Medicina do trabalho: nas nuvens

Você até se interessa por prestar atenção no que está fazendo, mas quando dá por si, percebe que sua mente está longe, mergulhada em imagens de algum outro lugar. Isso acontece todos os dias com trabalhadores ou estudantes, e se torna um distúrbio, conhecido por presenteísmo, quando se repete com freqüência. ?O incômodo não é considerado uma doença, mas um conceito. Ele pode causar queda no desempenho e na produtividade, além de isolamento social?, diz o clínico-geral Marcelo Dratcu, especialista em Medicina Comportamental.

O nome pode até soar estranho, mas presenteísmo é definido pela pessoa estar presente fisicamente no ambiente de trabalho ou na sala de aula, porém sem nada produzir. Por falta de engajamento, motivação ou por problemas de saúde física e psíquica, o trabalhador pode estar mentalmente e emocionalmente ausente. De acordo com o especialista, o distúrbio é considerado um dos sintomas que antecedem o estresse ou a depressão, afetando negativamente a produtividade do profissional.

Seus primeiros sintomas físicos (dores de cabeça ou nas costas, irritação, letargia, cansaço, ansiedade, angústia, depressão, insônia e distúrbios gastrointestinais) quase sempre passam despercebidos, e só começam a ser mais notados quando os níveis de estresse permanecem em alta por muito tempo, e a desconcentração e o desânimo passa a tomar conta do dia-a-dia da pessoa. Esse é um problema que vem ocorrendo atualmente dentro das empresas e que tem chamado a atenção daqueles que atuam na área de gestão de pessoas.

Programas organizacionais

No entender de Marcelo Dratcu, a situação atrapalha a produtividade, já que essas pessoas podem ?contaminar? de forma negativa o desempenho de toda uma equipe. ?O presenteísmo pode causar maior queda de produtividade do que o absenteísmo (a ausência do profissional na empresa)?, reconhece o médico, salientando que o distúrbio é pouco diagnosticado, pois apenas uma pequena parcela dos trabalhadores busca auxílio. Com efeito, é muito difícil quantificar as causas e as conseqüências físicas e emocionais de se estar ?mais ou menos? presente.

Para o especialista, muitas

vezes esta pressão precisa ser dividida com um médico e um terapeuta. No entanto, ele lembra que nem sempre a infelicidade no trabalho significa que é necessário mudar tudo. ?Problemas organizacionais nas empresas também podem ser parte da causa, e os departamentos de recursos humanos devem participar da solução, alocando talentos em suas devidas áreas?, explica Dratcu. As empresas também podem ajudar com programas de qualidade de vida efetivos, que consigam mapear e monitorar o nível de estresse e de (in)satisfação de seus colaboradores.

Terapia cognitiva, uma aliada

Além do uso de medicamentos, há também o tratamento por meio da terapia cognitiva, um conjunto de técnicas que visa detectar e tratar crenças negativas e estruturas distorcidas de pensamentos, chamados de erros cognitivos. O paciente é levado a reconhecer esses distúrbios e reelaborá-los, criando pensamentos mais reais e positivos. O tratamento engloba exercícios mentais que ajudam a melhorar comportamentos prejudiciais, como sedentarismo, tabagismo e má alimentação, entre outros. O foco do terapeuta também é direcionado para o controle da ansiedade, depressão, estresse, má comunicação e dificuldades de relacionamento. As técnicas comportamentais podem, ainda, envolver vários tipos de exercícios de relaxamento, hipnose e meditação.

Após o tratamento comportamental, a pessoa terá equilíbrio para identificar qual motivo o levou ao presenteísmo. “Assim poderá definir seu posicionamento no trabalho, melhorar seu desempenho e contribuir para o aumento da produtividade na empresa”, conclui o especialista.

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