Game londrinense faz sucesso na Alemanha

Com uma estratégia bem direcionada, a empresa londrinense Oniria Entertainment apostou no mercado internacional e conseguiu colocar um jogo de computador em décimo lugar de vendas na Alemanha. Trata-se de um jogo do gênero ?Adventure? chamado Die Pferdebande, que em tradução livre para o português seria ?A Gangue dos Cavalos?.

O gerente comercial da empresa, Jorge Marcelo Anelli Andrade, estima que já foram vendidas 50 mil unidades do jogo na Alemanha, com um número de vendas mensal médio de cinco mil, desde março deste ano. ?O jogo possui versões também em francês e holandês. Custa 24 euros?, afirma.

Segundo Andrade, a história toda começou em 2002, quando a empresa estava procurando uma parceria para desenvolver jogos no exterior e entraram em contato com uma publicadora alemã numa feira de jogos em São Paulo, a Caipirinha Games. ?O dono dessa empresa, Joaquim Meyer, foi quem escreveu o jogo e nós o desenvolvemos?, afirma.

De acordo com Andrade, na Alemanha existe um grande mercado para produtos relacionados a cavalos. ?Mas lá, esses animais são artigos de luxo. Então, acaba-se consumindo muito jogos de tabuleiro, entre outros produtos relacionados?, diz. Ele explica que não havia uma oferta de jogos com esse tema, pois  as grandes empresas do ramo consideram um mercado marginal, pouco atrativo.

O principal público de Die Pferdebande, conta Andrade, são garotas de 10 a 18 anos. ?Como o jogo é um Adventure, em que há bastante interatividade, elas podem projetar o seu objeto de desejo dentro do jogo?, explica.

Tem mais

Além de Die Pferdebande, um jogo mais simples foi lançado pela empresa no mercado internacional, o Space Shooter, sendo vendido na Alemanha, Holanda e Suíça. Esse título já havia sido lançado no Brasil, com o nome de Impacto Alpha e é um daqueles em que o jogador controla uma espaçonave e vai eliminando naves inimigas.

A Oniria buscou uma estratégia voltada para o mercado externo, segundo Andrade, porque não há uma cultura forte de compra de jogos eletrônicos no Brasil. ?Nem mesmo um mercado de software nacional foi constituído no País?, justifica a decisão. Ele lembra que a pirataria no Brasil faz o mercado ser pequeno. Somente jogos com custos muito baixos, que vendem muito e que possuem um merchandising alto, é que conseguem ser viabilizados. ?Um exemplo de sucesso de vendas é o ?Show do Milhão?. Mas, a empresa que pretende realmente desenvolver jogos precisa se voltar para o exterior?, explica.

Além de existir demanda, segundo ele, o motivo é o custo de desenvolvimento, que no Brasil é bem menor. ?Conseguimos equipes de ponta, com profissionais qualificados e custos competitivos. Para se ter um parâmetro de comparação, um programador nos Estados Unidos ganha entre US$ 4 mil e US$ 6 mil. No Brasil, os salários ficam entre R$ 800 e R$ 2 mil?, diz.

Embora empresas brasileiras possam desenvolver jogos nacionais com qualidade igual ou mesmo superior a da indústria estrangeira, o difícil mesmo, afirma Andrade, é superar o preconceito dos consumidores. ?A boa posição do Die Pferdebande na Alemanha está nos ajudando a quebrar esse paradigma?.

Mercado de jogos eletrônicos deve crescer 30%

Na avaliação do presidente da Associação Brasileira das Desenvolvedoras de Jogos Eletrônicos (Abragames), Marcelo Carvalho, o mercado nacional ainda é pequeno, mas várias iniciativas vêm acontecendo, tanto que há estimativas da entidade de que o crescimento neste ano seja maior que 30%. Segundo o gerente comercial da Oniria Games, Jorge Marcelo Anelli Andrade, o faturamento internacional de jogos eletrônicos em 2005 deve ser de R$ 28 bilhões.

Carvalho aponta a pirataria com um dos problemas do setor. ?O mercado de jogos para consoles e para computadores pessoais possui esse tipo de problema, mas uma forma de escapar da pirataria é desenvolver jogos para aparelhos celulares e para internet?, conta. Segundo Carvalho, as operadoras de celular e de jogos pela web possuem maior controle. Ele aponta também a dificuldade em obter licenças de kits de desenvolvimentos para grandes console impede a penetração das empresas brasileiras nesse ramo.

