Conseqüências da síndrome do pânico

Georgiana tem 22 anos e teve a primeira crise aos oito anos de idade. Como identificar o distúrbio nessa faixa etária é mais complicado, muitas pessoas, inclusive os seus próprios pais, achavam que o que ela sentia era um medo normal de criança.

“Foi uma fase complicada porque queria ser como as outras crianças, mas não conseguia, tinha medo de brincar, de ir para escola, de dormir, de morrer, de perder meus pais e de atravessar a rua, entre muitos outros”, declara.

No caso de Georgiana, que mora em Curitiba, o diagnóstico era síndrome do pânico. Com o tempo os medos foram mudando, mas não deixaram de existir. Há dez anos, a estudante de educação física leva a sério o tratamento indicado por seu médico e tem a doença controlada. “As crises que vão e voltam estão rareando”, comemora. Esses eventos atingem de 2% a 2,5% da população mundial.

Apesar da alta incidência, a doença só foi reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) há poucos anos. Antes, os sintomas muitas vezes eram associados às outras doenças e até chegar ao psiquiatra, o médico especializado para tratar o distúrbio, era comum que os pacientes “peregrinassem” por outros consultórios médicos sem ter o seu diagnóstico confirmado.

“Os sintomas do transtorno do pânico são muito intensos, acima do que poderia ser considerado o limite de ansiedade normal, poderíamos dizer até que esta é a manifestação do grau mais alto de ansiedade”, afirma a psicóloga Adriana de Araújo, especializada no tratamento de fobias.

Atualmente, com a maior divulgação dos sintomas da doença, médicos não especializados e pacientes estão mais familiarizados com os sintomas. Ainda assim, os transtornos do pânico demoram a ser diagnosticados corretamente.

O médico Osmar Ratzke da Sociedade Paranaense de Psiquiatria, comenta que o primeiro ataque de pânico costuma acontecer nos adultos jovens, entre 25 e 40 anos. Assim como em outras doenças psiquiátricas, como depressão, são as mulheres as mais atingidas pela doença. A proporção é de dois casos entre mulheres para um entre os homens.

Ratzke diz que, em geral, o pânico parece surgir do nada e pode ocorrer enquanto a pessoa pratica suas atividades normais, como dirigindo ou caminhando para o trabalho.

“A crise de pânico inicial se dá, geralmente, quando as pessoas se encontram em um elevado nível de estresse, devido, por exemplo, ao excesso de trabalho ou mesmo à perda do emprego”, avalia.

Confinamento

Em geral, segundo relato das pessoas acometidas pela síndrome, instala-se um tipo de “medo de sentir medo”, isto é, o medo de que a crise retorne a qualquer momento.

“A primeira crise nenhum paciente esquece”, observa o psiquiatra. Devido a um processo de associação, sempre que a pessoa se deparar com alguma coisa que lembre aquele primeiro processo pode remeter à situação das crises anteriores e funcionar como um “gatilho” para novas crises. “Pode ser no shopping, no engarrafamento ou mesmo em situações vividas em casa mesmo”, ressalta.

As crises também podem ocorrer após um acidente, cirurgia ou doença grave, além do uso de cocaína ou outras drogas e medicamentos estimulantes. Para o especialista, o grande problema é quando os episódios de pânico se sucedem, afetando seriamente a qualidade de vida dessas pessoas.

“Nessas circunstâncias a tendência é o paciente se deixar confinar no ambiente familiar, evitando o convívio social e perdendo assim todo o contato com o mundo real”, observa Ratzke, salientando que a cura dificilmente se dá de forma espontânea.

As razões que levam ao transtorno permanecem desconhecidas. A genética pode ter um papel importante, bem como influências ambientais, como a educação e episódios que podem ter marcado a vida dos pacientes para sempre.

Os especialistas recomendam o tratamento medicamentoso para combater as crises, visando, numa primeira fase, o restabelecimento do equilíbrio bioquímico do cérebro.

Numa segunda fase, pode se recorrer a um tipo de psicoterapia específica, denominado terapia cognitiva. O objetivo, nesse,s casos, é ajudar o paciente a enfrentar os seus próprios limites e as adversidades com que, com certeza, vai se deparar no decurso da vida.

O CORPO SE PREPARA

Os sintomas físicos de uma crise de pânico aparecem subitamente, sem nenhuma causa aparente, preparando o corpo para algum fato inesperado “que está” por acontecer.

* Contração muscular
* Palpitações
* Tonturas e náuseas
* Boca seca
* Calafrios ou ondas de calor
* Realidade distorcida
* Terror
* Confusão mental
* Vertigens
* Medo de morrer

Nem a top escapa

As notícias dão conta de que a top Gisele Bündchen sofre (ou sofreu) de transtorno de pânico e agora consegue controlar os sintomas da doença – que a incomodava há algum tempo.

As longas viagens de avião teriam virado uma pedra no sapato da top e até contratos estão sendo bem estudados para evitar que tenha que freqüentar ambientes com grandes aglomerações.