Metade da população brasileira está com sobrepeso


João Batista Marchesini:
"A obesidade mórbida carrega com ela problemas psicológicos, como
a perda da auto-estima, ansiedade
e depressão".

No Brasil, 50% dos homens e 51% das mulheres estão com sobrepeso, isto é, o seu índice de massa corpórea (IMC) – valor calculado pela divisão do peso em quilos pela altura em metros elevada ao quadrado – se situa entre 24,9 e 29,9 kg/m. Os dados são de uma pesquisa encomendada pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM) à Toledo e Associados. O estudo foi realizado em 2.179 residências de diversos municípios espalhados pelo País e divulgados no IX Congresso de Cirurgia Bariátrica, em Curitiba.

De acordo com o presidente da entidade, Luiz Vicente Berti, o levantamento revela números surpreendentes sobre obesidade, a doença que mais cresce em todo o mundo. Os índices indicam que, atualmente, 3% da população brasileira é composta por obesos mórbidos. ?São 3,7 milhões de pessoas, sem distinção de classe ou poder econômico que convivem com doenças graves, que podem levar à morte?, adverte o médico. Nesse pesado ranking, os números fazem da região Sul a líder em sobrepeso. Mais de 5% da população tem o IMC acima de 40. ?Para boa parte deles, a cirurgia bariátrica, também conhecida como cirurgia da obesidade mórbida é a única solução?, admite o cirurgião curitibano João Batista Marchesini.

A iniciativa da SBCBM, ao patrocinar a pesquisa, foi mensurar a população que sofre da doença e nortear ações para o tratamento da obesidade mórbida no País. Os resultados estarão disponíveis para que o governo possa direcionar recursos e atuar de maneira mais efetiva nesta que, por muitos é considerada, a verdadeira epidemia do século. ?Não se trata de uma questão estética e sim uma questão de saúde pública, pois o tratamento das doenças associadas à obesidade como diabetes, hipertensão, artrose, entre outras, têm um custo muito alto para a União?, reitera Luiz Vicente Berti.

De subnutridos a obesos

No estudo também foram apurados dados sobre comportamento e hábitos dos indivíduos obesos mórbidos, revelando, entre outros índices, que 43% dos obesos mórbidos mantêm um estilo de vida nada saudável e 82% deles estão insatisfeitos com o peso atual. A dimensão da pesquisa permitiu que fosse feito um verdadeiro mapa da obesidade no Brasil, contabilizando os indivíduos com sobrepeso, obesidade leve e moderada. Descobriu-se que metade da população do Brasil está com sobrepeso. De acordo com Berti, esses números tornam-se ainda mais preocupantes quando se sabe que o sobrepeso leva à obesidade e, esta, por conseqüência, à obesidade mórbida.

Para os especialistas brasileiros, a importação de novos e ?piores? hábitos alimentares contribui em muito para que o país passe por uma espécie de transição nutricional. ?De um país de subnutridos estamos caminhando para um contingente de obesos?, reconhece Henrique Lacerda Suplicy, endocrinologista do Ambulatório de Obesidade do Hospital de Clínicas da UFPR, alertando que para reverter essa expectativa, de difícil controle, somente a prevenção pode contribuir.

Medidas reeducativas

Para o médico, a obesidade é uma doença crônica e como tal deve ser tratada. ?Muito além de um problema estético, o excesso de peso se associa a um grande número de comorbidades e, por isso, deve ser priorizada com urgência na saúde pública?, reitera, salientando que a doença pode ter conseqüências desastrosas. O cirurgião João Batista Marchesini frisa que, além de estar relacionada com o fator físico, a doença causa grande impacto social na vida das pessoas, uma vez que ocasiona, freqüentemente, problemas psicológicos, como por exemplo, perda da auto-estima, ansiedade e depressão.

Suplicy explica que o excesso de peso é fruto da interação entre fatores genéticos e ambientais. Apenas número reduzido de casos se deve a outras causas, como doenças endócrinas, síndromes genéticas ou tumores, por exemplo.

Os especialistas ligados à SBCBM, assim como médicos de outras especialidades envolvidos no tratamento de obesos, considera que o tratamento da obesidade deve passar por uma série de medidas reeducativas. Elas vão desde o comportamento e hábitos alimentares à alteração de estilos de vida sedentários em que a população faz cada vez menos exercícios, ao mesmo tempo em que aumenta o consumo de gorduras. ?A pesquisa comprovou que o brasileiro se alimenta mal, come rápido e, quando tem tempo de preparar a própria alimentação, o faz de maneira inadequada?, adverte Luiz Berti.

A cirurgia bariátrica pode ser a saída para pacientes que não conseguem controlar o diabetes, um dos maiores desafios da medicina. Desde o começo do ano, pacientes obesos, que sofrem da doença, foram submetidos a cirurgia que isola o duodeno – primeira parte do intestino delgado, onde sucos digestivos atuam nos alimentos. Na maioria deles foi constatada uma melhora na produção e a qualidade da ação de insulina – hormônio que tira a glicose do sangue e leva para o interior das células. Cerca de 60% dos pacientes têm controlado a doença sem medicação e um percentual extremamente baixo teve complicações menores, como enjôos.

Eles se encontram com os sintomas do diabetes controlados sem as aplicações e tomam apenas medicamentos orais. ?Apesar de iniciais, os resultados são muito animadores?, diz Ricardo Cohen, cirurgião do aparelho digestivo e especialista em cirurgia bariátrica. Endocrinologistas e especialistas em diabetes opinam que é ainda cedo para recomendar as cirurgias para todos os pacientes. De acordo com Cohen, eles precisam se encaixar no perfil de candidatos à cirurgia. ?Temos que considerar os riscos envolvidos em toda operação. Também precisamos saber como estarão os pacientes daqui a cinco ou dez anos?, avalia.

Cirurgia bariátrica

A obesidade mórbida vem sendo tratada com sucesso há algum tempo por meio das cirurgias bariátricas que proporcionam uma acentuada e duradoura perda de peso, reduzindo as taxas de mortalidade e resolvendo, ou minimizando, uma série de comorbidades associadas à doença. O procedimento é indicado para pacientes obesos, já submetidos a vários tratamentos para perda de peso, com orientação médica, sem obter sucesso ou que voltaram a adquirir peso. Também devem apresentar IMC igual ou superior a 40 kg/m². Pacientes com índice entre 35 e 40 kg/m², com comorbidades que só se reduzirão com a perda de peso, também são candidatos à cirurgia.

No IX Congresso de Cirurgia Bariátrica, realizado em Curitiba, quase mil médicos brasileiros, além de especialistas de outros países, discutiram as novas aplicações da cirurgia e avanços das técnicas utilizadas, entre outros temas relevantes. João Batista Marchesini destaca o debate sobre o uso da cirurgia metabólica para combater o diabetes. "Os resultados são animadores, mas não temos um protocolo firmado sobre esse procedimento", adianta. Também ganharam destaque as cirurgias minimamente invasivas que reduzem os principais riscos e incovenientes.

O paciente pode, portanto, obter alta precoce, com pouca dor pós-operatória, minimizando a possibilidade de complicações e acelerando o retorno às atividades do dia-a-dia.

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