DNA de moscas ajudará em pesquisas

São Paulo – Um consórcio internacional de pesquisadores, com importante participação brasileira, compilou um catálogo de seqüências de DNA de 12 espécies diferentes de moscas drosófilas. O feito permitirá uma importante ampliação no conhecimento de uma das mais importantes espécies para estudos em biologia. Os resultados dos trabalhos foram publicados em oito artigos na edição de quinta-feira da revista Nature. Pesquisadores das universidades federais de Pernambuco (UFPE), Rio de Janeiro (UFRJ) e Rio Grando de Sul (UFRGS) participaram de um dos textos.

De acordo com Antônio Bernardo de Carvalho, professor do Departamento de Genética da UFRJ e um dos autores brasileiros do estudo, a partir dos resultados, cada área da biologia desenvolverá investigações específicas. ?É um estudo muito amplo. Pesquisadores de cada área vão trabalhar em artigos que explorem temas específicos. O estudo de uma grande quantidade de genomas parecidos proporciona a análise comparada sob inúmeras perspectivas?, disse Carvalho.

A pesquisa envolveu o seqüenciamento dos genomas de dez espécies de drosófilas, além das seqüências genéticas já publicadas da Drosophila pseudoobscura e da célebre Drosophila melanogaster, utilizada em ampla gama de estudos genéticos.

O grupo de Carvalho contribuiu com estudos sobre o cromossomo Y da Drosophila melanogaster, sua especialidade desde 1995. ?Pudemos observar que, ao comparar cromossomos de várias espécies, a maioria apresentava pouquíssima variação genética, ao contrário do cromossomo Y, no qual apenas 30% dos genes se conservam?, destacou.

De acordo com os autores dos trabalhos, a análise comparativa de genomas múltiplos em um único quadro filogenético aumenta radicalmente a precisão das inferências evolucionárias, produzindo resultados mais robustos do que a análise de um único genoma. O conjunto de genomas das 12 espécies de drosófilas permite o estudo de taxas e padrões de divergência de seqüências, que podem trazer esclarecimentos sobre os processos evolucionários em escala genômica. ?Com a comparação, podemos detectar graus diferentes de divergências entre os genes da drosófila no decorrer de seus 60 milhões de anos de evolução. Uma espécie muito similar, a D.simulans, tem um gene que está presente apenas na D.melanogaster. Com isso, sabemos que tal gene foi adquirido há 5 milhões de anos, quando as espécies se separaram?, explicou Carvalho.

A análise comparativa, segundo os autores, também é importante porque as seqüências que resistiram a forças seletivas de evolução desde a mosca até a espécie humana podem ter grande significado funcional.

Segundo o artigo, as novas seqüências genômicas expandem as ferramentas genéticas que fizeram da Drosophila melanogaster um modelo proeminente para a genética animal. Isso deverá estimular pesquisas importantes sobre mecanismos de desenvolvimento, biologia celular, genética, doenças, neurobiologia, comportamento, fisiologia e evolução.

Apesar das notáveis semelhanças entre as espécies de drosófilas apresentadas, os pesquisadores identificaram diversas mudanças em genes codificadores de proteínas, em RNA não-codificantes e em regiões cis-regulatórias (que regulam a expressão genética em uma mesma fita de DNA ou RNA). Isso poderá provar e sublinhar diferenças na ecologia e no comportamento das diversas espécies.

A notável diversidade das espécies de drosófilas as tornam ideais para análises comparativas de dois aspectos evolucionários complementares: a seleção negativa ou a presença de elementos genômicos funcionais que, apesar de terem passado por mutações, não tiveram mudança de função e a seleção positiva, na qual há aquisição de novas funções em espécies diferentes.

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