20 mil terão câncer este ano por causa do ambiente de trabalho

Rio (AE) – O câncer, segunda causa de morte no País, deve motivar, só este ano, 467 mil novos diagnósticos. Cerca de 20 mil deles, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), estão relacionadas aos ambientes de trabalho, sendo, portanto, evitáveis. Entre as vítimas potenciais, há milhares de pessoas que, contratadas ou atuando no mercado informal, têm contato freqüente com 29 substâncias comprovadamente causadoras de neoplasias. Apenas quatro delas, porém, são proibidas pela lei brasileira.

"Se não é possível agora banir todos os agentes cancerígenos listados, devemos fazer mudanças na legislação que determinem a diminuição dos riscos causados pelas substâncias, seja, por exemplo, por meio da redução do tempo de exposição ou através do uso de equipamentos de proteção avançado", avaliou Silvana Rubano Turci, chefe da Área de Vigilância do Câncer Ocupacional e Ambiental do Inca, durante o primeiro seminário nacional sobre o tema, promovido pelo instituto.

Os agentes cancerígenos, observou a toxicologista, são encontrados no dia-a-dia dos mais diversos tipos de ambientes de trabalho, seja numa linha de produção de telhas ou de petróleo, na indústria de vidros e até nos salões de beleza, onde o contato com os componentes existentes nas tinturas de cabelo representam um fator adicional para o surgimento de câncer de bexiga. "Quem é adepto de escova progressiva deve ficar atento, pois há formaldeído no produto. Já os pigmentos presentes em tintas têm metais pesados como cádmio, cromo e níquel, também perigosos".

Os riscos associados à vaidade feminina, porém, são insignificantes diante do contigente de brasileiros que não têm opção. Entre os trabalhadores de carteira assinada, ainda uma minoria no País, dois milhões estão expostos à sílica, substância usada na produção de vidros e porcelanas que pode causar doença respiratória e câncer de pulmão.

Em relação ao amianto, há uma estimativa de que 25 mil pessoas estão em contato sistemático com a substância, usada na indústria têxtil e de cimento. Apesar de associado ao câncer de pulmão, ao tumor maligno da pleura e à fibrose pulmonar, o produto ainda não foi banida do País. Assim como o benzeno e a sílica, tem limites de exposição estabelecidos pela legislação.

"O problema é que, em relação ao câncer, não é possível determinar um nível exposição considerado seguro. Isso não existe. Há pessoas menos ou mais suscetíveis, mas a substância pode causar a doença, que vem a longo prazo. O ideal seria proibir os agentes cancerígenos", avaliou a coordenadora de Prevenção e Vigilância do Inca, Gulnar Azevedo, acrescentando que a área de saúde do trabalhador "ainda não está sensível" para o problema.

Coordenador da Área Técnica de Saúde do Trabalhador do Ministério da Saúde, Marco Pérez concordou com Gulnar, considerando que, na maioria dos municípios brasileiros, as políticas de proteção "ainda estão para acontecer". Chamou atenção ainda para a necessidade de um trabalho conjunto das diferentes pastas do governo, já que há interesses contraditórios entre os ministérios da Saúde, Meio Ambiente, Previdência Social e Justiça, e os relacionados ao desenvolvimento, como Economia, Agricultura e Indústria e Comércio.

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