Os caminhos que cortam Ouro Preto

As surpresas que a histórica Ouro Preto, cidade mineira distante 98 quilômetros de Belo Horizonte, revela para os seus turistas vão muito além da beleza barroca de seu centro histórico. A antiga Vila Rica foi o epicentro de uma intricada rede de caminhos por onde passaram contrabandistas fugindo do fisco português, aventureiros à procura de metais preciosos e bandeirantes que desbravaram o sertão. Construídas entre 1674 e 1725, as Estradas Reais foram os primeiros caminhos nacionais planejados pelo “poder público”.

Alguns trechos das Estradas Reais, como os 90 quilômetros da MG 129 que separam Ouro Preto do município de Santa Bárbara, sobrevivem até hoje na forma de modernas rodovias. Utilizadas para transportar o ouro retirado do solo de Minas para os portos do Rio de Janeiro – de onde eram embarcados em direção a Lisboa – as Estradas Reais são documentos vivos que contam aos visitantes detalhes da colonização nacional.

Abertos pelo bandeirante Garcia Rodrigues Paes a partir de 1698, estes 90 quilômetros foram conhecidos como Caminho Novo e escondem verdadeiras pérolas, como a casa onde nasceu o ex-presidente Afonso Pena, a secular Igreja de Nossa Senhora do Rosário, a maior caverna brasileira e o não menos exuberante Parque Natural e Santuário do Caraça. Reinaugurado há dois meses, o trecho que sai de Ouro Preto e corta as cidades de Mariana, Santa Rita Durão, Catas Altas e Santa Bárbara está em perfeito estado.

Em Ouro Preto, um bom ponto de partida para o roteiro é o Museu da Inconfidência, localizado na Praça Tiradentes. Em frente ao museu, que possui em seu acervo as peças de acusação de Tiradentes e os restos mortais dos inconfidentes, começam os 10 quilômetros que levam até o município de Mariana. Já em Mariana, à margem da rodovia, vale uma parada na Igreja Nossa Senhora da Glória. Típica construção do século XVIII, Nossa Senhora da Glória conserva ainda suas portas almofadadas e o interior esculpido com detalhes em ouro.

É a partir de Santa Rita Durão, entretanto, que as belezas naturais passam a se destacar na Estrada Real. A maior parte do trajeto é cercado pela Serra do Caraça, formação rochosa rica em montanhas, picos e grutas. O Pico do Sol, montanha de quartzito escuro que alcança mais de dois mil metros, certamente não passa despercebido. Na Serra do Caraça também está a maior caverna do Brasil, a Caverna do Centenário, que tem mais de quatrocentos metros de profundidade.

Turismo ecológico

Outro destaque do caminho é a vila de Catas Altas, fundada em 1702 pelo também bandeirante Domingos Borges, em virtude da descoberta de ouro. A vila é ideal para o turismo ecológico: são quinze quedas d?água, trilhas para a prática de trekking, piscinas naturais e ainda é o local onde está o Parque Natural e Santuário do Caraça. Com onze mil hectares de extensão, o parque abriga as ruínas de uma das mais importantes escolas brasileiras, o Colégio Caraça.

Inaugurado em 1820, o Colégio do Caraça recebeu mais de dez mil alunos, entre eles Jucelino Kubitschek e Arthur Bernardes. Em 1968, um incêndio destruiu o colégio, que depois foi reformado e transformado em pousada. O Parque também é o habitat do Lobo Guará, espécie em extinção que toda noite aparece para comer nas mãos dos padres responsáveis pela conservação do Parque. Os turistas podem passar a noite na própria reserva, a diária da pousada não ultrapassa R$ 100 por casal, preço que inclui três refeições diárias.

Continuando o roteiro, no dia seguinte vale uma esticada até Santa Bárbara, ponto final do percurso da Estrada Real. A aconchegante cidadezinha mineira é a terra natal do ex-presidente brasileiro Afonso Pena. A casa onde o político nasceu, uma construção do século 19, está conservada e é aberta à visitação pública. Outra atrativo do distrito é a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, erguida em 1756 pela irmandade do Rosário de Santa Bárbara e fiel modelo da influência do rococó em Minas Gerais.

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