Água Verde

Memória viva

Morando em uma casa construída sobre a nascente do Rio Água Verde, a família Jansen conta como é ser uma das únicas sobreviventes à invasão vertical que tomou conta do bairro durante as últimas décadas. A bucólica casa de madeira contrasta no meio de tantos prédios e condomínios, modelos cada vez mais comuns de moradia. A história da família Jansen, que se mudou em 1974 de Ponta Grossa para Curitiba, se mistura com a própria memória da região.

Foto: Gerson Klaina
Antes da piscina, havia um lago em volta. Foto: Gerson Klaina

Pouco do que há hoje na região do bairro Água Verde remete ao seu passado. Logo na entrada da casa, muito parecida com um pequeno sítio, está uma grande araucária, uma das poucas remanescentes no bairro. Adentrando no terreno, é possível encontrar uma piscina que esconde um olho d’água. “Antes de construirmos esta piscina havia um lago por toda esta parte do quintal”, lembra a moradora Iara Jansen, 63 anos.

Sem se dar conta de que residia sobre a nascente do rio, a família apenas ficou sabendo que se tratava de um lugar especial tempos após estarem vivendo no local. “Foi o Maurício Fruet, pai do atual prefeito, que era muito amigo de meu pai, que nos contou sobre a nascente do rio”, conta a moradora.

A moradora relata que seu pai já havia tentado de todas as formas cobrir o tal lago. “Os vizinhos achavam que éramos loucos, pois logo depois de um trabalhão para cobrir com terra e pedra, o lago voltava a aparecer”, recorda Iara. Até a década de 80, quando a região ainda possuía muitas casas, os moradores da região lavavam as roupas naquela fonte. “Havia menos moradores por perto e conhecíamos melhor as pessoas. Era um tempo em que os vizinhos ainda passavam por muitas coisas juntos, existia maior proximidade”, diz Iara.

Foto: Gerson Klaina
“Os vizinhos achavam que éramos loucos, pois logo depois de um trabalhão para cobrir com terra e pedra, o lago voltava a aparecer” Foto: Gerson Klaina

Porém o buraco de água no chão também já trouxe perigo e preocupação à família. Em um episódio, o sobrinho de Iara quase se afogou ao afundar no olho d’água. “Colocamos uma tampa sobre o buraco, mas em um dia, não sei ao certo por que, estava descoberto e o filho de meu irmão caiu dentro. Por sorte, ele estava com um amigo que o ajudou”, conta.

Casa dos mestres da fotografia

A casa que abriga a nascente do Rio Água Verde também foi o lar dos fotógrafos paranaenses Osvaldo e Edson Jansen, respectivamente, pai e filho. Vencedores do Prêmio Esso de Jornalismo, Osvaldo e Edson também conquistaram muitos admiradores, tanto no bairro onde viviam quanto pela cidade. “Os dois eram muito queridos por todos e conheciam muitas pessoas. Porém eles não gostavam muito de lugares cheios de gente e passavam muito tempo neste quintal”, rememora Iara.
Com 90 anos de idade, a viúva de Osvaldo, Araci Jansen, lembra do tempo quando ficava sentada observando pela janela a vida agitada dos homens da sua vida. “Eles gostavam de sair cedo e sempre voltavam tarde. Ficávamos preocupados, mas era o jeito deles”, lembra.
Mas o terreno, que possui hortas, pés de café e muitas flores, resiste pela força dos laços construídos pela família. Muitas construtoras continuam a fazer propostas à família para comprar o terreno. Mas o valor oferecido não cobre o valor da história que foi construída naquele quintal. “Acho difícil pensar em vender, pois me arrependeria muito. Aqui permanecem as lembranças de meu pai e meu irmão e continua a ser um ótimo lar para se viver”, diz Iara.

Uma ilha verde

O irmão de Iara, Gerson Jansen, 68 anos, também conta como o bairro cresceu e “espremeu” a casa, deixando uma ilha verde em meio às modernas construções, em sua maioria prédios. “Em muitos casos, estes prédios são erguidos sem o devido respeito à região”, avalia. De acordo com ele, depois que os prédios tomaram conta do bairro, a qualidade da água ficou comprometida. “Fizemos análise da água, e hoje ela apenas serve para lavar um carro ou o quintal. Houve uma contaminação nestes poços”, lamenta.

Saiba mais sobre o Água Verde

Sobre o autor

Samuel Bittencourt

(41) 9683-9504