Curitiba

Museu do Lixo! Ecobarreira já barrou itens bizarros do Rio Atuba; veja

Ecobarreira de Diego se tornou ponto turístico, ganhou ponte, tem guincho elétrico.
Escrito por Alex Silveira

O Diego Saldanha, de 36 anos, já foi personagem da Tribuna em 2019, por causa da Ecobarreira que construiu perto da sua casa para ajudar a limpar o Rio Atuba, no Jardim das Flores, em Colombo, região metropolitana de Curitiba. Na época, a ideia até concorria ao Prêmio Bom Exemplo Paraná 2019, da RPC, por causa da sua atitude ao desenvolver ações solidárias voltadas à promoção da cidadania. O tempo passou e a repercussão do projeto foi tanta que, atualmente, a ecobarreira se tornou ponto turístico, ganhou ponte, tem guincho elétrico para recolher o lixo do rio e a área de visitação conta com acesso para cadeirantes. Saldanha diz que, às vezes, se sente um super herói anônimo por motivar outras pessoas a cuidarem da natureza. Ele é conhecido como o Guardião do Atuba.

Desde que foi construída, Saldanha conta que já retirou mais de dez toneladas de lixo do local do projeto. Também já passaram por lá cerca de cinco mil crianças, que fizeram visitas orientadas por professores de várias escolas. Há no local um museu do lixo, onde o visitante pode ver peças inusitadas que foram retiradas do Rio Atuba por Saldanha, ao longo dos anos. O acervo conta com mais de 500 itens.

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“O museu do lixo é um sucesso. As pessoas gostam de ver as coisas mais inusitadas que eu tiro do rio. Desde a última reportagem para a Tribuna, eu consegui reformular o espaço, está bem ajeitadinho, bem bonito. Tem de tudo que você imaginar. Capacete, bola, pedaço de máquina de lavar, porta de geladeira, peça de carro, utensílios de casa”, explica Saldanha.

O crescimento do projeto da Ecobarreira, segundo ele, foi possível com persistência e também com o auxílio de uma vaquinha online do portal Razões para Acreditar, feita no início da pandemia de coronavírus. Além de divulgar o que o portal chama de “boas notícias e conteúdo positivo”, o site também tem uma plataforma de vaquinhas para ajudar financeiramente os projetos que são avaliados e checados por uma equipe de profissionais. A retirada do lixo do Rio Atuba foi um desses casos. “Fez uma enorme diferença. Com apoio, o projeto consegue crescer e ter mais notoriedade”, agradece Saldanha.

Ecobarreira tem guincho elétrico para recolher o lixo do rio.
Ecobarreira tem guincho elétrico para recolher o lixo do rio. Foto: Gerson Klaina/Tribuna do Paraná.

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Atualmente, o Razões para Acreditar continua publicando as ações na Ecobarreira e incentiva o seu criador a realizar palestras e promover cursos. “É um sonho que quero realizar, poder viver totalmente do meu projeto. Ainda não é possível, preciso seguir vendendo frutas, mas eu sigo acreditando”, ressalta.

Diego Saldanha ganha a vida vendendo frutas, entre elas morango, em sinaleiros de Curitiba. Em agosto do ano passado, inclusive, a Tribuna contou a estratégia de marketing dele que se transformou em um sucesso de vendas. Saldanha ganha os clientes vendendo fiado pelo Pix. Quem passa pelo sinaleiro e não quer parar o veículo, mas quer comprar frutas, pode levar para pagar depois, no caminho, por meio de uma transferência. O comerciante garante que 99,99% das pessoas são honestas e pagam pela compra. 

Diego já recolheu capacete, bola, pedaço de máquina de lavar...
Diego já recolheu capacete, bola, pedaço de máquina de lavar… Foto Gerson Klaina/Tribuna do Paraná.

“Não é fácil conciliar a venda de frutas, a família e o projeto de limpeza do rio”, diz Saldanha. Mas, de acordo com ele, “é gratificante você chegar cansado de um dia de trabalho, dar um abraço na família e, depois, dedicar parte do seu dia ali, cuidando da natureza, cuidando do que é de todos. Porque a água, o rio não é meu, ele é de todos nós”.

