A demissão de Marcelo

Seria melhor o Coritiba ter ficado em silêncio. O prestígio interno a Marcelo Oliveira perante os jogadores no comando do time já seria o bastante. Mas se era necessário prestigiá-lo publicamente bastava utilizar-se do único motivo que o clube tem e qualquer bom observador é capaz de concluir: a causa das derrotas para Grêmio e Corinthians não teve origem na organização do time, ao contrário, bem organizado, foi até superior aos gaúchos. A causa imediata agora, foi a que excluiu Pachequinho: a exceção do goleiro Wilson, falta qualidade individual nas posições da estrutura central do time. O ataque, sem Kléber, é um deserto.

Sem a consciência para enfrentar o problema, o G5 errou a primeira vez ao decidir tornar público o prestígio ao treinador. Não satisfeito, imediatamente, errou a segunda vez, destacando o presidente Rogério Bacellar para dar as razões do clube. O doutor, por ainda ser inexperiente, em estado de pressão, fica inseguro. E qualquer um nesse estágio não evita interpretações das suas razões.

Falou o doutor Bacellar: “Hoje não temos condições de trazer do mercado um técnico à altura do Marcelo. Não vamos encontrar um treinador vencedor como ele”. Essa motivação obrigatoriamente leva a uma única conclusão: se existisse um outro treinador, Marcelo estaria demitido.

Mas Bacellar teria argumento para dizer que esse não foi o espírito da resposta, se colocasse limite nas suas explicações. Seria de grandeza infinita, se atribuísse culpa à diretoria que contratou ou deixou contratar, em massa, sem critérios. Seria maior que a grandeza, se reconhecesse que é impossível um treinador trabalhar com 51 jogadores.

Mas foi além: fez críticas expressas e específicas a Marcelo Oliveira, porque o treinador não escala o alemão Baumjohann e “mais cinco ou seis jogadores”. Entre eles deve estar Daniel “Messi”, que olhos interesseiros fizeram chegar ao Coritiba.

Essa crítica veste uma saia justa no treinador: se escalar o alemão e “outros cinco ou seis” estará renunciando a sua hierarquia de comando técnico, submetendo às ordens dos cartolas. E na hipótese dessa submissão, estará jogando fora a sua maior virtude que é a independência de atos dentro do campo.

Em resumo e em arremate: seria melhor o doutor Bacellar ficar em silêncio. Ao afirmar que Marcelo Oliveira será o técnico até o fim do campeonato terá que bancá-lo. Terá perdido até a legitimidade moral de demiti-lo em caso de possíveis derrotas futuras.