Bacacheri

O maior vendedor de pipas, papagaios, raias e pandorgas de Curitiba

Escrito por Gustavo Marques

Com a fama de ser o maior vendedor de pipas de Curitiba e com um currículo de ter vendido para mais de 200 mil pessoas, um simpático comerciante leva lembrança e conhecimento para quem costuma frequentar o Parque Bacacheri, na região norte da capital paranaense. Em outubro, ele vai completar 18 anos vendendo um artigo que traz recordações e faz a imaginação voar.

Cesar Paulo Glodzienski, 59 anos, é daqueles vendedores das antigas. Tem no sangue o amor pelas vendas, e especialmente, quando o assunto é pipa. Ela tem vários nomes pelo Brasil, variando a região chama de papagaio, raia e pandorga. Calcula-se que a origem tenha sido na China, há mais de 2000 anos. Nesse tempo, ela não era coisa de criança, mas arma de guerra. Os chineses a usavam militarmente para transmitir sinais diversos com suas cores, desenhos e movimentos no ar.

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De lá, as pipas viajaram para o Japão e Índia, e então para a Europa, de onde ganharam os céus do Ocidente. No Brasil, vieram com os colonizadores portugueses em 1596. Historicamente, ele foi muito importante no triste período da escravidão, pois no Quilombo de Palmares, as pipas eram utilizadas para informar se algum perigo se aproximava

Os cuidados de César para fabricação das pipas. Foto: Atila Alberti

Hoje, elas são usadas para recreação, atraindo principalmente crianças e jovens. São ensinamentos transferidos geralmente pelos mais velhos aos novatos.

No entanto, na história do Cesar, quem deu o pontapé inicial foram os filhos. “Eu saí da missa com minha esposa e meus dois filhos, e um deles pediu para soltar pipa. Fiquei meio confuso e por sorte, encontrei uma pipa na quadra seguinte voando. Segui e coincidentemente estava na casa de um amigo. Ele vendia, mas naquele momento ele não tinha a pipa bidê. Pediu para eu passar mais tarde e fui lá depois. Na época, eu estava desempregado, e meu filho Júlio deu a sugestão de vender pipa”, relembrou Cesar.

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A partir do conselho do filho, Cesar que sempre gostou de confeccionar a própria pipa, comprou carretéis de linha e produziu pipas de papel para dar início as vendas. “Confesso que a ideia foi mais para valorizar a ideia do meu filho, mostrar que pode ter uma renda trabalhando de maneira simples e justa. O movimento foi ganhando forma quando coloquei um varal nas proximidades do Conjunto Cassiopéia, no Boa Vista. Pessoas paravam de carro para olhar e compravam”, orgulha-se o vendedor.

Barraca tem várias opções. Foto: Atila Alberti

Chegada ao Parque Bacacheri

Após começar na rua, Cesar novamente seguiu uma indicação familiar para mudar de ponto. A esposa deu a dica de vender dentro do Parque Bacacheri, que em 2005, era até considerado um local novo para a comunidade da região norte da cidade. Em outubro, o vendedor vai completar 18 anos dentro do Bacacheri.

“Eu adoro esse parque, considero o local da família curitibana. Tenho orgulho de estar aqui, busquei desde os primeiros dias a autorização junto aos órgãos competentes. É muito bom ver um pai com o filho brincando por horas. Hoje o Cesar Pipas virou referência, acredito que mais de 50 mil pessoas compraram a primeira pipa da vida comigo. Algumas são feitas artesanalmente, e outras são industrializadas. Um dos nossos diferenciais é o acabamento, a parte simétrica, linhas e todo um preparo para que a pipa alcance altura e dure por muitos anos ”, disse Cesar que monta uma barraca laranja e azul do lado dos arcos do parque pela Rua Paulo Nadolny.

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Foto: Atila Alberti

Um dos clientes mais antigos o Samir Naufal, 48 anos. Seu primeiro filho, hoje com 20 anos, teve a primeira pipa adquirida com o Cesar. Agora com o Tarik, de três anos, ganhou no fim de semana passada. “Eu produzia com jornal e bambu, mas agora tem tudo na mão para os mais jovens. Eu comprei aqui para o Nicolas, que hoje tem 20 anos, e estou comprando para o Tarik, de três anos. É preciso impulsionar essa brincadeira, eles curtem. Não sei se irá perpetuar, mas certeza que ele vai lembrar que empinou pipa com o pai”, comentou Samir.

Curitiba e o tempo maluco

Foto: Atila Alberti

Um dos maiores desafios para quem vende pipa é a relação com o tempo. E tratando de Curitiba, nem sempre essa amizade é permanente, ou seja, em dias de chuva ou mesmo nublado, o interesse em comprar uma pipa é menor. Aliás, em dias chuvosos nem sempre o Cesar Pipas aparece no parque.

“Curitiba é muito instável, e o tempo varia demais. Já tivemos casos de vender uma pipa em um dia de trabalho. Não tem um período que vende mais no ano, mas digo que é gratificante trabalhar em um lugar da família curitibana, sem fiação elétrica, prezando pela segurança. Nós vendemos lembrança”, orgulha-se.

“Lembro que um caso de uma mulher de aproximadamente 44 anos que estava com um senhor de 80 anos. Ela colocou cadeiras, comprou duas pipas e brincaram por mais de duas horas. É muita história aqui”, lembrou Cesar que vende vários modelos de pipas a partir de R$ 15.

Existem outros modelos desmontáveis com linha, rabiola, compasso e estojo a R$ 85 em vários formatos como pássaros, serpente e avião. “Nesse mundo da tecnologia, os pais estão buscando tirar as crianças de casa para resgatar a pipa. Não podemos deixar morrer essa brincadeira. É uma cultura que vem dos nossos avós e bisavós”, completou o homem pipa de Curitiba.

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Foto: Atila Alberti

Vale o alerta, a venda e uso da linha com cerol são considerados crimes e proibidos no Brasil. Procure lugares que não utilizam a linha cortante que pode matar uma pessoa. Casos de motociclistas atingidos pelo cerol ou a chamada linha chilena ocorre semanalmente no país. Na semana passada, um homem em Belo Horizonte foi atingido no pescoço e não resistiu.

Cesar Pipas

Sábados, Domingos e Feriados – 10h às 18h. * Em dias de chuva, existe a possibilidade da Cesar Pipas não ir ao parque. Contato: (41) 99975-6760. Instagram: @cesar_pipas

Sobre o autor

Gustavo Marques

(41) 9683-9504