Serviços de todos os tipos a um clique

Faz dez anos que a internet pôde começar a ser operada comercialmente no Brasil, a partir da criação do Comitê Gestor da Internet e da Norma 004/95 do Ministério das Comunicações, que abria o mercado para a criação dos provedores comerciais.  Até meados de 1995, a web se restringia ao meio acadêmico e não se imaginava a dimensão nem os rumos que iria tomar.

A adesão dos brasileiros e a profusão de aplicações que são desenvolvidas atualmente na área de serviços e de relacionamentos sociais – como serviços bancários e de venda on-line, comunidades virtuais, serviços de mensagens instantâneas, de voz, de compartilhamento de arquivos, blogs, fotologs – não tinha como ser prevista. Estudo Ibope/NetRatings, feito no ano passado, por exemplo, indica que 30% do tempo total de uso da internet em residências é usado em sites de comunidades e e-mail.

O cenário tecnológico e cultural em 1995 era bem diferente dos dias de hoje. Para se ter uma noção do porte da rede naquele primeiro momento, basta dizer que a única estrutura da Embratel que ligava o País aos Estados Unidos possuía a velocidade de aproximadamente 2 megabytes por segundo. Além disso, empresas que iriam fornecer serviço de provedor para o usuário final pagavam para a Embratel em torno de R$ 2.950 por um link de 256 kbps. Essa largura de banda era usada pelos clientes das empresas, que tinham acesso discado e ficavam com uma velocidade de conexão bem pequena. Hoje, há diversas tecnologias que permitem ao usuário se ligar à rede e, por cerca de R$ 100, qualquer um pode ter conexão com velocidade de 256 kbps. As informações são do empresário Márcio Costa Jr., um dos primeiros a atuar no mercado de internet, por meio do provedor Anuário do Mercosul (AMS).

Segundo ele, em 1995 ainda não se tinha clara a noção de que o provimento de acesso poderia ser um novo tipo de negócio. "Começamos a disponibilizar o serviço de provedor de acesso como forma de nosso cliente poder ter o anuário também pela internet. Era um apelo mercadológico. Servia para apoiar outros produtos e outras mídias", explica.

Para Costa, a grande mudança nesses dez anos foi cultural. Em 1995 ainda não havia cultura de tecnologia de informação. Ele diz que mesmo com muita ação de marketing, era difícil conseguir clientes. "As pessoas perguntavam para que a internet servia. Ninguém ainda tinha consciência prática, ninguém imaginava que o meio pudesse ser fonte de informação. A rede se apresentava mais como uma curiosidade." Ele assinala também que a popularização do computador – que deixou de ser apresentado como um aparato tecnológico, sendo visto como um eletrodoméstico – contribui para essa mudança de cultura.

Ele acredita que o ponto de desencadeamento da mudança cultural aconteceu por volta de 1999, quando os provedores de informação pararam de escrever o que achavam que deveriam e começaram a observar mais as preferências dos usuários. "Foi quando começaram a descobrir a vocação da rede, que era de fornecer informações em tempo real."

Web hoje

"A internet está passando agora por um período de desenvolvimento natural. Em relação a investimentos, não se observa mais aquela quantidade imensa de recursos sendo aplicada", considera. Conforme Costa, hoje a web adquiriu a característica de provedora de serviços, tanto internamente quanto em âmbito global. "A internet possibilitou a internacionalização de serviços, como no caso dos bancos e do setor de vendas." Ele dá o exemplo de sua empresa, a Global Data Capture do Brasil, que realiza processamento de dados de países como Estados Unidos. "O custo real para eles é muito menor", explica.

Para o futuro, Costa aposta na convergência de meios, que contribuirão para a criação de um novo aspecto de vanguarda da web. "O próximo passo que está sendo dado é o do acesso remoto, que une celular, palmtop ou laptop com acesso à rede."

Cresce busca por páginas com banco de dados

Páginas de internet com muitos movimentos ou mesmo interfaces de realidade virtual são alternativas que ainda vão demorar para se tornarem o padrão da rede. Assim pensa o professor do Cefet-PR Luiz Augusto Pelisson, que dá aulas de web design.

Ele explica que a maioria das pessoas acessa a internet por linha discada. E como páginas com sofisticação gráfica são mais pesadas e demoram a ser carregadas, esses recursos acabam não sendo muito práticos. "Ainda vai levar algum tempo para as páginas integrarem recursos de vídeo e animações. Porém, assim que o acesso das redes de alta velocidade se tornar o padrão, esses recursos serão utilizados com maior freqüência", afirma o professor.

Ele percebe que atualmente as páginas chamadas de dinâmicas, ou seja, que são integradas com banco de dados, têm uso cada vez mais freqüente. "Isso está acontecendo porque essas páginas podem ser atualizadas com bastante facilidade por qualquer pessoa. Não há a necessidade de se programar o código html – o código de programação usado na internet. O usuário tem maior autonomia."

Pelisson lembra que quando desenvolveu a segunda página do Cefet-PR, em 1996, o trabalho tinha de ser feito escrevendo as linhas de código html. Só mais tarde surgiram ferramentas gráficas que possibilitavam desenhar sites. "Assim que programas como o Frontpage e Dreamweaver foram surgindo, o design de páginas de internet se difundiu entre os jovens. Isso aconteceu por volta de 1999. Aí é que começou no Brasil a fase jovem de web design." (RD)

Voto pela internet não está longe, diz empresário

Na avaliação do empresário do provedor de e-mail Mandic, Alexsandar Mandic, a internet se tornou essencial para a vida das pessoas. "A internet foi talvez o principal acontecimento depois do nascimento de Cristo. Hoje, nem pensar viver sem."

Segundo ele, a chegada da internet comercial ao Brasil pegou todo mundo de surpresa. "Todo mundo sabia que tinha de correr, mas ninguém sabia em qual direção", afirma Mandic, referindo-se a investidores e empresários que pretendiam entrar no novo nicho de mercado. Atualmente, diz Mandic, o mercado está consolidado e já se conhece a concorrência.

Mandic compara a internet com o Windows, que quando foi criado tinha um pequena quantidade de programas disponíveis. O mesmo, diz ele, se deu com a internet, que de início oferecia pouca informação e recursos, mas que com o tempo teve uma grande diversificação de uso, produtos e aplicações.

Para o empresário, a área de serviços voltados para o usuário deve crescer bastante. "Basicamente você vai ter uma intensificação de serviços voltados para o cidadão na internet. Os serviços bancários já estão disponíveis, mas outros como informações da fatura de luz, estatísticas de consumo, poderão estar na rede em breve. Acho que até mesmo o voto pela internet vai ser possível", afirma. (RD)

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