Ácido úrico em excesso causa gota

Dentre os muitos mitos e crendices populares sobre a medicina, as alterações provenientes do excesso do ácido úrico estão entre as mais disseminadas entre a população.

“Diferente da crença geral, o excesso de ácido úrico não causa descamação de mãos e pés, não aumenta com a ingestão de frutas cítricas e não causa escurecimento da pele no contato com metais de bijuterias”, esclarece o reumatologista Sergio Bontempi Lanzotti.

As histórias e lendas sobre o ácido úrico nos remetem a tempos muito antigos. Hipócrates descreveu casos de gota séculos antes de Cristo. A partir da descrição detalhada dos sintomas articulares causados pela doença, a gota passou a ser conhecida como “a doença dos reis”.

A intoxicação crônica pelo chumbo presente nos alimentos e no vinho talvez tenha sido a causa da epidemia de gota que se disseminou entre os habitantes da Roma antiga, porque o excesso de chumbo interfere no mecanismo de excreção do ácido úrico pelos rins.

Do século XVII ao século XIX, a doença se se constituiu numa verdadeira epidemia. Hoje, existe a compreensão que a gota é causada pelo aumento da concentração sanguínea de ácido úrico, que dá origem a episódios recorrentes de artrite, mediada pela deposição de cristais desse ácido nas articulações.

A substância é proveniente do nosso metabolismo, e essa produção é responsável por 90% de todo o ácido úrico do corpo. O restante, cerca de 10%, provém de dietas.

Dispensa exames

Na maioria das vezes, o que define os níveis de ácido úrico no sangue não é o que as pessoas comem e, sim, a quantidade da substância que elas produzem. “O índice dessa substância não deve ultrapassar o limite máximo de 6,0 mg por 100 ml de sangue nas mulheres e 7,0 mg, nos homens”, explica o reumatologista.

Caso contrário, o excesso de ácido úrico pode exceder a capacidade de solubilidade do sangue, formando os temidos cristais, que vão sendo depositados nos órgãos e nas articulações e que podem levar a um intenso processo inflamatório, com disfunção de órgãos importantes, como os rins, além de inchaço das juntas.

Podemos ter excesso de ácido úrico quando produzimos muito ou quando excretamos pouco esta substância. O quadro de gota é tão característico que o diagnóstico dispensa muitos exames.

Geralmente, o paciente acorda no meio da noite com uma dor lancinante, podendo ocorrer em diversas articulações. “Ele não suporta a colcha em contato com o dedo e, muitas vezes, procura o pronto-socorro no meio da noite por não suportar a intensidade da dor”, ressalta o especialista. O dedo ou a articulação comprometida geralmente ficam inchados e arroxeados devido ao processo inflamatório.

Medicações específicas

A gota é uma doença mais masculina do que feminina, e se manifesta na proporção de nove homens para uma mulher. Nos pacientes assintomáticos, a única forma de fazer o diagnóstico é por meio da dosagem sanguínea do ácido úrico.

A partir da constatação, o reumatologista indica o tratamento mais adequado para cada caso, uma vez que existem remédios tanto para inibir a produção, como para aumentar a excreção do ácido úrico.

Além da gota, o excesso de ácido úrico no sangue pode ser filtrado pelo rim e causar a precipitação dos cristais com a formação de cristais. Do ponto de vista cardiovascular, o excesso de ácido úrico propicia a ocorrência de hipertensão arterial e faz parte dos fatores de risco cardiovasculares que compõem a chamada Síndrome Metabólica.

“Após o aparecimento dos sintomas e da primeira crise de gota diagnosticada é fundamental que o paciente tome medicações específicas e siga um programa de dieta para alcançar a normalização dos níveis de ácido úrico no sangue”, defende o médico.,

Muitas vezes, quando as crises de gota se repetem duas ou mais vezes no ano, há a necessidade do uso contínuo de medicamentos. “Sem o tratamento adequado, o paciente também corre o risco de desenvolver uma inflamação em várias articulações ao mesmo tempo ou até uma destruição das mesmas”, alerta Sérgio Lanzotti.

Para fugir das crises

* Coma crustáceos (camarão, lula, siri e lagosta) com moderação
* Evitar também o repolho, carnes tenras (vitela, frango) e carnes exóticas (javali, rã, jacaré)
* Evitar bebida alcoólica fermentadas
* Mantenha sempre controlado o peso corporal

Orientações nutricionais

Nos casos de elevação discreta e assintomática do ácido úrico, não há necessidade de restrições alimentares específicas, desde que o paciente mantenha o peso normal e o controle dos demais parâmetros metabólicos como a glicose, os triglicérides e o colesterol.

Mas quando os sintomas estão presentes, um ponto essencial no tratamento dos pacientes com gota é seguir uma dieta alimentar equilibrada, que vise a redução do peso e o controle de fatores agravantes, como a hipertensão arterial e o diabetes.

“A dieta se dirige apenas aos casos de gota e doença renais secundárias ao excesso de ácido úrico e se baseia na redução de alguns alimentos ricos em fragmentos protéicos denominados purinas, que são os precursores da formação do ácido úrico no organismo”, explica Sérgio Lanzotti.

Além desta medida, deve-se substituir ou suspender, quando possível, medicamentos que causam a elevação do ácido úrico, como os diuréticos.
Não se justifica a restrição de grãos, frutas cítricas e tomate, como muitos acreditam. “Mas excessos na ingestão de carnes e de frutos do mar estão associados a um risco maior de surgimento de gota”, orienta o reumatologista.

A ingestão de proteínas do leite tem sido considerada um fator redutor do ácido úrico em pessoas saudáveis, devido ao efeito dessas proteínas, facilitando a perda de ácido úrico na urina, reduzindo, assim, seus níveis no sangue.

Alguns estudos sugerem que a proteína vegetal – encontrada nas leguminosas, como o feijão, soja, lentilha, grão de bico e ervilha – pode até ter um efeito protetor, embora menos efetivo do que aquele exercido pelos laticínios.

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