Segmento merece produtos específicos

A população com mais de sessenta anos no Brasil é de dezesseis milhões de pessoas, ou seja, 9,3% do universo de 181 milhões de brasileiros, conforme a pesquisa divulgada esta semana pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O turismo seria um dos destinos dos recursos de uma parte dessa população consumidora e que investe em melhoria de qualidade de vida. “A terceira idade está mais consciente da importância de investir em turismo e lazer”, comenta o operador de turismo Aroldo Schultz, de Curitiba, que é também diretor de capacitação profissional da Abav-PR (Associação Brasileira das Agências de Viagem do Paraná).

O crescimento do interesse em viagens por parte do chamado grupo da terceira idade, ou melhor idade, está justificando a especialização do setor. A própria Abav Nacional está incentivando agentes e operadores a se tornarem mais preparados para atender melhor essa demanda, promovendo cursos específicos. A Grafit Assessoria e Projetos Turísticos, de São Paulo, é uma das contratadas pela entidade para ministrar cursos por todo o Brasil. “Turismo especializado na Terceira Idade” e “Viajando com a Terceira Idade” já rodaram praticamente todas as capitais brasileiras. “Nós orientamos os profissionais a como organizar roteiros, como selecionar bem os fornecedores (hotéis, restaurantes, etc.; como fazer a divulgação adequada dos produtos, já que a maioria deles não usa a tecnologia da internet e obtém as informações muito mais pelo boca a boca, e alertamos quanto à necessidade de analisar o inventário turístico para adequar o programa de acordo com a idade das pessoas”, diz Carlos Silvério, diretor da Grafit. “Até a escolha do guia de turismo é importante, porque tem que ser uma pessoa que, mais do que preste informação, interaja com o grupo”, complementa.

Um público diferente

O diretor da Grafit frisa ainda que a terceira idade é um público fiel a quem lhe prestou um serviço quando tem suas necessidades supridas e suas expectativas de viagem atendidas. Por isso, a importância de se oferecer produtos e serviços impecáveis. “Na terceira idade, a propaganda tem um efeito multiplicador muito grande. Pelo fato de, na maioria das vezes, não trabalharem fora, essas pessoas têm mais tempo de contar como foi a viagem para amigos e parentes”, comenta Carlos Silvério.

A fidelidade é também sublinhada por Aroldo Schultz, da Schultz Operadora, como uma das caraterísticas mais marcantes dos clientes com mais de sessenta anos, quando são bem atendidos em uma empresa. “O turista de terceira idade não se aventura na internet na hora de escolher um destino ou pacote turístico. Ele procura a agência ou a associação à qual pertence para obter informações e é extremamente fiel a quem o atende”, observa.

Diretor de capacitação profissional da Abav-PR, Aroldo considera o segmento mais do que importante e que merece produtos específicos e atendimento adequado. “Por isso, é importante que haja treinamento de pessoal e que os pacotes sejam voltados a eles. Não se pode, por exemplo, oferecer uma programação sem uma folga, eles precisam de um tempo para descansar durante o dia, porque o pique deles não é o mesmo de uma pessoa jovem”, complementa. Aroldo considera importante também que as associações de terceira idade se organizem e exijam do mercado produtos voltados para o público que representam.

Aposentados com renda segura (não necessariamente alta), bons pagadores e adeptos aos exercícios físicos, a terceira idade não segue um padrão na hora de escolher um destino de viagem. Porém, entre os destinos mais procurados no Brasil estão as regiões serranas, principalmente a gaúcha e a fluminense e as termas, como as de Jurema, Caldas da Imperatriz, Pousada do Rio Quente e Caldas Novas. “Pelo fato de no Brasil não haver muito a cultura de se participar de cruzeiros marítimos, a terceira idade também não é adepta, acho que por um pouco de medo”, diz Aroldo Schultz.

Dentre os produtos mais procurados quando o destino é a Europa estão os santuários europeus (Fátima, Lourdes e Roma), Leste Europeu, Paris, Bruxelas, Colônia e Itália como um todo. De 30% a 40% dos pacotes para a Europa que a Schultz Operadora comercializa são vendidos a pessoas com mais de 45 anos.

Público procura por cultura e natureza

A terceira idade também é adepta ao ecoturismo. Essa é a constatação da Freeway Adventures, uma das agências pioneiras nessa modalidade no Brasil. O crescimento da procura pelo serviço por parte de pessoas com mais de cinqüenta anos justificou a criação do Departamento Sênior para atendê-las com exclusividade, oferecendo pacotes e serviços especiais.

