Diagnóstico I

Há derrotas e derrotas. Derrotas existem como conseqüência natural de lógica que remete a solução de um jogo para a vitória do melhor. É a regra. Mas, há derrotas que absorvem esta lógica, porque para ela concorrem outros fatores. A inferioridade em um jogo tem origem, também, em outros fatores: a concentração de poder é tão forte quanto a diferença técnica e individual, porque gera o desequilibro estrutural.

De todos os fracassos do Atlético, nenhum foi mais chocante do que este para o Cruzeiro, na maior goleada sofrida na história da Arena. Não foi pela derrota em si, pois a exuberância do adversário já a justificaria. Mas pela materialização do melancólico estado do time rubro-negro, ostensivamente anárquico e sem comando.

Não adianta culpar só Mário Sérgio, embora esteja abusando do seu poder. De nada adianta sacrificar Ilan pelo gol perdido. Concentrar as críticas só em técnico e jogadores, é querer esconder a causa maior de todo este estado.

No futebol não basta apenas ter um grande time. É preciso competência para formá-lo. Depois, dar-lhe assistência técnica e física, amparo psicológico e humano, espírito social e ideológico. O Atlético é o grande exemplo desta verdade. Foi campeão do Brasil em 2001, e com o mesmo time, enfrentando os mesmos adversários, nas mesmas circunstâncias, foi o 17.º em 2002. A diferença tão extraordinária e tão rápida, não autoriza outra explicação: a concentração de poder a partir de abril de 2002, dissolveu a estrutura de pessoas e de idéias que fizeram o Atlético campeão.

Nunca neguei honras e respeito a Mário Celso Petraglia pelo que fez pelo Atlético. Mas uma coisa é ter respeito pelo passado, por seus fatos e por seus homens; a outra é aceitar e viver este presente de derrotas humilhantes, só por causa daquele passado. Seria como se o torcedor tivesse que reverenciar a própria derrota.

Não sou viúva de ninguém. Se chorar por alguém, é pelo Atlético. Mas não podemos apagar fatos, principalmente quando se tornaram os mais importantes da história do clube. Quando o poder era dividido, obrigando o revezamento de idéias e homens, o Atlético construiu a Arena, o CT do Caju, ganhou quatro títulos estaduais, foi campeão brasileiro da segunda divisão, campeão brasileiro da seletiva e campeão brasileiro de clubes. Agora não se ganha nada.

É manifesta a gravíssima falta de respeito a torcida. Explico amanhã.