Da pequena Acopiara, munícipio com 54 mil habitantes no Ceará para fazer história em Curitiba. José Estevo de Almeida, 67 anos, jamais imaginou que distante 3 mil quilômetros da sua cidade natal, iria alcançar o status de estar à frente de uma das mais antigas floriculturas da capital paranaense, a Flora XV.  

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A Flora XV foi inaugurada em 1970 quando era comandada por um libanês e ficava localizada ao lado do Hotel Bristol, no bairro Alto da XV. Sucesso na época com arranjos especializados em festas para debutantes, o espaço foi referência na cidade e sonho de trabalho para quem colocava a mão na terra.

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Nessa época, a família Almeida de Acopiara, em busca de melhores condições de vida, saiu do Ceará e seguiu para São Paulo. Na capital paulista, surgiu no caminho dos irmãos Francisco e José, o lindo mundo das flores. “Meu irmão mais velho que começou aos 18 anos na Floricultura Itamarati. Depois fomos embora de São Paulo para trabalhar na roça em Goioerê e Pitanga, no Paraná. Em 1977, viemos para Curitiba naquele frio, um inverno rigoroso”, relembrou José.

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Já na capital paranaense, a ideia de trabalhar com flores veio novamente com o irmão. Francisco vai para a Ornamental Flores, ao lado do Teatro Guaíra, quando recebeu proposta de trabalho de outra floricultura, a Flora XV. “Pagava mais na época, e meu irmão depois de alguns anos, me levou para trabalhar lá, isso em 1985. Eu montava arranjo e fazia decoração. O libanês era o dono, eu o chamava de turco. Foi um período importante, aprendi muito”, disse José.

Em 2002, após a morte do libanês, José comprou a floricultura. Permaneceu no mesmo endereço (Almirante Tamandaré com a José de Alencar) por um ano, quando alterou para a Rua Camões, próximo do Alto da XV Mall. Com a conquista, o pequeno acopiarense abraçou a histórica Flora XV. “Foi um marco importante para a minha vida, e tenho clientes desde o outro endereço. Um orgulho que carrego aqui no meu coração”, relatou José.

Flores para a amante

Com 38 anos comercializando flores, José viu e escutou muita coisa. Já teve que enviar o produto para amantes e quase apanhou em certa ocasião. “Um juiz mandou para mulher de outro juiz, teve homem que mandou flor para a mulher em nome do ex-namorado para terminar o relacionamento, e nessa tive que mentir para a mulher falando que não conhecia o cliente, senão apanhava. Tem gente que manda com endereço errado, tem muita confusão”, ironizou José.

Outra situação que o florista encarou na profissão foi o trato com algumas funerárias. Segundo José, a corrupção era grande, e hoje evita fazer coroas para os velórios. “Eu parei de fazer coroa, pois tem funerária que quer ganhar em cima da família do falecido. Pegam R$ 300 da família, e compram a coroa por R$ 200. Desisti, pois mancha a nossa história”, desabafou José.

Contas e discos na parede

No pequeno espaço da floricultura que não ultrapassa 40 metros quadrados, as samambaias, orquídeas, begônias, violetas e antúrios precisam dividir lacunas com algumas curiosidades. Discos de vinil, boletos de contas, placas do time do coração (Athletico) e venda de mel e até erva-baleeira que ajuda na dor e torcicolo são visíveis. “Os discos na parede, eu nem sei qual é o cantor, pois ganhei da loja do lado que fechou. Teve uma vez que uma pessoa pegou do Bezerra da Silva e levou embora. Já as contas, é para não esquecer de pagar. Tem aqui o talão de luz e o plano de saúde” avisou o florista.

Questionado sobre o futuro, José acredita que o dia de fechar a porta em definitivo está chegando para cuidar da saúde. “Aqui é a minha vida, mas devo ficar no máximo dois anos. Quero cuidar da minha saúde e ficar em Curitiba. Não troco o Paraná por nada. Tenho minha vidinha calma, e vou seguir lendo diariamente a Tribuna do Paraná”, completou o florista mais querido do Alto da XV.

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