Clima de serra na bela Santa Catarina

Para onde se olha, o verde da Mata Atlântica preservada. Em frente, casas, igrejas e museus históricos. Ao largo, rios e fontes de água límpida, inclusive com cascatas.

Lugares aconchegantes em um clima de cidade do interior misturado ao daqueles lugarejos encravados nos planaltos da Europa. E tudo isso a 92 quilômetros de Curitiba.

São Bento do Sul, em Santa Catarina, tem um perfil turístico completamente diferente da maioria dos destinos do estado, calcados no trinômio praia, águas termais e frio cortante.

E, ao mesmo tempo, não está tão distante deles, por estar razoavelmente perto da praia e das estações termais, e ter temperaturas que, em recorde negativo, chegaram a -6ºC.

Mas o charme da cidade serrana tão próxima da capital do Paraná é contar com características especiais, que a aproximam da paulista Campos do Jordão e das gaúchas Gramado e Canela – mas sem a mesma pompa das cidades citadas.

São Bento é o destino romântico mais próximo dos paranaenses, que podem aproveitar finais de semana (ou semanas inteiras) de passeios bucólicos e momentos de intimidade. Ou ainda curtir um roteiro de ecoturismo inusitado, que contempla inclusive um circuito de arvorismo no centro da cidade.

Os políticos são-bentenses demoraram a perceber o potencial turístico da cidade – e, somado à falta de incentivo do governo de Santa Catarina, a cidade ficou “escondida”.

A intenção da secretaria de Desenvolvimento Urbano de São Bento do Sul, a qual é subordinada à Diretoria de Turismo, é a partir de agora criar condições para que os turistas passem a visitar mais a localidade. “Temos atrações interessantes, para vários perfis de visitantes”, explica Cristiane da Silva, diretora de Turismo.

tarde de sol pede passeio pelo centro, onde estão localizados restaurantes de comida típica alemã e cafés coloniais.

Quem quiser curtir um período romântico pode iniciar um roteiro com visitas aos restaurantes mais aconchegantes, como o Alpenbier e o Zanzibar; aproveitar uma tarde de sol com um passeio na cidade; comprar porcelanas e artigos de cama, mesa e banho – com preços convidativos; provar o café colonial da cidade e ter um jantar romântico. Sem contar surpresas, como no passeio de maria-fumaça (ver boxe), e, no próprio hotel, acompanhar apresentações de dança e música locais.

A turma que quer aproveitar a Mata Atlântica poderá conhecer o Morro da Igreja, com 842 metros de altura. Lá, os mais radicais têm a chance de praticar rapel – e depois visitar cascatas e cachoeiras com até 100 metros de queda e piscinas naturais de água cristalina.

Se o clima (aqueles dias de sol, mas com vento que obriga a usar agasalhos) não empolgar para uma saída demorada, é possível fazer um circuito de mais de 400 metros de arvorismo no meio de São Bento, a cinco minutos de caminhada do Novotel.

São 18 obstáculos a serem vencidos, começando com uma tirolesa (voo com o auxílio de cordas) e terminando com rapel em um pinheiro. É o ecoturismo mais urbano do País, em uma cidade de apenas 70 mil habitantes.

Lugar certo para praticar ecoturismo

Passeios pela área rural desvendam belas paisagens.

Espírito de aventura e um carro com boa tração levam o turista a regiões mais distantes do centro de São Bento do Sul. Recantos e parques particulares se unem a belezas naturais intocadas, que p,odem ser aproveitadas em um final de semana de bom tempo.

A menos de 100 quilômetros de Curitiba existem cascatas e piscinas naturais praticamente desconhecidas do grande público. As principais atrações do ecoturismo em São Bento partem do Morro da Igreja, com 842 metros de altura.

O local é ponto de encontro de montanhistas, praticantes de rapel e trekkers, que depois podem conhecer o Braço Esquerdo, onde estão as principais quedas d’água da região, algumas com até cem metros de altura.

Os menos aventureiros, mas com vontade de entrar na região de Mata Atlântica, podem conhecer os recantos da região dos rios Natal e Vermelho, como o Luli e o Buger Strasse.

Embrenhados ali também estão restaurantes familiares, como o Ruda, com direito ao Rio Vermelho passando ao lado. Nas subidas e descidas das estradas vicinais se chega ao Parque Natural das Aves.

Além de várias espécies de pássaros e aves rasteiras (patos, gansos, faisões e até um pavão), lá está um dos maiores borboletários do País, que conta com a ajuda da comunidade rural para preservar espécies nativas.

Acerte o tiro e vire rei

Em meio à vegetação, cachoeiras com piscinas de águas cristalinas.

Tal como boa parte da região serrana no interior de Santa Catarina, São Bento do Sul é uma cidade de forte presença de descendentes de alemães. Fundada em 1873, dois anos mais tarde já tinha seu clube de tradições alemãs, e um evento dos mais peculiares – o Tiro de Rei, competição que acontece sempre no primeiro domingo após a Páscoa e que transcende o esporte, impregnada na sociedade são-bentense.

O Tiro de Rei é uma prova de carabina de ar, tal como nas edições antigas dos Jogos Olímpicos. Um alvo circular (de 40x40cm) é colocado a cerca de 40 metros de distância, e cada competidor tem sua vez de atirar no mesmo alvo.

O evento dura todo o dia, e apenas ao final das participações é anunciado o vencedor, o “Rei”. “Você vira o principal nome da sociedade”, explica o vice-prefeito de São Bento do Sul, Flávio Schumacher. E vira mesmo.

No ano seguinte, o campeão é carregado em triunfo, faz carreata pela cidade e promove uma grande festa para seus convidados – tudo antes do início da disputa.

