Dor: Só quem sente é que sabe

Uma experiência física e emocional desagradável, associada a uma lesão tecidual real ou potencial, podendo ser descrita nos termos da tal lesão.? Esta definição acadêmica da dor pode ser substituída por uma conclusão simples e popular: ?A dor é uma experiência íntima e subjetiva, cuja informação só pode ser confirmada pelo próprio sofredor?. Em tempos em que a expectativa de vida tem seus índices aumentados seguidamente, promovendo um envelhecimento da população e uma maior incidência de doenças e de dores por elas ocasionadas, especialistas reconhecem que investir para diminuir tal sofrimento é um imperativo ético.

O neurogeriatra e especialista em dor Luiz Carlos Benthien, do Hospital São Lucas, diz que diversas entidades médicas mundiais reconhecem a importância de se registrar e mensurar a dor tanto aguda quanto crônica. ?Assim, em decorrência dessa ênfase recomendam que os pacientes, já na sua admissão para tratamento, sejam questionados se estão sentindo dor?, atesta, completando que durante todas as fases da evolução clínica do tratamento a mesma pergunta deve ser efetuada.

O médico, que faz parte da Sociedade Brasileira de Estudos da Dor (SBED), reconhece que os profissionais e as instituições de saúde devem ofertar à população meios e condições para que tal sofrimento não exista ou seja minimizado. Para isso, a SBED vem apoiando a criação de unidades de dor crônica em todos os hospitais do país. ?Cerca de 40% deles dispõem de, pelo menos, algum médico que entende de dor?, comenta. O objetivo é ampliar esse atendimento, não só com a criação desses serviços, mas por meio de palestras e treinamento despertar o interesse de outros profissionais para o tema. ?Atualmente, apenas 2,4% dos médicos têm acesso adequado ao tratamento da dor?, admite.

Questionário

Na prática, todos os doentes atendidos devem ser orientados a expressar seu desconforto doloroso em escalas de mensuração, cujo objetivo é armazenar dados que possam orientar as condutas médicas. Esse questionário deve ser anexado ao prontuário do paciente. ?Com essa simples rotina é possível determinar se os riscos de um certo tratamento podem superar os danos causados pelo próprio problema clínico?, esclarece, explicando que a eficiência de tal medida facilita a condução do tratamento.

O ideal, segundo Benthien, é que a instituição mantenha um método de atendimento multidisciplinar, em que psicólogos, anestesiologistas, neurologistas, enfermeiros, fisioterapeutas e neurocirurgiões, entre outros, se mantenham informados e atuem verdadeiramente em cada caso. O neurogeriatra explica que a dor é um fenômeno que se caracteriza por sua intensidade ou pela sua periodicidade. Ela pode ser aguda e passar rapidamente, ou, ainda, se tornar crônica e persistente. ?A dor exige uma abordagem que contemple não somente o tratamento de suas causas, mas, também, os cuidados com as conseqüências psicológicas e sociais a ela inerentes?, sintetiza.

O anestesiologista Ayrton de Andrade Júnior também constata que, a princípio, todo médico deveria saber lidar com a dor, mas isso é difícil de se encontrar na prática. Existem dores difíceis de ser tratadas e que necessitam de especialistas com maior conhecimento na área. Também existem médicos especialistas amparados pela experiência de vários anos de tratamento. A partir deles surgiram as clínicas de dor, que se dedicam a tratar o distúrbio quando ele passa de sintoma a ser a própria doença.

Andrade Júnior realça que o médico não deve abandonar o paciente à sua própria sorte. Deve utilizar todos os meios farmacológicos disponíveis ou mesmo encaminhar o seu paciente para um especialista em dor. ?O não-tratamento da dor pode ser considerado uma negligência médica, e todos os pacientes merecem nosso respeito e esforço para que tenham a sua dor amenizada?, completa Benthien.

Os números da dor

* 50 milhões de pessoas sofrem de dor crônica no Brasil.

* Mais de 80% da população mundial e perto de 45 milhões de brasileiros terão, ao menos, algum episódio de dor ao longo da vida.

* O número de mulheres que sofrem de enxaqueca é o dobro do que o de homens.

* A maioria dos doentes de câncer apresenta dor intensa ou insuportável.

* Existem registrados cerca de 200 tipos de dor de cabeça.

Para cada tipo de dor uma causa

DOR DE CABEÇA – Pode surgir quando a pessoa não se alimenta adequadamente, pelo estresse no trabalho ou depois de muitas horas de sono.

LER/DORT ? São lesões por esforço repetitivo que acometem pessoas que trabalham por diversas horas sem qualquer descanso.

LESÕES MUSCULARES ? São provocadas por traumas, pancadas, torções ou fraturas.

COLUNA – Geralmente é produzida por má postura, excesso de peso ou carga, traumatismos provenientes de quedas e outros acidentes.

DOR OROFACIAL (na mandíbula e no rosto) ? É ocasionada por algum tipo de traumatismo, estresse, infecções, problemas na mastigação e postura corporal, entre outros.

FIBROMIALGIA ? É a mais difícil de ser diagnosticada, já que nenhum tipo de exame aponta o problema.

ARTROSE ? É uma doença degenerativa das articulações. Ataca a coluna cervical e lombar, os joelhos, os quadris – tende a provocar ciática, dor que se irradia para as pernas – e as pequenas articulações dos dedos das mãos.

ONCOLÓGICA ? Ocorre em decorrência do câncer e das complicações pós-cirúrgicas.

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