Receitas médicas escritas à mão podem causar erros

Após avaliar mais de 4 mil receitas médicas de 456 pacientes com medicamentos potencialmente perigosos, uma pesquisa identificou que 44,5% dessas prescrições apresentavam algum tipo de erro e concluiu que a padronização no processo de prescrição e a eliminação daquelas feitas à mão podem reduzir o número de erros.

Segundo o artigo científico, disponibilizado por meio eletrônico na Revista de Saúde Pública, o percentual de erros pode, eventualmente, ser ainda mais alto, pois não foi possível considerar a condição clínica do paciente e discutir os casos com o médico responsável pelas receitas.

Conduzida por Mário Borges Rosa, da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais, em parceria com duas universidades, o estudo analisou as prescrições quanto à legibilidade, nome do paciente, tipo de prescrição, data, caligrafia ou grafia, identificação de quem a prescreveu, análise do medicamento e uso de abreviaturas.

A pesquisa identificou que um dos erros mais perigosos encontrados foi o uso intensivo e sem padronização de abreviaturas nas prescrições, esta última com uma média superior a 30 ocorrências por receita médica.

Os pesquisadores ressaltam que “já é antiga a ideia” de eliminar o uso de abreviaturas, citando como exemplo o caso de um paciente canadense que teve lesão grave permanente: “Ele recebeu 70 unidades de insulina em vez das sete prescritas, porque a abreviatura ‘U’ foi confundida com um número zero”. Se não for possível escrever por extenso em toda a receita, os pesquisadores recomendam, ao menos, alguma padronização.

Metade das prescrições estudadas estava escrita à mão. De acordo com os pesquisadores, erros de prescrição podem ser reduzidos com a utilização de editores de textos para a indicação do medicamento, evitando o manuscrito.

A heparina (anticoagulante) foi a droga com maior número de erros – 33,7% das receitas avaliadas continham ao menos um problema. Outros medicamentos potencialmente perigosos que apresentaram alto índice de erros de prescrição foram o fentanil (analgésico narcótico), com 22,1%, e o midazolam (indutor do sono), com 11,4%.

Conforme os pesquisadores, a heparina e o midazolam foram responsáveis pela maioria dos erros relacionados à concentração. Verificou-se tendência à omissão da forma farmacêutica, principalmente, quando estas substâncias eram prescritas juntas.

Os autores destacam no artigo que, em 1999, um estudo estimou que cerca de 98 mil pessoas morrem anualmente, nos Estados Unidos, em consequência de erros associados à assistência à saúde.

Na opinião de Borges Rosa, muitos paradigmas são confrontados na discussão de erros em instituições de saúde. Ele reconhece que os profissionais de saúde, normalmente, associam falhas nas suas atividades à vergonha, perda de prestígio e medo de punições. “De modo geral, o ambiente nas instituições de saúde não é propício para uma discussão franca sobre o assunto”, consideram.

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