População mundial vive uma epidemia de sobrepeso

A obesidade é um fator de risco que preocupa mais de 15% da população brasileira.

Somente na região Sul são mais de 7% de mulheres e 3% dos homens com obesidade mórbida.

Além dos riscos à saúde, como problemas cardiovasculares e diabetes, entre outros, a autoestima abalada pode levar a outros problemas de saúde.

“É uma doença que está em todas as faixas etárias, grupos éticos e classes sociais, afetando também tanto homens quanto mulheres. Essa espécie de onipresença motivou a criação do termo globesidade”, conta em sua palestra sobre nutrição e obesidade, a pesquisadora Mary Schmidl.

A obesidade é definida como quantidade excessivamente alta de gordura corpórea ou tecido adiposo em relação à massa magra do corpo. Para avaliá-la, é preciso saber qual é o índice de massa corpórea (IMC) do paciente, que é a média da gordura corpórea baseada na altura e no peso.

Medidas para curar a obesidade são várias. No entanto, o que a maioria dos especialistas defende é a mudança de hábitos que começa por uma reeducação alimentar. Mas, para isso, é preciso muita força de vontade e acompanhamento de profissionais da saúde.

Outra solução para os casos em que o sobrepeso traz riscos à saúde, é a cirurgia bariátrica, medida que traz resultados em curto prazo, mas que pode causar danos para a saúde, se não realizadas de forma individualizada.

Recomendação

A realização da cirurgia bariátrica é recomendada para pacientes que possuam IMC igual ou superior a 40 (obesidade mórbida). Para os pacientes até IMC 35 é indicada caso haja pelo menos dois fatores de risco ou comorbidades associados, como diabetes II, hipertensão arterial, doença cardiopulmonar grave, apneia do sono, dislipidemia severa de difícil controle e esteatose (gordura no fígado), entre outras.

Para a realização do ato cirúrgico, o paciente precisa do acompanhamento de uma equipe multidisciplinar, composta por cirurgião habilitado, nutrólogo ou nutricionista, psiquiatra ou psicólogo e endocrinologista, entre outros.

O ato cirúrgico é resultado de um acompanhamento especializado de pelo menos dois anos. “Muitas pessoas encaram a cirurgia como uma questão estética, mas não deve ser encarada desse modo, pois não é”, explica Dilermando Hopfer Brito, endocrinologista da Paraná Clínicas.

“Optar pelo procedimento é escolher, também, uma mudança no estilo de vida, pois esse paciente terá que ter acompanhamento médico e tomar medicamentos pelo resto da vida”, completa o especialista.

Compreensão

Antes de passar pelo ato cirúrgico, o paciente inserido no perfil que pode realizar a cirurgia precisa ser preparado para as mudanças do organismo e de novos hábitos de vida.

“Indicamos a cirurgia para pacientes portadores de obesidade de grandes proporções, de duração superior a dois anos, e resistente aos tratamentos que chamamos de conservadores, como os dietoterapêuticos, psicoterapêuticos, medicamentosos, por exercícios físicos, entre outros”, explica o clínico-geral Heitor Lagos, salientando que essa preocupação é necessária porque o paciente que se submete à cirurgia bariátrica precisa ter a compreensão do significado da cirurgia em longo prazo e seguir as devidas recomendações. “O ato cirúrgico não é nem o começo e nem o fim da obesidade. Pelo contrário, ele é parte de todo um processo de reeducação alimentar e conscientização de melhoramento da qualidade de vida”, reconhece.

Os tipos de cirurgia bariátrica são vários. Entretanto, de acordo com o cirurgião Daniellson Dimbarre, a mais praticada no meio é a gástrica em “y de roux”, na qual é criada uma pequena bolsa a partir do estômago original.

Essa bolsa permanece ligada em uma extremidade ao final da parte inferior do esôfago, e na outra extremidade a uma nova conexão criada para uma parte do intestino delgado.

Ou seja, a cirurgia cria um a,talho desviando os alimentos de parte do estômago e do intestino. As vantagens desta cirurgia são a perda e a manutenção de peso sem a sensação constante de fome que os regimes determinam.

“Os excelentes resultados são o alto índice de cura e também a melhora de doenças associadas”, explica o médico. Além dos riscos, por ser um ato cirúrgico, a cirurgia bariátrica pode ter índices de falha. A média de pacientes com reganho de peso fica entre 5% a 10%.

Determinação

Levando uma vida sedentária, agravada por uma alimentação desregrada, Gilson dos Santos atingiu um nível perigoso de sobrepeso. “Minha rotina estava cada vez mais complicada, eu não praticava exercícios físicos e comia de tudo e em quantidades exageradas. Cheguei ao ponto de ter grandes dificuldades de locomoção e comecei sofrer com problemas de pressão e colesterol”, conta.

O analista de sistemas resolveu recorrer a especialistas para mudar radicalmente sua rotina, costumes e, principalmente, recuperar o bem-estar e uma vida saudável. “Tinha percebido que estava deixando minha saúde de lado e que já tinha passado da hora de emagrecer e mudar minha vida”, constatou.

Após passar por algumas avaliações iniciou um tratamento intensivo e nem chegou a pensar em cirurgia bariátrica, ao perceber que o problema estava em seus hábitos diários.

Após passar por esta verdadeira transformação, o analista afirma que as mudanças, além de proporcionar a perda de peso, lhe trouxeram mais qualidade de vida.

“É importante que você tenha força de vontade, trace objetivos, goste de você mesmo e, também, dos seus familiares, pois são eles que estão sempre do nosso lado e se preocupam com a nossa saúde”, comemora.

Mudança de rumo

Maria Fernanda Araújo Cordeiro Merling tem 45 anos e é executiva de contas de uma agência de turismo. Mãe de três filhos, Maria chegou a pesar 103 quilos depois de sua terceira gravidez, e nunca mais conseguiu emagrecer.

Os problemas com a saúde começaram a aparecer, como hipertensão, varizes, problemas na vesícula, entre outros. Com IMC superior a 40, ela buscou a ajuda de médicos e conversou com um cirurgião bariátrico.

Fez todos os exames pré-operatórios, inclusive o tratamento psicológico, o qual julgou fundamental. “A pessoa precisa estar disposta a mudar totalmente o rumo da sua vida”, reconhece.

Em junho de 2007 fez a sua cirurgia e manteve o acompanhamento multidisciplinar com as diversas áreas da saúde. O resultado foi a perda de 49 quilos em dois anos.

A conscientização dos prós e contras da cirurgia bariátrica levou a executiva a escrever o livro Uma Decisão de Peso – O que você precisa saber sobre a cirurgia de redução de estômago.

Além de contar sobre sua experiência, o livro traz depoimentos tanto de especialistas da saúde que acompanham este ato cirúrgico, quanto o de pacientes bem e mal sucedidos com a cirurgia.