Depressão influencia a libido feminina

Metade das mulheres que procuram tratamento psiquiátrico sofre de baixo desejo sexual.

Entre elas, 40% estão ou já estiveram em tratamento para depressão. Até recentemente, a disfunção sexual decorrente de tratamento antidepressivo também prejudicava a adesão ao tratamento.

Em 2008, o Estudo Mosaico Brasil avaliou o comportamento afetivo-sexual de mais de 8.200 brasileiros, 49% do sexo feminino.

Comparando as mulheres participantes na faixa etária de 41 a 50 anos em tratamento para depressão com aquelas que não estavam em tratamento, observou-se que havia 22,6% delas com inibição de excitação sexual entre as que estavam em tratamento, contra 15,4% entre as que não estavam.

“A depressão causa desânimo e desinteresse geral, além de afetar a produção e a liberação de hormônios sexuais, o que interfere diretamente sobre a libido feminina”, afirma Carmita Abdo, psiquiatra e coordenadora do ProSex (Projeto Sexualidade) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo, que estuda o comportamento e os problemas sexuais em homens e mulheres há mais de três décadas.

Novos medicamentos

Até recentemente, a disfunção sexual decorrente de tratamento antidepressivo também prejudicava a adesão ao tratamento. Estudos demonstram que a disfunção sexual atinge de 30% a 70% dos pacientes que tomam antidepressivos, sendo uma das causas de abandono ao tratamento e ao medicamento já a partir do primeiro mês.

“Há uma nova geração de medicamentos que minimiza esse efeito indesejável, o que pode contribuir para aumentar a adesão ao tratamento”, afirma a psiquiatra, reconhecendo esse grande avanço, “pois a interrupção prematura da medicação pode levar a um aumento de casos de recorrência dos quadros depressivos”.

A chegada ao mercado do novo antidepressivo (desvenlafaxina) deve aumentar a aceitação do tratamento da depressão, em especial entre as mulheres, por possuir baixos índices de efeitos colaterais, além de baixa probabilidade de interação medicamentosa.

Estima-se que 17 milhões de pessoas tenham depressão no Brasil, ou seja, perto de 10% da população. O problema é mais prevalente entre as mulheres. Estatísticas mundiais apontam que elas sofrem duas vezes mais com o distúrbio do que os homens.

Uma das razões são as flutuações hormonais, mais pronunciadas em sua fase reprodutiva. Segundo a psiquiatra, os períodos de oscilação dos hormônios, como ciclo menstrual, gravidez, pós-parto e menopausa coincidem com os picos de incidência de depressão nas mulheres.

Valorização dos sintomas

“A depressão, quando não tratada, pode comprometer vários aspectos da vida, tais como o profissional, o emocional, os relacionamentos e até a vida a dois”, confirma.

Por isso, a relevância do diagnóstico seguro e da adesão total do paciente ao tratamento adequado.

Uma pesquisa do Ibope realizada com 1.100 mulheres em oito cidades da América Latina aponta que os aspectos funcionais da depressão são subestimados.

Em 78% das entrevistadas, tristeza, melancolia e desânimo são os sintomas mais associados à depressão.

Alterações no sono e perda do desejo sexual aparecem no outro extremo, cada qual com 3% das citações.

“As pessoas relacionam depressão à sensação de tristeza ou angústia. Entretanto, a depressão pode ser a causa da pouca vontade de fazer sexo ou do isolamento afetivo e social”, afirma a psiquiatra, destacando a importância de estar atento também para os sintomas funcionais da depressão.

A doença

A depressão é um transtorno mental comum, que é diferente de “sentir-se triste”, e não é algo que as pessoas conseguem simplesmente “superar”. A doença, que tem como base a alteração de substâncias químicas no cérebro, é caracterizada por sintomas persistentes, como humor, depressivo e/ou deprimido, alterações de apetite e/ou de peso, baixo desejo sexual, alterações dos padrões do sono, agitação ou retardamento psicomotor, fadiga ou falta de energia, sentimentos de inutilidade ou culpa sem nenhum motivo consistente, dificuldade de raciocinar ou de se concentrar, pensamentos de morte ou suicídio.

A depressão tem forte impacto social e econômico na vida dos pacientes e seus familiares, especialmente se considerado o pico de incidência: entre 35 e 44 anos, período mais produtivo de homens e mulheres.

Mitos e verdades sobre a depressão

É uma doença de pessoas frágeis. Mito. Este é um erro comum que ainda impede muitas pessoas de buscarem o tratamento adequado para a depressão. A doença é caracterizada por um conjunto de sintomas específicos, de gravidade e duração significativas, estando relacionada a um desequilíbrio neuroquímico já bem estabelecido pela ciência.

Está sempre relacionada a um fator emocional. Mito. Embora os fatores emocionais, como morte de alguém na família ou uma separação possam desencadear o problema, nem sempre serão um gatilho para a depressão.

Tem cura. Depende. Em alguns casos, com tratamento correto, é possível, sim, o paciente se tratar e não voltar a ter mais o problema. Em outras pessoas, o tratamento correto proporcionará alívio dos sintomas e tornará bem menos frequente o aparecimento dos episódios agudos.

O tratamento é muito demorado. Depende. O tratamento tem dois objetivos principais: combater os sintomas e fazer com que ele volte à sua vida normal e impedir que a depressão retorne. O tratamento completo dura no mínimo de seis meses a mais de um ano, dependendo do transtorno que o paciente apresenta.

Afeta mais as mulheres. Verdade.  A depressão é uma doença que atinge até duas vezes mais mulheres do que homens. Os motivos podem estar relacionados ao papel do hormônio estrogênio, já que as mulheres são mais suscetíveis às variações hormonais.

Todo medicamento compromete a libido. Depende. Antidepressivos podem levar à disfunção sexual, como, a perda ou diminuição da libido. A frequência com que isto ocorre varia de acordo com a droga escolhida e com a resposta do paciente.

Engorda. Mito. Embora este seja um dos efeitos colaterais mais relatados, o que muitas vezes leva o paciente, principalmente mulheres, a abandonarem o tratamento, não é possível afirmar que todas as pessoas que fazem uso
de medicamentos para depressão engordam.

Antidepressivos alteram o comportamento. Mito. Tais medicamentos não provocam reações extremas de mudanças no comportamento. Por isso, é importante procurar o médico para encontrar o tratamento mais indicado.