Novo medicamento traz mais esperanças para quem sofre de anemia crônica

Aos 6 anos de idade, a menina Tatiana B. já tem um histórico de transfusões de sangue que espanta qualquer pessoa. Com um ano de idade a menina teve diagnosticada uma anemia crônica: a talassemia, uma doença sangüínea caracterizada pela deficiência na produção de hemoglobina, parte dos glóbulos vermelhos que transporta oxigênio. Na sua forma mais grave, a doença pode provocar icterícia, aumento do fígado e do baço. Assim, a partir dos três anos de idade, sua rotina inclui as desagradáveis transfusões de sangue. Sua mãe, Cristina, não gosta nem de lembrar do ritual pelo qual sua filha passou. ?Uma vida de sofrimento e desesperança?, diz resignada.

De caráter hereditário, doenças como a talassemia, síndromes mielodisplásicas e a anemia falciforme exigem cuidados rigorosos e controle periódico do excesso de ferro que se acumula no organismo dos pacientes, num processo incômodo e doloroso conhecido como quelação, um tratamento que envolve uma série de infusões intravenosas com substâncias químicas. Sem elas, as pessoas correm o risco de prejudicar órgãos vitais, como o coração, fígado, glândulas endócrinas e outros órgãos, podendo levar à morte.

Fim da ?bombinha?

Até hoje, a única maneira de retirar o excesso de ferro era pelo uso de uma ?bombinha?, cuja agulha fica fixa ao corpo do paciente por até 12 horas, de cinco a sete vezes por semana. O resultado final é satisfatório, mas o método impacta a qualidade de vida do paciente. ?É um sacrifício enorme, principalmente para as crianças, que precisam passar pelo procedimento quase que diariamente?, resume Carlos Chiattone, presidente da Sociedade Brasileira de Hematologia e Hemoterapia (SBHH). O médico atesta que, pela dificuldade, muitos pacientes acabam abandonando o tratamento e ficam sujeitos aos graves efeitos do excesso de ferro no organismo.

No recente Congresso Brasileiro de Hematologia e Hemoterapia, realizado em Recife, foi lançado um novo tratamento que promete substituir a terapia quelante. Trata-se do primeiro medicamento oral de administração diária para a sobrecarga de ferro no organismo. O Exjade, do Laboratório Novartis, vem trazer mais qualidade de vida ao paciente e garante eliminação eficaz do ferro do organismo. ?Com o novo medicamento esperamos que a eliminação de ferro do organismo tenha maior adesão dos pacientes, especialmente os pediátricos?, destaca o hematologista Aderson Araújo.

Para Merula Steagall, portadora de talassemia e dirigente da Associação Brasileira de Talassemia (Abrasta), ?a chegada de um tratamento em forma de comprimido representa a realização de um sonho, pois aumentará o acesso ao tratamento, com a redução dos custos e, mais importante, fará com que as pessoas aceitem a terapia?, comemora.

* Nosso jornalista acompanhou o Congresso da SBHH a convite do Laboratório Novartis.

Número de doadores precisa aumentar

?É preciso conscientizar a população para ampliar o número de doadores de sangue, principalmente os fidelizados.? A declaração é de Carlos Chiattone, presidente da SBHH, entidade que reúne profissionais que trabalham nos principais hemocentros do país. No Brasil, o número de doadores de sangue representa apenas 1,7% da população. Segundo a Organização Mundial da Saúde, o ideal seria algo em torno de 3% a 4%. Os homens podem doar de 5 a 6 vezes ao ano e as mulheres de duas a três vezes, sem qualquer tipo de prejuízo para a saúde. Em épocas de feriados prolongados – e este ano foi generoso neste sentido – as doações de sangue têm uma queda que pode chegar a 30%, comprometendo a realização de cirurgias e também o atendimento aos pacientes com doenças crônicas.

Voltar ao topo