Doenças psiquiátricas exigem apoio familiar

Encontrar e seguir o tratamento adequado, além do apoio da família, pode garantir melhora na qualidade de vida de portadores de doenças psquiátricas graves.

É o que aponta um estudo realizado com quase 700 psiquiatras da Europa e dos Estados Unidos, que teve por objetivo conhecer a vida social e clínica dos doentes mentais graves – pessoas que sofrem de esquizofrenia e perturbação bipolar.

Assim, esses pacientes podem ter vidas produtivas e plenas desde que limitações na busca pela saúde em longo prazo, incluindo o preconceito, a escassez de recursos e o medo de que haja recaídas e suas conseqüências, sejam banidas.

A conclusão é do estudo Keeping Care Complete, que aborda as difíceis considerações com o cuidado de portadores dessas doenças. O estudo foi desenvolvido em parceria entre a Federação Mundial para a Saúde Mental (WFMH) e a indústria farmacêutica Eli Lilly.

Segundo o secretário-geral da WFMH, Preston Garrison, “mais de 50 milhões de pessoas sofrem de doenças psiquiátricas graves no mundo”. Uma conseqüência indireta dessas doenças é um possível impacto negativo sobre a saúde física e emocional dos próprios familiares que cuidam desses pacientes.

É por essa razão que é tão importante que familiares recebam o apoio necessário para que possam cuidar melhor de seus entes queridos. “A pesquisa representa uma iniciativa imprescindível e está nos ajudando a compreender os verdadeiros desafios enfrentados pelas pessoas responsáveis pelo tratamento, cuidados e por aqueles que sofrem de doenças psiquiátricas graves”, observa Garrison.

Adesão ao tratamento

No Brasil, o Programa de Esquizofrenia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) vem realizando, desde 2005, em serviços de atendimento ambulatorial da rede pública e privada, estudos relacionados a esse programa.

A iniciativa consiste no encontro de grupos semanais com dez a quinze pacientes portadores de transtornos mentais e tem como objetivos promover melhora do padrão alimentar e estimular a prática de atividade física, além de sensibilizar a equipe multidisciplinar, pacientes e seus familiares para as questões ligadas à saúde e a qualidade de vida.

Segundo um dos coordenadores do programa, o psiquiatra Rodrigo Bressan, até o momento, quinze centros brasileiros participam dessa iniciativa, que vem proporcionando, consideravelmente, não só a melhora do quadro psiquiátrico de mais de mil pacientes, mas também melhora na qualidade de vida de seus familiares. “A maioria está alertada e preocupada com a relação entre a adesão à medicação e a sobrecarga familiar que a doença acarreta”, reconhece o médico.

A interrupção de um tratamento psiquiátrico leva ao risco de recaída com um forte impacto negativo no equilíbrio dos doentes, na sua autonomia e no dia-a-dia das suas famílias. “Um tratamento bem sucedido melhora a funcionalidade geral diminuindo a sobrecarga da doença na família”, afirma o psiquiatra.

Bem-estar

Os resultados observados mostraram que o ato de realizar tarefas do cotidiano de forma independente, não estar internado, ter um emprego, morar sozinho e manter um relacionamento afetivo são alguns dos benefícios dos quais os pacientes podem desfrutar caso o tratamento da doença esteja sendo efetivo. Além da medicação, 96% dos psiquiatras observaram que o apoio da família é um fator chave para que o paciente fique bem.

Tanto cuidadores como psiquiatras relataram que programas desenvolvidos para ajudar os pacientes com seu bem-estar, de uma forma geral, são extremamente valiosos no sentido de ajudá-los a lidar com os sintomas da doença. Entretanto, os resultados mostram a necessidade de um número maior de serviços para tratamentos psiquiátricos.

Embora a maioria dos psiquiatras incentive os cuidadores a se engajar em programas educativos e de apoio, 57% relataram que menos de 10% dos cuidadores com quem mantêm contato de fato freqüentam tais programas.

Principais resultados

Conseqüências da recaída entre os cuidadores
* 86% não conseguem trabalhar
* 52% tentam cometer suicídio
* 30% ficam reclusos
* 90% foram internados
* 68% tiveram a saúde física e mental piorada
* 42% comprometeram a sua situação financeira
* 43% não conseguem manter um emprego estável

Não adesão ao tratamento

* 84% relataram que a não adesão ao tratamento é a principal causa de recaída dos pacientes portadores de esquizofrenia
* 98% alegam que a não adesão ao tratamento é um obstáculo à efetividade do tratamento de pacientes bipolares
* 93% relataram que precisam de mais opções de tratamento para diminuir o risco de recaída
* 99% disseram que a descontinuação da medicação levou à recaída
* 94% relataram que eficácia é a questão primordial ao considerar as opções de tratamento de seus pacientes

Fatores-chave para se obter o bem-estar

* 96% – Apoio da família
* 91% – Apoio da comunidade
* 85% – Abordagens/ técnicas de psicoterapia
* 87% – Estabelecimento de rotinas