Na internet, diz ele, os jogos ?massive multiplayers?, em que uma quantidade imensa de jogadores podem participar, têm tido um crescimento lento, mas consistente. Em geral, são jogos de RPG, de interpretação de personagens, como o coreano ?Ragnarok?, que recentemente foi lançado no Brasil.

Inserção e celulares

Uma pesquisa recente feita pela Abragames indica também que o número médio de funcionários de cada empresa desenvolvedora é de 15 funcionários. Para se inserir no mercado nacional de jogos, muitas empresas começam suas atividades em incubadoras de projetos, como aconteceu com a Oniria Games e a Bender Mobile Solutions. Ambas funcionam na Incubadora Internacional de Empresas de Base Tecnológica da Universidade Estadual de Londrina (Intuel).

A Bender está atualmente começando suas atividades e conta com um parceiro comerical, a Tellvox S. A. que comercializa os jogos desenvolvidos através de um portal de internet. Segundo um dos sócios fundadores da Bender, Ulder Carrilho Júnior, a empresa conta também com o apoio da Sercomtel Celular, que disponibiliza celulares para a realização de testes. Carrilho explica que a estratégia que a empresa vem articulando é a de desenvolver vários jogos simples, para ampliar o portfolio. ?O mercado de jogos para celulares está crescendo muito e o Brasil tem muito potencial. Na Europa é uma realidade para várias empresas desenvolvedoras?, afirma.

Mercado

A pesquisa da Abragames mostra também que a história da indústria de jogos eletrônicos no Brasil é antiga, datando as primeiras empresas de 1992. No fim da década de noventa, houve um aumento substancial e hoje há registradas 55 desenvolvedoras de jogos no Brasil. A maior parte das empresas, 33% delas, segundo a Abragames, está sediada no Paraná. São Paulo vem em segundo lugar, com 30%, seguido do Rio de Janeiro, com 12%. (RD)

Brasileiros investem em entretenimento nos celulares

Para o presidente da Abragames, Marcelo Carvalho, a quantidade de empresas que criam jogos para celulares no Brasil é cerca de 20% do total. Ele explica que é um número alto para o mercado brasileiro. ?Jogos para celulares são em geral mais simples, mas são divertidos. As empresas que atuam nesse mercado são pequenas?, afirma.

Carvalho diz que existem hoje no Brasil aproximadamente 200 mil assíduos jogadores de games. ?Mas, se formos contar os jogadores casuais, o número estimado sobe para a casa dos 10 milhões de jogadores. E é nessa perspectiva que entram os jogos para celulares?, explica.

Carvalho afirma que as empresas de celular estão começando entender que boa parte da receita num futuro próximo virá dos dados que trafegam pelas suas redes, o que incluem os jogos. ?A Vivo tem feito um trabalho interessante. A Tim, a Claro e a Oi estão correndo atrás?, afirma. O fator limitante para o mercado de jogos atualmente é o aparelho celular, que tem de ser capaz de processar jogos.

De acordo com o gerente de Conteúdos e responsável pelo Serviço Vivo Downloads, Ricardo Sangion, para se ter aparelhos que comportem jogos é preciso um trabalho conjunto com os fabricantes de aparelhos e com desenvolvedores de games. Quando foi lançado o Vivo Dowloads em 2002, diz ele, praticamente não existiam empresas desenvolvedoras no mercado. ?Fomos em busca desse mercado. Acreditamos que é um mercado interessante e procurávamos mostrar isso para os desenvolvedores?, afirma. Atualmente a empresa conta com mais de 170 jogos disponíveis para celular.

Sangion explica que no mercado internacional os criadores de jogos eletrônicos são grandes empresas e, como elas possuem equipes de produção, criam equipes próprias voltadas a games para celular. No Brasil é diferente, afirma ele, uma vez que as empresas são geralmente pequenas.

Para Sangion, faz todo o sentido apoiar a produção nacional de jogos. Ele afirma que os desenvolvedores brasileiros sabem o que o público local vai gostar. ?Eles sabem que há jogos que não temos cultura?. Segundo Sangion, o brasileiro tende a transferir os gostos da vida cotidiana, quando vai procurar um game. ?Por exemplo, são fanáticos por carros e motos. E procuram isso nos jogos. Os gostos pessoais acabam se estendendo para outros contextos?, diz. (RD)

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