Poucas ilusões

A minha editora de hoje, Gisele Rech, sugere-me a escrever sobre o jogo do Coritiba contra o Maringá. Entendi na orientação, um bom sentido: goleando em Foz (4×0), os coxas ficaram líderes e, no Couto Pereira, eram favoritos contra o Maringá.

Em “Aquarela”, a sua obra eterna, Toquinho nos cria a definitiva ilusão de que “numa folha qualquer, eu desenho um sol amarelo, e com cinco ou seis retas, é fácil fazer um castelo”.

Escrever sobre uma vitória do Coritiba, no Couto Pereira, sobre o Maringá, só ouvindo o rádio, é fácil. Não precisa ir além da pura ilusão que o rádio nos provoca. Pronto: com cinco ou seis linhas, seria possível escrever sobre uma vitória do “Glorioso”. E independe do jogo, uma vitória é uma vitória. Mas o jogo termina e eis a realidade: Coritiba 1×1 Maringá. E os coxas só não perderam porque Wilson fez dois milagres.

Então busquei no Athletico, das indecentes listas em diagonais que procuram um fim, a salvação para o meu espaço. Mas, eis que o Furacão voltou a fracassar: empatando sem gols com o FC Cascavel, continua sem ganhar no campeonato. Lembrei da camisa do velho Atlético. Quando não lhe restava nenhum pingo de futebol, ainda tinha a “camisa que só veste por amor”.

Essa atual só se veste.

Última despedida

Ainda era um jovem advogado e recebi o pedido do amigo e atleticano dos grandes, Faiçal Kalil Farran, para ir tratar de um assunto em Campinas, da 3M do Brasil, da qual ele era diretor em Curitiba.

À noitinha, recebi um convite do saudoso Armando Renganeschi, que foi técnico do Coritiba. À noite, Renga iria fazer um churrasco (só carne mal passada) para o cantor Silvio Caldas e o técnico Elba de Pádua Lima, o Tim.
Silvio foi um dos ídolos da geração dos meus pais. Cantador de serestas, chamado de “Caboclinho”, fazia chorar tocando violão e interpretando “Chão de Estrelas”.

Paulo André, zagueiro do Athletico, provocou-me essa lembrança.

Silvio toda a vez que se apresentava em um palco, dizia que era a sua despedida. Foi chamado de “Cantor das Despedidas”.

Paulo André já se despediu duas vezes do futebol.

Agora, resolveu continuar. Se jogar o que Silvio cantava depois das “suas despedidas”, o Furacão continuará tendo um excepcional zagueiro.