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Lixarada que desce pelo rio para na barreira e é recolhido com guincho.
Lixarada que desce pelo rio para na barreira e é recolhido com guincho. Foto: Gerson Klaina/Tribuna do Paraná.

Ecobarreira

Desde a primeira ecobarreira, de 2017, feita de garrafas pet e aprimorada com galões flutuantes, Saldanha segue crescendo com o projeto. A nova barreira tem canos de PVC e um gradil de ferro por baixo, o que ajuda a segurar ainda mais o lixo que flutua pelo Rio Atuba. O projeto também foi adaptado para receber visitas guiadas.

Como já contou a Tribuna, a relação de Diego e da família com o rio é antiga, semelhante a de todos os paranaenses. O Atuba avança por Curitiba, Colombo e Pinhais. Historicamente, nas suas margens se deu o início da colonização da cidade de Curitiba e na união com o rio Iraí, é formado o Rio Iguaçu, o maior do Estado e que desemboca lá nas Cataratas em Foz. Na década de 1990, com o Atuba passando na lateral de casa, Diego aproveitava para nadar no rio e até pescar. Com o passar dos anos, ao perceber o rio sujo, ele decidiu sair do comodismo e fazer alguma coisa.

“A ecobarreira é um fator fundamental no bairro. Ela contribui para várias coisas, além da questão da limpeza do rio. Desde quando iniciei o projeto, o rio nunca mais tomou conta das casas, nunca mais alagou por aqui. Não sei se foi o projeto que ajudou, eu creio que sim porque já retirei mais de 10 toneladas de lixo desse rio. Mas, se não foi, pelo menos posso afirmar com 100% de certeza que a ecobarreira vem contribuindo para um bairro, uma cidade e uma comunidade cada vez melhor”, orgulha-se.

Porta de geladeira, peça de carro, utensílios de casa deixaram de seguir no Rio Atuba após a criação da Ecobarreira.
Porta de geladeira, peça de carro, utensílios de casa deixaram de seguir no Rio Atuba após a criação da Ecobarreira. Foto: Gerson Klaina/Tribuna do Paraná.

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Dica para quem quer fazer a diferença

Segundo Saldanha, quem quer fazer o bem pode começar por promover a cidadania. E da forma mais simples possível. Não precisa muito. “No mínimo, a pessoa tem o dever de separar o seu lixo, o orgânico do reciclável. Se todo mundo fizesse isso, não teria porque eu ter uma ecobarreira. O problema é que as pessoas não fazem, descartam lixo de forma irregular, nas ruas, e isso acaba chegando no rio, de uma forma ou de outra. Então, eu acho assim, cada um fazendo um pouquinho a sua parte, com certeza nós teremos um mundo melhor”, alfineta ele.

Quem quer fazer o bem pode começar por promover a cidadania...e da forma mais simples possível.
Quem quer fazer o bem pode começar por promover a cidadania…e da forma mais simples possível. Foto: Gerson Klaina/Tribuna do Paraná.

E sobre o seu sentimento de contribuir com a natureza, o Guardião do Atuba diz se sentir um super herói anônimo. “Sinto isso por estar fazendo a minha parte como cidadão, influenciando outras pessoas, crianças, meus filhos. O feedback positivo das crianças, dos professores que nos visitam, dos pais, dá uma sensação inexplicável, de super herói anônimo mesmo. Acho que é isso”, explica ele.

Além da Ecobarreira, Saldanha diz que há outros vários projetos que gostaria de colocar em prática, mas que não dá para dar conta de tudo. Mas um deles está caminhando em paralelo, mesmo a passos lentos. Chama-se Iluminando Caminhos. “Estou colocando postes solares em comunidades que não têm acesso a energia elétrica pública. Aqui na minha rua, por exemplo, eu já instalei três postes e estou colocando mais quatro para completar a rua toda”, finaliza.
Quem quiser saber mais sobre a Ecobarreira do Atuba e, também, da ideia da iluminação solar, pode acessar as redes sociais do Diego Saldanha (@ecobarreira_diegosaldanha).

Sobre o autor

Alex Silveira

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