O dilema da primeira consulta com o ginecologista

menina180707.jpgCarolina, 12 anos de idade, anda bastante angustiada. É que está chegando o dia da sua primeira consulta com um ginecologista, e ela não se sente nem um pouco confortável para esse compromisso. ?Esta preocupação é muito natural?, dizem os especialistas, salientando que, dependendo da maneira que a adolescente encara a situação, ela pode se tornar um verdadeiro suplício. ?Agradável não é, mas também não é algo desesperador?, garante a pediatra Lucimara Baggio, enfatizando que o sucesso deste primeiro encontro é muito importante para que se crie um vínculo duradouro entre o médico e a paciente.

Para a especialista em adolescentes, os pais e a própria menina devem compreender que existem situações muito mais difíceis do que essa e que a prevenção é essencial para a garantia da saúde e da qualidade de vida. A Sociedade Brasileira de Ginecologia na Infância e Adolescência recomenda que a primeira consulta seja feita logo após a primeira menstruação, mas sabemos que nem sempre é isso que acontece. São várias as razões alegadas para adiar esse momento: medo do que vai acontecer lá, vergonha, falta de acesso a um serviço de saúde, medo de que a mãe descubra e por aí vai. A médica diz que é nessa hora que o corpo feminino começa a se transformar e surgem as principais dúvidas. Além disso, a fase coincide e marca simbolicamente o período evolutivo da mulher, ou seja, a passagem da infância para a adolescência. ?Período bastante oportuno para receber esse tipo de orientação?, frisa.

Sentimentos aflorados

O professor do departamento de Clínica Médica da Universidade de São Paulo, MÍlton de Arruda Martins, diz que uma consulta médica é o encontro de duas pessoas que têm necessidades, expectativas e valores diferentes. De um lado o médico, detentor do conhecimento que promoverá os cuidados com a saúde, e do outro, a paciente que chega insegura, angustiada e fragilizada. Ainda mais sendo a primeira vez. ?Daí, estes sentimentos ficam mais aflorados?, comprova.

No consultório, muitas sensações podem causar insegurança na menina. A sala de espera, o médico, o silêncio. ?A menina que ali se apresenta, não chega com algum tipo de sofrimento físico, ela chega com todo o seu ser?, reconhece Martins. A compreensão desta dimensão, ainda mais em se tratando da especialidade ginecologia, na qual a paciente precisa dar permissão ao médico para tocar seu corpo de forma íntima, ganha contornos cruciais. ?Podemos imaginar a habilidade e a delicadeza necessárias para que o profissional efetue um atendimento mais humano e adequado?, completa o médico.

Mas afinal, o que acontece nessa primeira consulta? A ginecologista Mariana Maldonado explica que a intenção nesse momento é conversar com a menina para saber que tipo de orientações precisa e fazer os exames necessários ao acompanhamento de seu crescimento e desenvolvimento. São avaliados o peso, a altura, o desenvolvimento dos seios e dos pêlos, tanto os da axila quanto os pubianos. ?Tudo isso para ver se estão dentro do esperado para a idade?, esclarece.

Sozinhas no consultório

Muitas meninas iniciam a vida sexual sem saber como usar um método anticoncepcional corretamente. Pior ainda quando começam a usar pílulas sozinha ou porque a amiga toma e ensina, sem saber se pode ou se não pode usar. A especialista reconhece que é muito importante encontrar um ginecologista em que a menina possa confiar para fazer seu acompanhamento. Esse é o melhor momento para perguntar, tirar dúvidas e começar a construir um vínculo necessário para que o profissional a ajude a cuidar melhor da saúde.

Mesmo que torne angustiante, muitos terapeutas orientam para que as mães deixem suas filhas sozinhas na sala com o médico. ?Isto influenciará na sua auto-afirmação?, dizem. Sentindo-se assim, a adolescente poderá explicar melhor o que sente e reconhecer a importância do autocuidado com a saúde e, assim, dar um passo importante para tomar conta da sua própria vida. Até mesmo os cuidados com os medicamentos devem ficar sob a responsabilidade dos jovens. No entender de Lucimara, os pais podem participar esclarecendo sobre alguma dúvida ou acompanhando algum tratamento. ?Sem pressionar, é claro?, completa.

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