“O Doutrinador” mostra que a corrupção vai muito além da política

O Doutrinador. Foto: Divulgação

O mundo está cheio de gente boa querendo acabar com a maldade. Algumas, transformadas, acabam sendo chamadas de “super-heróis”. Enquanto para a maioria da “gurizada”, os titulares desse papel são seus próprios pais, no universo fantástico, alguns poucos “predestinados” detém o privilégio dos superpoderes.

Super Homem, Wolverine, Mulher-Gato, Chapolin. Nas terras tupiniquins, esses são os heróis mais conhecidos não só nos cinemas, mas também em séries e histórias de quadrinhos. Engana-se, porém, que só existe “herói gringo”. Na terra do samba, representantes como “Mancha Solar”, “Magma” e “Garota Tubarão”, criados pela Marvel e DC, fazem sucesso. E olha que interessante: você sabia que existe um herói curitibano?

O Gralha, desenho de Freire. Foto: Divulgação/O Gralha
O Gralha, desenho de Freire. Foto: Divulgação/O Gralha

É o “Gralha”. Criado por Francisco Iwerten, em 1997, numa edição especial da revista “Metal Pesado”. Verdadeiro sucesso, o super-herói tinha missão de defender as ruas da capital paranaense e foi tão aclamado que ganhou uma página semanal no jornal da “nossa irmã”, Gazeta do Povo, entre 1998 e 2000, além de dois curta-metragens em 2001 e 2003.

Outro herói que vem ganhando notoriedade é “O Doutrinador”. Homem que de poderoso não tem nada, e cuja missão é uma só: matar políticos e empresários corruptos. Luciano Cunha, criador do personagem, conta que a ideia veio em 2008. “Na época ele não tinha máscara e nem capuz. O nome também era outro. Eu não tinha intenção em criar uma história de quadrinhos com ele, mas fui incentivado em levar a história à diante depois que apresentei o herói para meus amigos e familiares”, explicou Cunha em entrevista para o blog Não é Spoiler na última edição do Geek City.

Com ajuda do ator e escritor Gabriel Wainer, a história do super-herói chegou às telonas e estreou nesta quinta-feira (01). Quem quiser também poderá acompanhar a produção pela TV, no canal pago Space, cuja estreia está prevista para fevereiro de 2019. “A gente queria unir o universo geek com o cinema brasileiro”, contou Wainer.
Renata Rezende, produtora executiva do filme, contou em entrevista ao blog que a proposta do longa é completamente original. “O Doutrinador” é a primeira produção brasileira sobre um personagem de história de quadrinhos no gênero ação. “O público que consome esse tipo de filme é muito exigente, pois tem conteúdo do mundo inteiro, principalmente dos EUA. E por isso foi um desafio pra gente”, explica.

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“A gente descobriu no processo de produção que estávamos muito mais preparados para fazer este tipo de filme. No primeiro momento, nós pensamos que teria que trazer um profissional de fora, um maquiador, um lutador, mas no fim contamos com todos os profissionais daqui”, disse Rezende. E por ela acha que há potencia do mercado brasileiro produzir mais filmes desse gênero.

O personagem

O Doutrinador é interpretado pelo ator Kiko Pissolato. Foto: Divulgação
O Doutrinador é interpretado pelo ator Kiko Pissolato. Foto: Divulgação

O interprete dO Doutrinador, Kiko Pissolato (Os 10 Mandamentos), revelou estar encantado por estrear nos cinemas com um filme do super-herói brasileiro. “Eu tive acesso ao HQ e fiquei apaixonado. Quando passei no teste, eu até falei que era o destino me chamando”, contou o ator.

Fã ferrenho dos filmes de Sylverster Stallone, Arnold Schwarzenegger e Jack Chain. Pissolato explica que a construção do personagem veio por meio dos clássicos filmes de ação desses atores com os heróis mais humanizados, como o Batman e o Justiceiro.

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Sobre as cenas de ação, Kiko contou que fez mais de 90% das cenas sem o uso de dublê. “Tive aula de tiro, de luta militar russa, estudei sobre a ação policial. Dirigi carro, moto. Então foi uma diversão pra mim. Me senti um garoto se divertindo no set”, termina o ator.

Para finalizar a entrevista, o ator explicou que o Brasil não precisa de um super-herói para acabar a corrupção, até porque é um problema que não está só nos políticos, mas no próprio cidadão. “É preciso parar de usar a carteirinha falsa de estudante, de furar fila, andar com a velocidade superior do que é permitido. Nós precisamos agir de maneira correta, é isso.”, conclui.

Crítica

O Doutrinador. Foto: Divulgação
O Doutrinador. Foto: Divulgação

Não é de hoje que a população brasileira está insatisfeita com as polêmicas envolvendo o mundo político. Após a manifestação de 2013 sobre o aumento do preço das passagens de ônibus, outros protestos surgiram ao longo do tempo finalizando com o polêmico processo de impeachment de Dilma Rousseff.

O Doutrinador é o típico personagem que representa o sentimento de muitos brasileiros: justiça com as próprias mãos. Afinal, quem aqui nunca pensou em atirar uma bomba na Câmara dos Deputados que atira a primeira pedra.

O longa retrata como seria um justiceiro assassinando os principais políticos envolvidos em lavagem de dinheiro, suborno fiscal e os poderosos que acreditam estar acima da lei. Cheio de ação, O Doutrinador é esteticamente vibrante, sonoramente eletrizante com um roteiro que cresce ao longo da trama.

Com um elenco de peso, Kiko Pissolato (Miguel, Doutrinador) é bem apresentado com as atuações de Marília Gabriela, como Ministra Marta Regina; Natália Lage (Sob Pressão), que interpreta sua ex-mulher, a Isabela; Tuca Andrade (Babilônia) e sua comparsa Nina, personagem de Tainá Medina.

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“O Doutrinador” vai além da corrupção política. Trata-se de um longa que abrirá os olhos e fará com que o espectador reflita sobre os próprios atos.

Deixando para trás a “síndrome de vira-lata”, o Brasil – mais uma vez – mostra que sabe sim fazer ótimos filmes de ação. Assim como foi o excelente “2 Coelho”, o cinema nacional está no caminho certo para se consolidar no gênero. Tem defeitos? Sim, mas – de início – mostrou a que veio.

Avaliação: ⭐⭐⭐1/2
Pra quem gosta: ação
Pra assistir: com amigos ou sozinho ou com crush
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