Boa Vista

Montanha de lixo

Escrito por Jadson André

O cruzamento das ruas Ary Barroso e Leão Sallum, no Boa Vista, há anos é território de conflito. Para a proprietária de uma das residências desta esquina, o quintal da casa dela é local de trabalho e fonte de dinheiro, entretanto, os demais moradores da região dizem que a propriedade é fonte de incômodo constante.

O acumulo de matérias recicláveis, que precisam ser separados antes da venda, e o grande número de cães que vivem sob os cuidados de Célia Regina, dona da residência, são alvos de reclamações dos vizinhos. “Nos dias de sol e calor o cheiro fica insuportável. Tenho que deixar as janelas sempre fechadas por causa das moscas. O material que fica entulhado em cima de onde deveria ser a calçada prejudica a visão dos motoristas no cruzamento”, critica uma vizinha, que preferiu não ter o nome divulgado.

Outro morador, que também pediu para não ser identificado, diz que a prefeitura costuma manda um caminhão de tempos em tempos para retirar o excesso de lixo e fazer uma limpeza no quintal. “Nós sabemos que ela vende parte do material, mas se você somar o entulho com o grande volume de cães, vai entender como o problema fica grande”, comenta.

Caso é de saúde pública, mas mulher se recusa a receber tratamento. Foto: Giuliano Gomes
Caso é de saúde pública, mas mulher se recusa a receber tratamento. Foto: Giuliano Gomes

De acordo com a proprietária, no local vivem 42 cães. “Metade do que ganho com a reciclagem, gasto com ração e vacina. Tem uma veterinária amiga minha que costuma me ajudar. Mas a maioria das pessoas só sabe criticar”, reclama Célia. Ela diz que pelo menos duas vezes por semana vende cargas de material separado para reciclagem. Cada uma rende entre R$ 180 e R$ 200. “Preciso de ajuda para comprar ração”, afirma.

Ela está tentando recorrer de uma multa de pouco mais de R$ 800, aplicada pela prefeitura, por bloquear a calçada. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, Célia já foi diagnosticada como acumuladora e recebeu orientação para procurar ajuda profissional, porém, se recusa a receber tratamento.

Conforme a secretaria, o caso é antigo e a medida adotada temporariamente é enviar pessoal para limpeza do terreno, quando a situação fica muito crítica. Questionada sobre a possibilidade de mudar sua atividade para um dos 20 barracões do projeto Eco Cidadão, espalhados pela cidade, Célia diz não estar interessada.

Você sabia?

Acumulador compulsivo é a pessoa que coleta bens ou objetos e tem incapacidade de usá-los ou descartá-los, mesmo quando os itens são inúteis, perigosos ou insalubres. Caracteriza-se também pelo isolamento social, diminui a mobilidade e interfere nas atividades básicas como limpar, tomar banho e dormir. A doença é conhecida como Síndrome de Diógenes, ou ainda síndrome de miséria senil (embora também acometa pessoas mais jovens, ou de bom nível econômico e intelectual).

Fonte: MedicineNet.com

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Jadson André

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