Robôs de uso doméstico

O sonho de consumo representado por Rosie, a empregada mecânica do desenho animado dos Jetsons, começa a se tornar realidade no Brasil com um novo aspirador, que limpa a casa sem interferência humana. O Trilobite, denominação do primeiro aspirador robô da Electrolux a ser empregado comercialmente no Brasil, custa aproximadamente R$ 7 mil e é uma das atrações do primeiro Salão Internacional de Robótica e Inteligência Artificial, um evento científico, empresarial e educacional, que acontece em São Paulo de amanhã a domingo.

É claro que os aparelhos encontrados nesse evento guardam pouca ou nenhuma semelhança com a personagem robô dos Jetsons, mas podem ser considerados o prenúncio de mais uma etapa de assimilação tecnológica por consumidores domésticos. Para o coordenador técnico da exposição, o professor do Departamento de Mecatrônica da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) José Reinaldo Silva, o evento reforçará a entrada de tecnologia de ponta na vida do cidadão comum e deve funcionar como um balizador de tendências e novas aplicações de automação e robótica no mercado. ?É o futuro, sem dúvida nenhuma?, afirma.

De acordo com ele, existe um grande mercado para a robótica a ser desenvolvido no Brasil, mas antes é preciso vencer a resistência dos cidadãos. ?Nos ditos países mais desenvolvidos, as pessoas convivem com dispositivos automatizados em seu cotidiano. Além da resistência cultural, outros desafios a serem vencidos são a falta de incentivo e de investimentos para a área de mecatrônica?, afirma.

Silva explica que podem ser definidos como robôs máquinas dotadas de movimento e que, em muitos casos, são dotadas de algum nível de inteligência artificial. Embora robôs disponíveis não tenham a característica que faz deles fascinantes personagens da literatura e de filmes – inteligência quase ou sobre-humana – eles são eficientes executores de tarefas especializadas. A exposição traz desde aparelhos que possibilitam monitoramento de tubulações, até máquinas soldadoras e educativas. São 60 expositores numa área de 4 mil metros quadrados, com expectativa de público de cerca de 25 mil pessoas. A feira foi dividida em três setores: Educação, Indústria e Entretenimento.

Saindo da fábrica

A robótica é muito freqüente no setor industrial, mas, para o professor, é preciso que ela saia do setor fabril e amplie seu campo de atuação. ?Estamos sugerindo várias aplicações comerciais para que possam ser usadas em pequenas e médias empresas?. Ele cita o exemplo da automação predial, uma área em crescimento que fatura no Brasil cerca de R$ 7 milhões. ?Não dá para investir em robótica industrial, porque ficamos para trás no desenvolvimento em nível mundial. Além disso, é um mercado que está atingindo um ponto de saturação, podendo inclusive ocorrer de as empresas do setor começarem a incorporar as concorrentes?, considera.

Outra modalidade de robótica que há interesse para ser trabalhada no País, segundo Silva, é a que desenvolve dispositivos especiais. ?Um dos nossos grupos da USP fez um robô submarino. Há outro desenvolvido na Universidade Federal do Rio de Janeiro que transporta câmera?.

O mercado de automação e robótica no País está, de acordo com o presidente da Fanuc Robotics do Brasil, José Teixeira, em crescimento e pode ter um desenvolvimento de 20% a 30% até 2006. ?A automação é, sem dúvida, o que vai gerar a abertura do nosso mercado e isso fará com que o crescimento seja visível já nos próximos anos. A participação nesta feira objetiva firmar definitivamente todo o nosso potencial, versatilidade e alta tecnologia nos mercados nacional e sul-americano?, afirma.

Robótica tem custo de produção ainda alto

De acordo com o professor  do Cefet-PR Luís Paulo Laus, para que o desenvolvimento da robótica seja viável no País, é preciso baixar o custo da produção. Ele explica que os processos de fabricação envolvem alto nível de precisão e conhecimento de três áreas: eletrônica, mecânica e informática. ?A robótica industrial não é uma tecnologia nova, já existe no mundo há cerca de 20 anos, mas não existe nenhum fabricante brasileiro?, afirma.

Laus diz que, além do alto custo para a produção, há também a questão da escala. ?Uma das formas de se diminuir o custo é produzir em larga escala, fazendo com que o preço das unidades caiam?. Laus cita a área automotiva como um dos principais destinos dessas máquinas.

Nesse setor, os robôs desempenham funções com alto grau de repetição, que seriam de alto risco para um ser humano, ou em processos insalubres. É o que afirma o gerente da área de Tamparia e Armação da Volkswagen-Audi, Gerd Wall. Segundo ele, a empresa possui no Brasil uma linha mista – parte automatizada, parte manual. ?Essa divisão é planejada de acordo com as características da atividade. As de grande risco, de alto nível de repetibilidade, ou que resultariam em difícil posicionamento ergonômico para os trabalhadores, são situações em que o melhor é utilizar robôs?, afirma. Atualmente, a fábrica da Volkswagen-Audi em São José dos Pinhais possui na sua linha de produção aproximadamente três mil funcionários e 326 robôs. Eles têm a meta de produzir 810 carros por dia.

Wall considera que os robôs usados hoje vêm sendo melhorados principalmente nos quesitos manutenção e programação. ?Houve melhorias na construção de robôs. O índice de manutenção mecânica dos equipamentos vem diminuindo, e a manutenção de hardware ficou mais amigável. Na parte de software, freqüentemente sabemos de mudanças?, afirma. Para Wall, o uso de robôs é importante pela segurança. ?A interface homem-robô só traz benefícios. Conseguimos zelar pelo bem-estar do funcionário?, afirma. (RD)

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