A síndrome que vem da UTI

Estudos apontam que em torno de 75% dos pacientes internados nas unidades de tratamento intensivo dos hospitais apresentam, em algum momento, o que se convencionou chamar de síndrome da UTI – também conhecida pelos médicos como delirium. A doença não tem nada a ver com o distúrbio psiquiátrico chamado de delírio, mas pode causar conseqüências graves nas pessoas em que se manifestam. ?Pacientes com delirium possuem um risco dez vezes maior de ter alguma complicação durante a internação e duas vezes e meia mais riscos de morte?, alerta Rodrigo Serafim, médico intensivista.

De acordo com o especialista, nos últimos anos, ocorreu um aumento de aproximadamente 78% no número de pacientes internados em UTIs que necessitam do auxílio de aparelhos para respirar (denominados respiradores), situação causada, no seu entender, devido ao crescente avanço da medicina e pelo comprovado envelhecimento da população. ?Esses pacientes apresentam características e condições clínicas favoráveis ao desenvolvimento da síndrome?, explica Serafim. De acordo com o especialista, o impacto da doença também se faz sentir nas contas dos sistemas de saúde.

Humanização

Outra dificuldade é o índice de casos de delirium não diagnosticados (em torno de 60%). ?O importante é manter equipes médicas preparadas para reconhecer a doença?, alerta Serafim. Segundo ele, existem várias causas para a síndrome, e, muitas vezes, se torna um desafio descobri-las. Dentre as principais, o especialista cita as seguidas infecções, efeitos colaterais de medicações, doenças cardíacas, neurológicas e metabólicas. Mesmo que não se consiga prevenir totalmente o distúrbio, pode-se, na avaliação do médico, reduzir em muito sua ocorrência. A Sociedade Brasileira de Terapia Intensiva recomenda que se busque ativamente o diagnóstico precoce e se efetue o tratamento adequado o mais rápido possível.

Álvaro Réa Neto, chefe da UTI do Hospital de Clínicas da UFPR, comenta que, atualmente, as UTIs estão se tornando mais humanizadas, valorizando o bem-estar e o conforto físico e emocional dos pacientes e seus familiares. Ele frisa que, naquela situação, é imprescindível que o paciente seja tratado por uma equipe competente, otimista, proativa e humana. ?É claro que o que um paciente mais quer naquele momento é sobreviver ao evento, mas não é só isso. Sua valorização como pessoa com demandas individuais deve ser garantida também?, avalia.

Nesse sentido, a maioria da UTIs dos hospitais de Curitiba adota medidas para minimizar as causas que levam a essa síndrome. Invariavelmente, todas as questões envolvidas também têm sido discutidas com pacientes e familiares. ?Assim, cada vez mais eles tomam parte nos processos de decisão?, completa Réa.

EFEITO DO SOL POENTE

O delirium é uma desordem mental temporária, caracterizada por oscilação da consciência durante o dia, períodos em que se alternam confusão mental com momentos de lucidez. Freqüentemente esse quadro está associado a alguma condição clínica subjacente, que requer investigação e tratamento adequado. Podem ocorrer alterações agudas da consciência, podendo o paciente ficar subitamente agitado e agressivo ou apenas apático. Na maioria das vezes, os episódios ocorrem ao final da tarde ou à noite, o que já chegou a ser chamado de ?efeito do sol poente?. O médico intensivista Rodrigo Serafim lembra que o reconhecimento do delirium é importante não só nas unidades ventilatórias, mas em qualquer local onde se encontram pacientes graves. Para ele, a doença pode ser o primeiro sinal de uma enfermidade ainda mais grave, como infecções, acidentes vasculares cerebrais e demência, entre outras.

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