Neurobiologia da obesidade tem crescido

São Paulo (Agência Fapesp) – Apesar de a analogia com uma conta bancária ainda, ser verdadeira para perder peso é necessário ingerir uma quantidade de calorias próxima daquela que será gasta, os cientistas sabem que apenas isso não é mais suficiente para conter a crescente epidemia de obesidade que atinge vários países do mundo. Conhecer os circuitos cerebrais ligados à alimentação passou a ser considerado fundamental.

Ao mesmo tempo que esse conhecimento está apenas no início, muitas novidades no campo da neurobiologia da obesidade têm sido registradas nos últimos anos. Para consolidar os avanços e apontar caminhos futuros, os editores da Nature Neuroscience resolveram dedicar um número inteiro da publicação ao assunto. A edição de maio da revista, que teve o patrocínio dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH) dos Estados Unidos, terá seu conteúdo aberto, de forma gratuita, por três meses.

Dos seis artigos publicados, três se dedicam a processos neuronais relacionados com o hipotálamo. Essa estrutura cerebral é a principal reguladora do metabolismo energético do corpo humano. Os estudos apresentados mostram como a manipulação dos níveis de lipídio afetam de forma direta o comportamento alimentar de animais de laboratório.

Os circuitos de melanocortina que existem no hipotálamo marcam a segunda área destacada pela publicação britânica. As mutações nos receptores para essa substância específica são sempre associadas, na literatura científica, à obesidade de causa genética. A ativação excessiva desses circuitos provoca grandes perdas de peso, como ocorre nas pessoas com anorexia.

O terceiro tópico analisado é a anatomia e a plasticidade pouco usual do sistema hipotalâmico formado pelos circuitos de melanocortina. Nessas redes neuronais, os rearranjos costumam ser rápidos, dependendo se o organismo está satisfeito ou faminto. Pesquisas também têm mostrado que disfunções nessa plasticidade podem contribuir para desregular a homeostase energética.

O hormônio leptina, que sempre aparece em níveis elevados nas pessoas obesas, é outro foco dos trabalhos que tentam elucidar os caminhos cerebrais da obesidade. Ao ser injetada em ratos, essa substância reduz a fome e a perda de gordura. Mas as pessoas acima do peso, até agora, mostraram resistência à leptina. Nesses organismos, por causa também da alta quantidade de tecido adiposo, cujas células secretam o hormônio, os resultados não foram os esperados.

Pesquisadores comparam os mecanismos ativados por drogas como a maconha com os da fome. Ao mesmo tempo que substâncias antagonistas ao endocanabionol podem cortar a vontade de comer, pessoas que desenvolvem patologias ligadas à ingestão de alimento podem estar ativando os mesmos circuitos cerebrais que são estimulados em dependentes de drogas.

De acordo com Anette Markus, editora associada da revista, que assina a introdução da edição, o aprofundamento nas seis áreas será essencial para que novos conhecimentos possam ser obtidos. ?Sociedades ocidentais gastam enormes quantias de dinheiro para tratar as conseqüências da obesidade. Pacientes desesperados se submetem a cirurgias radicais para poder ganhar um certo controle sobre seus pesos corpóreos?, lembra Anette, ao justificar a importância do assunto. 

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