Exame de visão funcional mostra como o motorista reage a reflexos

Quando o assunto é trânsito, qualquer milésimo de segundo faz diferença na hora de evitar um acidente. Pessoas que possuem distúrbios na visão percebem o perigo com aproximadamente meio segundo de atraso, o que significa 14m a mais de distância para frenagem, num veículo a 90 km/h. Não é preciso ser especialista para saber que, quanto mais cedo o perigo é detectado, maiores são as possibilidades de reação.

Confundir ou não enxergar algumas cores, ter dificuldades em ver à noite, sob neblina ou exposto à luz frontal são alguns dos problemas de visão que podem ser fatais. Um motorista daltônico, por exemplo, que não enxerga o vermelho, pode perder preciosos segundos para observar que o motorista à sua frente pisou no freio, ou que o semáforo está fechado. Quem não tem uma visão tridimensional bem desenvolvida, comprometendo assim sua noção de profundidade, também corre riscos na direção e ainda submete outras pessoas ao perigo.

Segundo a diretora do Hospital de Olhos e médica oftalmologista Márcia Guimarães, especialista em qualidade da visão e com doutorado neste assunto, as cores são fundamentais na visão operacional porque contribuem para que o cérebro ?julgue? a posição dos objetos pela sombra que projetam. ?Quando olhamos as montanhas, à medida em que nosso olhar se alonga pela paisagem sabemos que as mais distantes são as que têm coloração mais escura ou acinzentada, enquanto que as mais próximas guardam os detalhes e matizes mais nítidos e claros das tonalidades de verde?, ressalta.

De acordo com ela, os daltônicos confundem o vermelho e o verde, transformando suas informações visuais de luz e sombra à distância e comprometendo assim sua avaliação de distância e profundidade tanto sob a luz do dia (menos grave) quanto à noite (maior risco). ?Imagine esta restrição adicionada ao fato de dirigirem veículos com filmes nas janelas laterais e traseiras e, muitas vezes, até no parabrisa! Certamente o Conselho Nacional de Trânsito, quando aprovou os filmes para revestimento dos vidros entendeu as razões de segurança que levam os motoristas a adotá-los, porém, para aqueles portadores de protanopia (deficiência de percepção da cor vermelha) as conseqüências e risco tornam-se muito maiores, bem como para quem cruza com eles pelas estradas e ruas mal iluminadas?, considera.

Discromatopsias

Estima-se que 5,7% dos homens sejam portadores de daltonismo ou discromatopsias congênitas (disfunção na percepção de cores), normalmente transmitidas entre os membros de uma família, por ser uma doença tipicamente de origem genética. Já, as mulheres são muito raramente afetadas porque, para que isso ocorra, tanto a mãe quanto o pai devem ser portadores do gene alterado. Quando isto acontece, porém, apresentam de forma mais grave: a acromatopsia ou visão entre o preto, o branco e as tonalidades em cinza. Por outro lado, elas registram maior incidência de alterações adquiridas na visão de cores, ou seja, as que aparecem na fase adulta, pelo uso de medicamentos, por exemplo, que produzem a perda progressiva na percepção de certas tonalidades, ou exposição a substâncias químicas como anilinas, solventes, etc.

Márcia Guimarães explica que muitas vezes os distúrbios de visão são sutis e imperceptíveis. Isso acontece pelo fato da pessoa conviver com o problema desde o nascimento ou o adquirir lentamente o distúrbio, o que faz com que ela não perceba que tem a visão alterada.

Um exame multifuncional pioneiro realizado pelo Hospital de Olhos identifica com perfeição se as habilidades visuais da pessoa são compatíveis com as exigências profissionais ou suas atividades da vida diária, verificando se o motorista está capacitado para lidar com as mais imprevisíveis situações no trânsito. Além disso, permite saber se a pessoa está catalogando corretamente as informações e se está apta a manusear máquinas e equipamentos que requerem uma boa visão de detalhes ou à distância, como tratores e empilhadeiras.

O teste de visão funcional detecta exatamente como as pessoas enxergam, como é o campo visual, a capacidade e velocidade de reação a reflexos, a percepção de cores e a capacidade de leitura dinâmica, entre outras situações. São cerca de 15 testes que avaliam as vergências, capacidade de diferenciar contrastes, cores e profundidade (estereopsia), entre outras.

O tradicional exame oftalmológico, baseado na leitura de letras ou números cada vez menores, mede apenas a quantidade da visão, sem aferir a qualidade. O teste de Snellen, como é chamado, tem 160 anos de aplicação na medicina ocular e está, obviamente, muito ultrapassado em relação às demandas visuais ? embora ainda esteja sendo usado por centenas de consultórios. Márcia Guimarães explica que o teste avalia somente um dos aspectos da visão com objetos de alto contraste ? preto no branco ? e imóveis.

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