Homenagem

O rei e um plebeu

A história do futebol moderno é contada desde que, em 1863, os ingleses passaram a jogar uma partida ordenada por uma ordem disposta pela sua Federação. Então, hoje, quando Pelé comemora 80 anos de vida, a emoção para prestar-lhe homenagens poderá tratá-lo como um divisor dessa história, usando-se a linha temporal do antes e depois.

Essa homenagem pela qualidade de divisor histórico embora expresse grandeza,  tratando-se de Pelé será muito simples, não será justa. É que o regime absolutista imposto pelo jogo de Pelé foi tão genial, que todos os povos, em todos os idiomas, o consagraram. É o único poder absoluto na história da humanidade que nunca foi e não será contestado.

Então, 1863 deve apenas ser um marco simbólico para homenagear a criação dos ingleses, o futebol. Então, a narração da história deve adotar a data de 23 de outubro de 1940, quando nasceu Edson Arantes do Nascimento, cidadão brasileiro, que jogou bola como nunca antes fora jogada, e que não mais será jogada, com o apelido de Pelé.

Viver na época em que Pelé jogava foi um presente do Deus. Vê-lo pelo menos uma vez, era uma obrigação cívica. 

Embora tenha o visto jogar no dia 19 de janeiro de 1964, quando tinha 15 anos de idade, no Pacaembu, em um Santos 4×3 Grêmio (PA) (Pelé fez três gols e acabou no gol), a que considero a minha primeira vez foi em 22 de outubro de 1969.

Repórter da Rádio Guairacá, fui escalado para cobrir o Santos no jogo contra o Coritiba, no Belfort Duarte. Já acionada a contagem regressiva para o milésimo gol, ocorreu o seguinte diálogo no Hotel Guaíra. Perguntei a Pelé se ele “prometia fazer nos coxas o milésimo gol”. Respondeu-me: “Se não posso prometer fazer um, não posso prometer dois”.

Diante da minha insistência, ele brincou: ”Você parece que não gosta do Coritiba?”. O Santos ganhou de 3×1 e Pelé fez dois, e Edu o terceiro.

Confesso que tenho medo de escrever sobre Pelé, desde que Armando Nogueira escreveu que “se Pelé não tivesse nascido gente, tinha nascido bola”, e os ingleses do The Sunday Times resumiram-no no célebre título: “Como se soletra Pelé? D-E-U-S”.

O que haveria mais para escrever? Sinto-me pequeno diante de tamanha grandiosidade.

Do pensamento de jogadores, o mais genial, por ter sentido na própria pele, o mais fantástico é o do zagueiro Tarciso Burnigch, que marcou o Rei no Brasil 4×1 Itália. ”Eu pensei: Ele é feito de carne e osso, como eu’. Eu me enganei”. 

Mas nada foi igual à associação entre a oração de Nelson Rodrigues e a ideia dos franceses para a consagração oficial de Pelé como Rei do Futebol.     

Nelson Rodrigues, em 8 de março de 1958, na Manchete Esportiva, havia escrito: “Pelé leva sobre os demais jogadores uma vantagem considerável – a de se sentir rei, da cabeça aos pés. Quando ele apanha a bola e dribla um adversário, é como quem escorraça um plebeu ignaro e piolhento”.

Logo depois, para jogar o “Torneio de Paris, Pelé recebeu dos franceses da revista “France Football”, a coroa de rei.  

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