Curitiba

Flores para amante e muita confusão: florista de Curitiba conta 38 anos de histórias

Escrito por Gustavo Marques

Da pequena Acopiara, munícipio com 54 mil habitantes no Ceará para fazer história em Curitiba. José Estevo de Almeida, 67 anos, jamais imaginou que distante 3 mil quilômetros da sua cidade natal, iria alcançar o status de estar à frente de uma das mais antigas floriculturas da capital paranaense, a Flora XV.  

A Flora XV foi inaugurada em 1970 quando era comandada por um libanês e ficava localizada ao lado do Hotel Bristol, no bairro Alto da XV. Sucesso na época com arranjos especializados em festas para debutantes, o espaço foi referência na cidade e sonho de trabalho para quem colocava a mão na terra.

LEIA TAMBÉM:

>> Paraná vai reforçar policiamento nas escolas após ataque em Cambé, garante secretário

>> Soldado, ex-esposa e advogado morrem após confusão em teste de DNA na RMC

Nessa época, a família Almeida de Acopiara, em busca de melhores condições de vida, saiu do Ceará e seguiu para São Paulo. Na capital paulista, surgiu no caminho dos irmãos Francisco e José, o lindo mundo das flores. “Meu irmão mais velho que começou aos 18 anos na Floricultura Itamarati. Depois fomos embora de São Paulo para trabalhar na roça em Goioerê e Pitanga, no Paraná. Em 1977, viemos para Curitiba naquele frio, um inverno rigoroso”, relembrou José.

Já na capital paranaense, a ideia de trabalhar com flores veio novamente com o irmão. Francisco vai para a Ornamental Flores, ao lado do Teatro Guaíra, quando recebeu proposta de trabalho de outra floricultura, a Flora XV. “Pagava mais na época, e meu irmão depois de alguns anos, me levou para trabalhar lá, isso em 1985. Eu montava arranjo e fazia decoração. O libanês era o dono, eu o chamava de turco. Foi um período importante, aprendi muito”, disse José.

Em 2002, após a morte do libanês, José comprou a floricultura. Permaneceu no mesmo endereço (Almirante Tamandaré com a José de Alencar) por um ano, quando alterou para a Rua Camões, próximo do Alto da XV Mall. Com a conquista, o pequeno acopiarense abraçou a histórica Flora XV. “Foi um marco importante para a minha vida, e tenho clientes desde o outro endereço. Um orgulho que carrego aqui no meu coração”, relatou José.

Flores para a amante

Com 38 anos comercializando flores, José viu e escutou muita coisa. Já teve que enviar o produto para amantes e quase apanhou em certa ocasião. “Um juiz mandou para mulher de outro juiz, teve homem que mandou flor para a mulher em nome do ex-namorado para terminar o relacionamento, e nessa tive que mentir para a mulher falando que não conhecia o cliente, senão apanhava. Tem gente que manda com endereço errado, tem muita confusão”, ironizou José.

Outra situação que o florista encarou na profissão foi o trato com algumas funerárias. Segundo José, a corrupção era grande, e hoje evita fazer coroas para os velórios. “Eu parei de fazer coroa, pois tem funerária que quer ganhar em cima da família do falecido. Pegam R$ 300 da família, e compram a coroa por R$ 200. Desisti, pois mancha a nossa história”, desabafou José.

Contas e discos na parede

No pequeno espaço da floricultura que não ultrapassa 40 metros quadrados, as samambaias, orquídeas, begônias, violetas e antúrios precisam dividir lacunas com algumas curiosidades. Discos de vinil, boletos de contas, placas do time do coração (Athletico) e venda de mel e até erva-baleeira que ajuda na dor e torcicolo são visíveis. “Os discos na parede, eu nem sei qual é o cantor, pois ganhei da loja do lado que fechou. Teve uma vez que uma pessoa pegou do Bezerra da Silva e levou embora. Já as contas, é para não esquecer de pagar. Tem aqui o talão de luz e o plano de saúde” avisou o florista.

Questionado sobre o futuro, José acredita que o dia de fechar a porta em definitivo está chegando para cuidar da saúde. “Aqui é a minha vida, mas devo ficar no máximo dois anos. Quero cuidar da minha saúde e ficar em Curitiba. Não troco o Paraná por nada. Tenho minha vidinha calma, e vou seguir lendo diariamente a Tribuna do Paraná”, completou o florista mais querido do Alto da XV.

Manda pra Tribuna!

>>>A história sobre o florista José Estevo de Almeida chegou para a Tribuna pelo WhatsApp dos Caçadores de Notícias. Você conhece pessoas que fazem coisas incríveis, viu alguma irregularidade na sua região? Quer mandar uma foto, vídeo ou fazer uma denúncia? Entre em contato com a gente pelo número (41) 9 9683-9504.

Sobre o autor

Gustavo Marques

(41) 9683-9504