As doenças pedem carona nas férias

A época que quase todos esperam ansiosamente está chegando: as férias. Conforme a Organização Mundial do Turismo, na última década, o número de viajantes saltou de 682 milhões para 898 milhões, número que sinaliza a multiplicação de pessoas suscetíveis aos problemas de saúde típicos de viajantes e a rápida disseminação de doenças transmissíveis, muitas evitadas por vacinas.

A globalização e a facilidade de transporte são apontadas como os principais fatores que contribuíram para este crescimento.

A curva ascendente do fluxo de pessoas ao redor do mundo sinaliza o aumento do contingente de pessoas suscetíveis a ter problemas típicos de viajantes e a possibilidade de as doenças transmissíveis se espalharem com maior rapidez.

Nas férias de verão, esses riscos tendem a se tornar maiores por conta da grande circulação de pessoas – seja em viagens aéreas, terrestres ou cruzeiros marítimos.

Leptospirose

Entre as doenças mais comuns em viajantes estão aquelas transmitidas por águas e alimentos contaminados (como hepatite A, febre tifóide e cólera) e as transmitidas por picadas de insetos (como dengue, malária e febre amarela).

Com a tragédia que está acontecendo em Santa Catarina, há um grande aumento no risco de surtos de doenças transmitidas pela água e por alimentos contaminados.

Entre as principais doenças estão a leptospirose (já com alguns casos suspeitos na região), hepatite A e diarréias. O alerta é de Jaime Rocha, infectologista do Frischmann Aisengart / Dasa.

Segundo o especialista, a leptospirose é uma zoonose (doença que se transmite do animal ao homem) de distribuição mundial, mais comum em países em desenvolvimento de clima quente.

O contágio acontece por meio do contato com dejetos animais infectados ou água contaminada, especialmente urina, com os moradores podendo se contaminar por contato direto ou indireto com urina ou sangue de animais.

No Brasil este tipo de doença está relacionado às inundações, quando a urina de ratos contamina os rios e os córregos.

As leptospiras podem penetrar no corpo através de fissuras na pele, membranas mucosas e conjuntiva ou diretamente, pela pele exposta por longos períodos à água contaminada pelo agente.

A doença se instala em até catorze dias da exposição ao agente, causando uma doença aguda com sintomas que variam entre leves e severos e, por vezes, fatais.

“Não é possível saber como cada paciente evoluirá”, afirma o infectologista. Em casos suspeitos de exposição à bactéria, pode-se recomendar medicação profilática, o que ficará a critério das autoridades locais. Outro ponto importante é o diagnóstico e o tratamento precoces.

“Todos os moradores que tiveram suas casas atingidas e que apresentem quadros de febre, dores musculares e dores de cabeça devem procurar ajuda médica e comentar sobre o caso suspeito”, recomenda o médico.

Características locais

De acordo com o roteiro e a característica da viagem, o viajante ainda está sujeito a outras doenças. “O ideal é que a pessoa, antes de viajar, consulte um médico especializado em medicina do viajante que vai avaliar seu estado de saúde, recomendar vacinas e sugerir condutas preventivas de acordo com as características da viagem a ser feita”, afirma o infectologista Marcos Boulos, professor titular do Departamento de Moléstias Infecciosas e Parasitárias e primeiro presidente da recém criada Sociedade Brasileira de Medicina de Viagem. A entidade pretende auxiliar o governo federal a criar medidas de proteção ao viajante.

De uma simples diarréia (mal mais comum entre os turistas) a casos de dengue ou malária, nenhum viajante está livre de ficar doente fora da sua cidade. Como não sabe a quem recorrer, os transtornos podem se tornar ainda maiores.

<,p>Febre amarela, hepatite A, febre tifóide, meningite meningocócica, raiva são outras doenças que podem ser contraídas em lugares com pouca infra-estrutura sanitária e evitadas com a aplicação de vacinas.

Sistema de defesa

“As doenças cardiovasculares ainda são as que mais atingem os viajantes, seguidas das doenças infecciosas e tropicais”, ressalta o infectologista. Segundo estimativas, as diarréias representam em torno de 65% dos problemas de saúde desse grupo, seguidos das infecções respiratórias (mais de 20%) e de febre (15%).

De acordo com a infectologista Luzilma Martins, o objetivo da prevenção é diminuir os riscos de aquisição de doenças durante viagens. A médica explica que estamos acostumados a bactérias e vírus comuns no ambiente em que vivemos.

“Ao viajar, entramos em contato com tipos diferentes para os quais nossa defesa pode demorar a responder, ficando mais suscetíveis a doenças”, reconhece.

Atualmente, pela facilidade de meios de transporte e pela acessibilidade do turismo, mais e mais indivíduos se deslocam para regiões distantes, o que aumenta a possibilidade da transmissão de doenças.

“Por isso a necessidade de proteção principalmente por meio das vacinas disponíveis”, afirma a médica.

Para evitar problemas de saúde, o médico dedicado a esse segmento avalia as condições físicas do paciente antes da partida, daí prescreve um programa de vacinação e informa quais as precauções a serem tomadas.

De acordo com o infectologista Jaime Rocha, o trabalho se desenvolve a partir do local da visita, tempo de permanência, época do ano, meio de transporte, hábitos locais, tipo de turismo desenvolvido (de lazer, negócios, ecoturismo) e características do viajante (origem, idade, doenças preexistentes).

Todo cuidado é pouco

Não existem vacinas contra várias doenças transmitidas por insetos – como dengue e malária, entre outras. No caso da malária, a prevenção é feita com base nas medidas de proteção individual e em medicamentos.

Para as demais doenças, o viajante deve usar sempre um bom repelente (com no mínimo 30% de Deet), sobre o protetor solar, e reaplicar o produto a cada quatro horas.

As doenças transmitidas por alimentos e água são as mais comuns entre os viajantes, com destaque para a diarréia. Para evitar essas doenças, o viajante deve beber apenas líquidos engarrafados industrialmente, nunca tomar nada com gelo, usar copos e canudos, evitar alimentos condimentados, crus ou mal cozidos, comer frutas e legumes bem lavados.

Para se evitar as diarréias provocadas pela bactéria conhecida por ETEC, responsável por 50% dos desarranjos intestinais dos viajantes, existe a vacina internacionalmente conhecida por Dukoral, comercializada no Brasil pela Sanofi Pasteur.

Principais precauções

* Usar somente líquidos engarrafados ou enlatados
* Usar somente água tratada quimicamente, passada por filtros especiais ou fervida
* Preferir alimentos assados e cozidos
* Optar por frutas e vegetais que possam ser descascados
* Lavar as mãos antes e após o preparo de alimentos ou refeições
* Não se pode considerar a água como segura para consumo baseado em aparência, odor ou sabor e, infelizmente, não há métodos totalmente satisfatórios de uso rápido.

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