Ele também tem a primazia de escolher como será o alvo – que, ao contrário das competições olímpicas, tem uma pintura artística (uma paisagem da região, a ponte Hercílio Luz, um barco no oceano ou uma homenagem ao escotismo, o que for do gosto do Rei) e não tem um centro definido, pois o ponto principal pode ficar em qualquer lugar do círculo.

O Tiro de Rei para a cidade. E leva descendentes de alemães de toda a região sul a São Bento a fim de participar da prova. Na disputa deste ano, a reportagem de O Estado foi abordada por vários curitibanos, que mantêm a tradição de pais, avós e bisavós no evento mais antigo da região.

“Matança”

O Alpenbier é um dos restaurantes mais aconchegantes da cidade, ideal para um jantar a dois.

A cidade, que tem o segundo consumo per capita de cerveja no Brasil, também tem sua festa típica alemã. É a Schlachtfest (“festa da matança”, em alemão), que terá em 2009 a sua 28.ª edição, entre 3 e 7 de setembro.

A expectativa é que cerca de 50 mil pessoas visitem São Bento do Sul durante a festa, batendo o recorde de consumo de comida e bebida do ano passado, quando foram vendidas três toneladas de carne (em todos os cortes típicos alemães) e 18 mil litros de chope.

Comece o passeio por Joinville e dê uma volta de barco pela baía

Um bom ponto de partida para uma viagem ao norte de Santa Catarina é Joinville. A mais importante cidade da região – e mais populosa e indu,strializada do estado – tem atrações para um bom dia de passeio, que fica completo com uma intensa vida noturna.

Além das visitas, guiadas por várias empresas, o turista pode aproveitar o passeio na Ilha da Babitonga a bordo do barco Príncipe de Joinville III – a duração é de quatro horas e meia, com direito a almoço.

Os museus, como o do Sambaqui, também são boas atrações. Mas a dança move a vida cultural de Joinville. A cidade, que recebe em julho o Festival Internacional de Dança, um dos mais importantes do mundo, virou sede da escola do Balé Bolshoi, da Rússia, com centenas de alunos vindos de todo o País.

Os interessados em visitar a escola podem conhecê-la às sextas-feiras, em dois horários (ver quadro página 6). À noite, a agitação se concentra na chamada Via Gastronômica, trecho da Rua Visconde de Taunay com bares, restaurantes e baladas.

Viagem sensorial de maria-fumaça

Jolvani Bueno/Divulgação PMSBS
Trem vai até São Bento do Sul: tudo “a la” antigamente.

“Blém, blém, blém.” Toca o sino na estação. Está na hora de encontrar o lugar em um dos vagões do trem que faz o passeio pela Serra Alta, saindo de Rio Negrinho e indo até São Bento do Sul. É um evento concorrido, pois só acontece uma vez por mês, sem periodicidade regular.

A possibilidade de embarcar em uma típica maria-fumaça e conhecer belezas de uma região de mata atlântica quase intocada atrai gente de todas as idades. Para os paranaenses, uma viagem ainda mais evocativa, pela presença efetiva do pinheiro-do-paraná, árvore símbolo do Estado.

Uma locomotiva de mais de 50 anos leva seis vagões, todos eles restaurados como possível pela regional de Santa Catarina da Associação Brasileira de Preservação Ferroviária – uma organização não-governamental que tenta cuidar da combalida malha ferroviária do interior do Brasil.

Pela serra, começam a surgir os personagens do passeio. O guia faz o papel dos antigos conferentes, com direito até a furar a passagem (que custa R$ 55), como nos velhos tempos.

Os voluntários, vendendo lanches e bebidas. Lá fora, a paisagem vai mudando – sai o casario alemão, com crianças no quintal acenando para o trem, entra a vegetação intensa da região. Ali, a mata atlântica é preservada (é uma área cuidada com zelo pelo Ibama).

“Coisas que a gente se esquece de dizer, frases que o vento se encarrega de lembrar.” A maria-fumaça leva os turistas para um belo conjunto de viadutos e pontes suspensas, que dão a impressão de o trem flutuar na canção do vento, como em o Trem azul, de Lô Borges e Ronaldo Bastos. E há música no passeio, com jovens voluntários que atacam um pout-pourri de canções sertanejas, incluindo até As mocinhas da cidade, de Belarmino e Gabriela.

Chegando ao ponto final da viagem (após 1h30 de passeio), no lugarejo de Rio Natal, em São Bento do Sul, os turistas podem aproveitar um almoço típico polonês, ao lado da igreja, ao custo de R$ 12 – nada de “café com pão”.

A volta, subindo a serra, também é com a maria-fumaça, que aí precisa trabalhar, como se fosse o Trem de ferro de Manuel Bandeira (“Voa, fumaça / Corre, cerca / Ai seu foguista / Bota fogo / Na fornalha / Que eu preciso / Muita força / Muita força / Muita força…”).

Autenticidade

Uma das bandeiras mais famosas da hotelaria mundial colocou os pés em São Bento do Sul em 1995. O Novotel da cidade é um dos mais charmosos da rede no planeta – justamente em uma localidade insólita para o grupo, que geralmente administra hotéis em grandes metrópoles.

O Novotel São Bento foge ao estilo conhecido da rede também na arquitetura clássica, que se assemelha às “villas” europeias – bem diferente dos prédios arrojados das capitais, e integrado ao estilo são-bentense. O hotel tem “irmãos” na rede, como o Lake Crackenback (Austrália), o Mulhouse e o C,olmar (França). Mas o catarinense tem mais espaço e opções de lazer.

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