O golpe da celebridade instantânea

Aconteceu semana passada nas ruas de Belo Horizonte. Mas serve de exemplo porque o fenômeno do “golpe da celebridade” é nacional – melhor, global. As ruas estão cheias de espertos querendo ser celebridade para faturar em cima da fama instantânea. Flávia, morena, olhos verdes, 30 anos, aparência de tremenda gata – corpo com tudo em cima, charmosa, formada em Direito, ex-policial, bombou na internet. A gata espalhou nas ruas da capital mineira faixas procurando o gostosão que teria encontrado na internet. Do sujeito se sabe codinome e idade: Bonito, 34 anos. Pouca coisa para muito barulho.

Quando alguém faz uma maluquice bem maluca, vira notícia. Qualquer acadêmico de jornalismo conhece o velho ditado que norteia parte da sensibilidade na redação: se um cão morde um homem, não é notícia. Mas se um homem morde um cão, é. Porque houve um tempo em que seria absurdo um sujeito morder um cão. A não ser que fosse louco. De uns tempos para cá tem muito cara mordendo cachorro para se aparecer e alguns até para se defender. E tem cachorro assustado correndo de humano maluco. Eu me recordo de pelo menos uns três casos de homens que morderam um cão, embora haja muito mais.

O que me chocou foi um ocorrido em Sevilha, na Espanha, há uns doze anos. Porque o cachorro morreu infectado pela mordida do dono. O dono foi mordido pelo cão e respondeu na mesma moeda: dente por dente. O cão levou a pior porque a boca do homem tinha germes mais letais que a do cão. Mas tem drama também. No dia 28 de abril deste ano, em Madrid, Iowa, nos Estados Unidos, Laine Henry, um sujeito com cara de pitbull, abocanhou o focinho de um labrador, que atacava a sua mulher Caren. Ele salvou a mulher e o labrador saiu correndo. Neste caso, um ato de coragem.

O certo é que a premissa sagrada do jornalismo está indo para o ralo. Tudo é possível. Não bastasse a realidade ser criativa, ainda se encontra pela frente esta categoria: os caçadores de celebridade instantânea. Eles procuram afoitos produzir qualquer fato – ainda que ridículo – para se projetar. O Big Brother Brasil virou universidade da categoria: o sujeito sai do anonimato direto para a fama, disposto a cometer barbaridade, como falar besteiras e fazer sexo em tempo real para todo mundo ver do que são capazes. Isto virou “carreira”. Antigamente, não era.

E por que fazem? Para faturar sem trabalhar. Por isso o caso da bela mineira foi visto com reservas por lá e aqui em Curitiba. A reação mais ouvida foi a de que ela estava querendo se aparecer, para virar celebridade e criar “carreira”. Que começaria pelada nas páginas da Playboy. E se a macharada do Brasil se animasse, ela poderia emplacar uma novela. E assim a carreira estaria construída, a partir de inocentes faixas nas ruas. Ainda que a versão de Flávia seja a verdadeira, a desconfiança é robustecida por duas evidências, além dos elementos pouco plausíveis da história: as garotas não estão românticas assim e por outro lado as pessoas estão muito interesseiras. O golpe da celebridade instantânea está ficando manjado. O que mais ouvi sobre o caso de Flávia foi o seguinte: “Ela é bonita e não precisa de tal expediente”. Mas ela virou celebridade. Talvez seja vista pelada nas páginas da Playboy.