Desinformação ajuda no aumento do câncer bucal

Curitibanos que passaram ontem pela Boca Maldita, no centro da cidade, tiveram a oportunidade de se submeter a exames e receber informações sobre o câncer de boca. A doença, segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), atingiu, no ano passado, 11,06 pessoas a cada 100 mil habitantes do Paraná e 13,06 pessoas a cada 100 mil de Curitiba.

“O número parece não ser alto, mas poderia ser bem menor se fosse feito o preventivo”, comentou o cirurgião buco-maxilo-facial Laurindo Moacir Sassi, coordenador do Serviço de Odontologia do Hospital Erasto Gaertner (HEG). O objetivo, segundo ele, era atender entre 300 e 500 pessoas ontem durante a Campanha do Câncer Bucal, que aconteceu o dia todo.

Umas das questões que mais chamam a atenção é a demora com que o câncer bucal é diagnosticado. Segundo o médico, apenas 0,1% inicia o tratamento ainda na fase inicial. Cerca de 14,2% começa o tratamento na fase II – quando o tumor mede aproximadamente 2 cm – , 15,8% na fase III, enquanto a grande maioria (37,5%) só recorre ao médico especialista quando o tumor está no estágio mais avançado (fase IV). “Essa é a fase mais crítica, quando o tumor já está bem evoluído. Não queremos receber no hospital apenas este tipo de paciente, mas aquele que detecte o problema logo no início.”

Avaliação feita pelo Serviço de Odontologia do HEF indica que no atendimento prestado a 9.586 pacientes do hospital, o câncer de boca representa 10,3% em relações a outros tipos de câncer tratado. “Esse número vem aumentando muito. Não é como o câncer de mama, por exemplo, que já vem sendo controlado através de campanhas. Falta essa conscientização no câncer bucal, faltam campanhas”, lamentou.

Outro fato assustador é a quantidade de pessoas que não vão ao consultório odontológico. Levantamento do período de 1989 a 1997 indica que 31,4% dos curitibanos não vão ao dentista, mesmo com dor. “Não entendo como isso acontece com tantos postos de saúde espalhados pela cidade”, comentou. Além disso, cerca de 20% da população, com base em 3.134 pacientes pesquisados, nunca ouviram falar sobre a importância da prevenção. “Nosso objetivo é atingir essas pessoas, que não têm informações.”

Auto-exame

A prevenção do câncer bucal, lembrou o cirurgião Laurindo Sassi, é tão simples que não requer qualquer habilidade médica. “O auto-exame deveria ser feito rotineiramente, como escovar os dentes ou pentear o cabelo. Em frente ao espelho, com o auxílio de uma colher, deve-se olhar o interior da boca, à procura de manchas brancas ou vermelhas, verrugas. Qualquer alteração, deve-se procurar um médico ou dentista”, orientou.

Fatores de risco e sinais iniciais

Fumar e mascar tabaco. Nos fumantes de cachimbo, o risco é ainda maior. Ingerir bebidas alcoólicas, principalmente vinho e cachaça; próteses mal ajustadas; dentes quebrados, amolecidos e cariados; hábito de morder internamente a boca (lábios, língua, bochechas); falta de higiene bucal (escovação); alimentação pobre em frutas e verduras; não ir ao dentista.

O que procurar durante o auto-exame: mudanças na cor da pele e mucosa (parte interna da boca); Manchas brancas ou vermelhas que não desaparecem; feridas que não cicatrizam – aftas prolongadas, áreas irritadas por próteses; Verrugas; caroços ou ínguas no pescoço; inchaços; areas dormentes; dentes moles, quebrados, cariados; dificuldade de movimentar a língua e engolir. (LS)

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