira, o Frei Chico como prefere ser chamado, além ter de jardins impecáveis, o mosteiro tem uma completa infraestrutura: três casas e cerca de 85 leitos, unidade de desintoxicação (UD), cozinha, refeitório, farmácia, padaria, frutaria, despensa, lavanderia, campo de futebol, fábrica de artefatos de cimento, auditório – onde acontecem encontros do Alcoólicos Anônimos (AA) e Narcóticos Anônimos (NA) – e capela. Tudo isso para oferecer tratamento médico, apoio psicológico, orientação religiosa, oportunidade de estudo e trabalho, além da disciplina necessária, para que possam superar seus problemas e consigam voltar a viver em sociedade.

“Oferecermos um programa de recuperação de nove meses, com uma pedagogia baseada na natureza, como se fosse a gestação de uma vida nova. Mas como alguns chegam aqui em um estado irracional, podem precisar ficar por mais tempo, por 12 meses, como na gestação de um cavalo ou burro, ou até 24 meses, equivalente à gestação de uma baleia, período necessário para que se recuperem de perdas maiores, traumas e delitos mais graves” explica frei Chico.

Portões abertos

Um bom exemplo para os demais residentes é passado pelo coordenador geral da Casa do Servo Sofredor. Geraldino do Espírito Santo. Por conta da dependência, enfrentou muitas dificuldades e chegou a viver na rua, passou pelo tratamento oferecido no mosteiro e hoje, vive lá, ajudando quem quer ser ajudado. “Na casa tive a oportunidade de ‘ressuscitar’. Através do tratamento consegui ir me reerguendo. Isso foi há 15 anos e desde então sigo aqui, trabalhando para ajudar outras pessoas. Quero que elas, vendo meu exemplo, vejam que é possível mudar”.

Muitos dos atendidos pelo mosteiro vêm de condições extremas, sendo pessoas que vivem nas ruas ou em comunidades muito pobres e violentas. Mas segundo Geraldino, na instituição que tem os portões permanentemente abertos, só ficam aquelas que realmente querem se tratar. “A gente trabalha na base da liberdade, do livre arbítrio, esta é a condição para quem quer participar do programa”, diz o coordenador.

Transformação

Foto: Lineu Filho.
Geraldino: “A gente trabalha na base da liberdade, do livre arbítrio”. Foto: Lineu Filho.

Quem está vivendo os últimos meses de seu tratamento é Will*, 37 anos. Ele esteve envolvido com as drogas por 25 anos e desde que chegou ao mosteiro. há sete meses, viu sua vida mudar. “Tive vários internamentos, perdi meu patrimônio, namoradas, várias pessoas se afastaram e antes de vir para cá fiquei por três meses em uma favela, envolvido com o tráfico. Vim para cá ajudado pela minha esposa, ela me socorreu quando pedi ajuda. Aqui consegui me reerguer e me encontrar, Deus teve misericórdia de mim”, conta. Assim que seu tratamento terminar, pretende seguir trabalhando na instituição. “Minha ideia é ficar aqui, para continuar essa missão que deu certo comigo”.

*Identidade preservada a pedido do entrevistado

Rotina

Quando ingressam no programa terapêutico, os dependentes passam por avaliação médica e psicológica, recebem os remédios necessários, descansam e iniciam a desintoxicação. Aos poucos, passam a trabalhar, frequentar a missa e participar da programação da casa, numa rotina que tem início às 6h e só termina às 22h.

Assim que iniciam sua participação nas tarefas diárias, saem da UD e vão para a casa 1. Quem já tem função definida, como os monitores, vive na casa 2 ou 3. Passados os primeiros meses do processo de recuperação, os residentes podem ir para uma casa de convivência, que fica em outro endereço. Lá eles saem para trabalhar e no fim do mês dão uma contribuição para ajudar a cobrir as despesas da casa.

Doações

A Associação CSS e o Mosteiro Monte Carmelo atuam com recursos próprios e parcerias com a Fundação de Ação Social de Curitiba (FAS) e a Secretaria Nacional Antidrogas (Senad). Como os recursos não são suficientes, a entidade conta com ajuda da comunidade. Quem quiser ajudar pode participar de uma das Colmeias, grupos que ficam responsáveis pela arrecadação de produtos específicos para o mosteiro, como alimentos. Também é possível contribuir doando comida, material de limpeza, roupas, móveis e outros objetos (em bom estado). Informações: CSS Mosteiro Monte Carmelo (41) 3349-1681 www.css.org.br

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Sobre o autor

Paula Weidlich

(41) 9683-9504