Nem pizza, nem esfirra, o melhor das ruas do Líbano em Curitiba: Manaeesh!

Foto: divulgação.

Massa fina, macia, crocante nas bordas, bem recheado e regado com um bom azeite. O Manaeesh – se pronuncia manaíchi – é um um achado maravilhoso da culinária libanesa de se comer com as mãos. Não é pizza, não é esfirra. Na verdade, só provando mesmo para saber o quanto a combinação da massa fina com o recheio e os temperos árabes podem ficar perfeitos.

Nesta semana decidi provar algo diferente em Curitiba. E ali na Vicente Machado, no burburinho dos barzinhos, um pequeno restaurante que abriu recentemente – há quase três meses – trouxe um sucesso de uma tradicional comida de rua do Líbano para o agito jovem curitibano. O Manaeesh é preparado de forma artesanal, assado na hora e vem acompanhado de um molho de pimenta da casa, adocicado e apimentado na medida.

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Manaeesh de queijo e zaatar. Foto: Eloá Cruz.

Najla Samir Yassine, de 31 anos, é quem teve a ideia de transformar uma receita familiar em negócio. Ela e o marido, Pedro Henrique, abriram um bar de cervejas artesanais na Vicente em janeiro. Com uma demanda reprimida de clientes que sempre perguntavam se havia algo para comer no bar, eles aproveitaram o imóvel desocupado em frente ao bar para abrir o novo negócio em setembro com mais um amigo, Jair Faxina Junior.

“As pessoas acabavam jantando em casa antes ou indo embora, para jantar em casa. Então começamos a pensar numa ideia de comida. Eu já vendi comida árabe na pandemia. Meu pai vende um lanche árabe específico em São Paulo e tive uma experiência um pouco cansativa com cardápio muito grande. Então o Manaeesh veio na minha cabeça. Cardápio enxuto, de boa qualidade e alguns sabores. Nunca vi uma casa de Manaeesh por aqui, nem em São Paulo. No Líbano você encontra uma em cada esquina”, conta Najla, que é brasileira mas é de família libanesa.

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O Manaeesh da Vicente Machado é receita tradicional, de família, da avó Rabea, libanesa, de 80 anos. “Eu comia quando era criança e desde então sempre como. É um prato muito comum. Antes da gente acordar, minha vó estava com os manaeeshs prontos no café da manhã, no lanche da tarde também. Servido com chá, com café. Quando pensamos nessa ideia, conseguimos adaptar a receita para uma comida noturna” revela.

Najla reproduziu os mesmos recheios do Líbano. A única adaptação da receita da avó foi a retirada do ovo da massa. “Quando ela soube que eu abriria [uma casa de manaeesh com a receita dela], ela ficou bem feliz. É uma comida afetiva. Ela me treinou, me ensinou a receita e eu treinei nosso cozinheiro”.

Avó Rabea. Foto: arquivo pessoal.

Cada Manaeesh tem 25 cm de diâmetro, um bom tamanho para comer individualmente. Entre os sabores mais vendidos, o de carne e queijo (R$ 30) e zaatar e queijo (R$ 25). Há também outros cinco sabores: só de zaatar (R$ 22), queijo (R$ 24), pimentões (R$ 24), carne (R$ 28) e pimentões e queijo (R$ 26). Os sabores com carne, feitos com o corte da fraldinha e moída três vezes, são acompanhados com um pedaço de limão.

Escolhi o Manaeesh de zaatar e queijo. O queijo é uma aposta certa e o zaatar uma novidade. Já tinha experimentado o tempero em outros pratos, como nas esfirras do Armazém Califórnia (conto a experiência neste post aqui). O zaatar do Manaeesh é diferente, é suave, cítrico.

Zaatar libanês: mistura clássica de especiarias

Zaatar é uma mistura clássica de especiarias, amplamente usado na culinária libanesa. O sabor lembra um pouco um chimichurri salgadinho, com presença mais marcante do orégano e gergelim.

Geralmente o zaatar é feito com sumagre (sumac), gergelim torrado, sal, orégano. Algumas versões podem ter hortelã, tomilho, manjerona. Os condimentos e temperos, ervas, que vão no zaatar variam bastante. Isso porque cada família acaba adotando uma mistura de forma única. No Manaeesh, o zaatar usado é o zaatar verde, importado diretamente do Líbano.

“O toque cítrico do zaatar vem do sumagre. Colhida no Líbano, é uma sementinha bordô. Eles colhem, trituram e colocam em quase tudo. Quando morei lá, lembro da época da colheita. Era algo muito legal”, lembra Najla.

Comida afetiva: dos recreios nos tempos do Líbano

Para Najla, uma das melhores memórias que tem com o Manaeesh vem de quando estudava no Líbano. “A diretora perguntava para os alunos se alguém queria manaeesh no intervalo. Ela passava os pedidos todos e um rapaz, que trabalhava no forno – como se chamavam as casas de manaeesh, levava um isopor na hora do intervalo com os pedidos de todos. Quando a gente não levava lanche, comia um manaeesh. Isso para mim é uma das memórias mais vivas que tenho”, revive a brasileira.

Ela e a irmã variavam os sabores: carne e queijo, queijo, só de zaatar. “Na época, quando a gente comprava, custava em torno de 500 liras, que deveria equivaler na época há uns R$ 0,50. Era muito barato, mas para você conseguir 500 liras em casa tinha que fazer uma boa faxina”, brinca.

Najla, que é filha de pai libanês e mãe palestina, morou dos 10 aos 14 anos no Líbano. Seus pais se conheceram no Líbano, se casaram em 1990 e vieram morar no Brasil, onde Najla nasceu. Alfabetizada em árabe e de família muçulmana, a empresária espera prosperar com seu novo negócio que carrega uma receita e um preparo tão especial e afetivo.

*Os valores do cardápio divulgados no post são de novembro de 2023 e podem sofrer alterações.

Deu fome de Manaeesh?

A casa funciona de segunda a quinta, das 18 às 23 horas, e sextas e sábados, das 18 até meia-noite. Fechado aos domingos. O Manaeesh fica na Rua Vicente Machado, 772 – Batel. Tem entrega pelo iFood e Rapi. Telefone (41) 98402-8335.

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