De acordo com a coordenadora do departamento, Sara Correia da Silva, em vez de ecoturismo, os pacotes para a terceira idade ganharam a denominação “viagens ecológicas”. “É para não assustar, já que quando se fala em ecoturismo, muita gente pensa em esportes radicais”, explica. A diferença entre esses pacotes e os outros direcionados para público de idade variada é que compreendem atividades com grau de dificuldade menor. “As caminhadas são mais curtas e, em vez de atividades mais radicais como o rafting, por exemplo, nós oferecemos um passeio de bote”, diz Sara.

Além disso, as viagens para o público maior de cinqüenta anos têm uma estrutura maior: com mais guias (um para cada grupo de cinco pessoas em vez de um para cada dez); transporte adequado para minimizar os percursos a pé; alimentação especial e programas que visam explorar mais a questão cultural do local (música, dança, artesanato, festa típica). “Procuramos respeitar o ritmo deles e ficamos sempre atentos se estão se sentindo bem e gostando dos passeios”, diz Sara.

Hoje são pelo menos seis os destinos para ecoturismo já consolidados para o público da terceira idade: Lençóis Maranhenses (MA), Parque do Caraça (MG), Aparados da Serra (RS), Maraum e Itacaré (BA), Chapada dos Veadeiros/Caldas Novas (GO). Nos grupos, é comum pessoas até com mais de oitenta anos. Segundo Sara, em uma das viagens a Parati (RJ), havia um senhor de 89 anos, que participou de toda a programação, incluindo uma caminhada de 1,5 quilômetro. Já em Aparados da Serra, um cliente de 81 anos optou por fazer rafting. “Eles curtem bastante todas as viagens. Elementos como bem-estar, auto-estima, contato com cultura e natureza, beleza cênica dos lugares, comida gostosa, amizades novas e as descobertas e redescobertas sobre o que podem fazer, tudo isso faz das viagens um sucesso”, diz Sara Correia Silva. “É muito gratificante trabalhar com esse público, são pessoas alegres, que querem viver, por isso, digo até que rejuvenesce trabalhar com eles”, comenta.

Animação

A animação é uma das características também observadas por Ana Valéria Bacco, diretora da Vacance Turismo, de Campinas, em relação aos turistas da terceira idade. “É um pessoal que gosta muito de dançar, se interessa por cultura, como ópera, shows e teatro, e de praticar atividades físicas, como caminhadas”, descreve. “Já estamos vendendo pacotes para uma viagem a Paris, que acontecerá em novembro. Na programação estão previstos muitos passeios a pé pela cidade”, conta.

Surpresa para muitos, entre os pacotes vendidos a pessoas com mais de sessenta anos está o do Carnaval no Rio de Janeiro com participação no desfile da Escola de Samba Mangueira. Além desse, estão entre os prediletos desse público Buenos Aires, incluindo aula de tango na escola Milonga e viagens menores como às Águas de São Pedro, na região de Campinas, incluindo jantar dançante; e as viagens de fim de semana, incluindo teatro em São Paulo. Segundo Ana Valéria, o segmento tem aumentado e hoje representa 20% no faturamento da agência.

Bom nível cultural

A maioria dos clientes adeptos às viagens de turismo cultural oferecidos pela Apel Viagens, agência de São Paulo, faz parte do segmento terceira idade. Segundo a diretora de Turismo Cultural, Helena Mirabelli, entre os destinos mais procurados estão Pantanal (MT/MS), Cidades Históricas de Minas Gerais, Urussanga e arredores (Sul de Santa Catarina), Curitiba e Prudentópolis (PR), Curitiba e Vila Velha (PR), Serra da Capivara (PI) e Jalapão (GO). O carro-chefe no mês de julho são as Missões Jesuíticas, que compreendem Rio Grande do Sul, Paraguai e Argentina.

Helena destaca o interesse por cultura e a disposição como características desse público. “É um público ótimo, diferenciado, de bom nível cultural e que tem muito pique, mesmo os que têm mais de 75 anos”, diz ela. (DS)

SERVIÇO

Schultz Operadora – (41) 322-0818

Freeway Adventure – (11) 5088-0999

Apel Viagens – (11) 3064-9598

Vacance – (19) 3254-7559

Grafit Viagens e Turismo -(11) 5579-3629

Voltar ao topo