Trabalho demais pode prejudicar a saúde

“Costumo tomar só café preto pela manhã, no almoço como qualquer coisa por aí e não tenho tempo para praticar atividades físicas.”

Esta repetitiva ladainha é comum entre os executivos cada vez mais preocupados com sua carreira, mas que sentem as conseqüências desastrosas de uma má alimentação e do excesso de peso.

Muitas vezes esses hábitos mostram uma despreocupação com a qualidade de vida, em outras, pura falta de tempo.

O que leva um alto executivo que chega a trabalhar mais de 16 horas por dia a deixar de lado os cuidados com a saúde?

Para a reumatologista Márcia Veloso Kuahara, especialista em qualidade de vida, as desculpas são inúmeras, mas uma coisa é certa: um executivo afastado por problemas de saúde custa muito caro para a empresa. Portanto, esse não é um problema exclusivamente do colaborador, mas uma questão que deve fazer parte das ações estratégicas de uma empresa.

Para a médica, o executivo costuma superestimar sua saúde. O seu foco está nos negócios, na competitividade e nas exigências profissionais. Com efeito, ele sempre acha que o check-up pode esperar.

Cerca de 80% deles, admitem dormir mal em decorrência das tensões do dia a dia. Outra boa parte confessa usar bebidas alcoólicas regularmente. “Uma mistura perigosa que leva ao aparecimento de doenças, principalmente as cardiovasculares, o diabetes e os cânceres”, adverte a especialista.

Personalização

Apesar disso, pesquisas apontam que apenas 70% dos executivos realizam exames periódicos e, destes, em torno de 30% só o fazem depois de muita insistência.

Outro dado intrigante é que muitos não buscam os resultados dos exames, por consequência, não seguem tratamentos ou as orientações médicas. De acordo com Márcia Kuahara, a culpa talvez não seja totalmente desses executivos tão responsáveis profissionalmente. No seu entender, falta motivação para ir ao médico e a fazer os exames porque falta personalização nesse processo.

“Os check-ups costumam seguir padrões e não levam em conta hábitos e características individuais, tornando o processo mecânico”, constata a médica.

As empresas trabalham com “pacotes” prontos e os médicos pedem uma infinidade de exames de forma aleatória que não levam em conta os hábitos de vida de cada um e, muitas vezes, seus histórico de saúde.

O resultado é que os recursos são mal empregados, os executivos se estressam com a quantidade de exames e a desorganização do processo. Também, na maioria das vezes, não se consegue mudar a evolução natural de uma doença, alega a especialista, pois não se levou em conta o histórico do paciente.

Informar a incidência de alguns tipos de cânceres ou de doenças cardiovasculares na família, por exemplo, é muito importante para mapear os exames que devem ser solicitados.

Se o risco familiar é de câncer de intestino, por exemplo, uma colonoscopia é imprescindível. Com efeito, o papel do médico não pode se restringir a solicitar e avaliar exames. É preciso ouvir o paciente e atuar de forma personalizada, apurando o histórico familiar para avaliar os riscos e solicitar os exames específicos.

Relação de confiança

Além disso, no caso de executivos muito ocupados, o médico da empresa deve atuar de forma proativa e conhecer as datas mais propícias na agenda para que ele se submeta aos exames, se desligando da rotina de trabalho.

Os médicos devem estar atentos e otimizar a solicitação de exames para facilitar a vida de quem tem pouco tempo para se deslocamentos ou para aguardar sala de espera.

De acordo com a reumatologista, com essa relação de confiança estabelecida fica mais fácil fazer com que o paciente se sinta comprometido com o processo e a partir daí o médico poderá oferecer alternativas de dietas e exercícios físicos, indicar um personal trainer ou fisio,terapeuta, além de estabelecer metas.

Um executivo afastado por problemas de saúde pode trazer muitos prejuízos para a empresa. “Sem dúvida, muito mais do que qualquer investimento realizado com saúde”, garante a médica.

Pesquisas mostram que colaboradores que adoecem e não procuram assistência médica, apresentam maior absenteísmo e mortalidade. Funcionários que trabalham com dores musculares, enxaqueca ou refluxo gastroesofágico, por exemplo, perdem em produtividade o equivalente a 83,8 dias por semestre, enquanto o absenteísmo é de 4,5 dias no mesmo período.

Em um só lugar

Cuidar da saúde é muito mais barato do que cuidar da doença. No entanto, nem todo mundo disponibiliza tempo para cuidar de si mesmo. Conciliar a agenda pessoal com os horários de médicos e laboratórios não é tarefa das mais simples.

Além disso, realizar todos os exames e consultas necessários para um check-up pode demandar muito mais tempo do que se imagina. Para diminuir esse prazo, alguns hospitais criaram um novo serviço: o check-up empresarial, idealizado justamente para atender aquelas pessoas que têm um alto nível de exigência profissional e pessoal e não podem abrir mão de cuidar da saúde.

“Como em qualquer tipo de doença, é mais barato e eficaz cuidar da prevenção”, afirma o cardiologista Eduardo Zen, do Hospital Santa Cruz. Segundo ele, todo executivo sabe que tempo é dinheiro. “Mas quem não tem tempo pra cuidar da saúde, vai ter de encontrar tempo pra cuidar da doença”, comenta.

No hospital, todo o check-up dura cinco horas. O paciente chega pela manhã e se submete a uma série de exames. No laboratório de análises são realizados os exames necessários, como hemograma, sódio, ácido úrico, HDL, colesterol, parcial de urina, uréia, PSA (para os homens), parasitológico de fezes e glicemia, entre outros. No centro de imagem são realizados os exames de abdome total, próstata e raio-X do tórax.

Os resultados são padronizados, seguindo uma mesma rotina. Pouco tempo depois de terminados todos exames, o paciente sai do hospital levando em mãos um dossiê completo do seu estado de saúde.

Check-up cardiológico

* Eletrocardiograma
* Teste de esforço
* Medicina nuclear
* Ultrassom
* Tomografia computadorizada
* Ressonância magnética
* Cateterismo
* Tomografia das artérias coronárias