Aumenta o uso do software livre

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Sady Jacques: "O grande desafio de quem se dedica ao software livre hoje é a popularização".

Uma impressora que não funcionava direito deu início, nos anos 70s, a uma revolução tecnológica que só está sendo sentida pelo grande público atualmente. Programador do Massachusetts Institute of Technology (MIT), Richard Stallman sabia que tanto ele como seus colegas de trabalho podiam resolver o problema do periférico em minutos. Contudo, para seu espanto, eles não conseguiram. O fabricante do equipamento tinha fechado o código em que tinha escrito o driver (programa que faz a comunicação entre a impressora e o micro), proibindo alterações. Inconformado, Stallman teve a idéia de criar aplicativos que dessem total liberdade para os usuários. Nascia naquele momento o software livre, uma idéia que vem conquistando um número cada vez maior de seguidores ao redor do planeta – entre eles ativistas, empresas e governos.

A iniciativa propõe o desenvolvimento conjunto de programas para computadores por colaboradores de todo o mundo. Entre os exemplos mais conhecidos estão o sistema operacional Linux, o pacote de aplicativos OpenOffice e o navegador de internet Firefox. Em geral gratuitos ou mais baratos que os programas proprietários, os softwares livres podem ser instalados, melhorados e redistribuídos por qualquer um.

Como têm o código aberto, o software livre está em revolução permanente. Já os aplicativos proprietários – o caso mais famoso é o Windows – são desenvolvidos e comercializados por uma empresa, que mantém os direitos sobre o código e suas novas versões. Ninguém pode fazer, legalmente, cópias ou tentar descobrir como o programa foi escrito, muito menos alterá-lo. Mas há quem não se importe em pagar por esses programas e obedecer às suas regras, desde que os programas funcionem bem no seu micro. Não à toa o Windows tem mais de 90% do mercado.

?O grande desafio de quem se dedica ao software livre hoje é reverter esse quadro, popularizando a iniciativa?, explica o coordenador-adjunto da Associação Software Livre, Sady Jacques. Em Porto Alegre, terra onde nasceu o Fórum Social Mundial, no último fim de semana foi realizado o 7.º Fórum Internacional de Software Livre. ?Esse evento guarda algumas similaridades com o Fórum Social, já que aqui todos são um pouco ativistas. Mas prefiro dizer que somos um movimento de vanguarda e questionamento?, explica Jacques, um dos organizadores do encontro na capital gaúcha que reuniu mais de cinco mil pessoas.

Caminho foi longo até deslanchar

Até deslanchar, porém, o software livre percorreu um longo caminho. Em 1983, Richard Stallman iniciou o projeto GNU para desenvolver o primeiro sistema operacional que se enquadrasse na ideologia. Dois anos depois, criou a Free Software Foundation (www.fsf.org). Em 1989, a entidade publicou a primeira versão da licença incorporada a programas livres, a GNU General Public License.

O texto estabelece que um aplicativo dessa categoria precisa ter quatro liberdades garantidas: você tem o direito de rodar o software num computador para qualquer finalidade; pode acessar o código-fonte para estudar como o programa funciona, adaptando-o se desejar; está autorizado a fazer cópias e distribuí-las; pode melhorar o aplicativo, liberando as alterações para a sociedade.

O problema é que o GNU não decolou. Então a salvação veio da Finlândia, quando no início da década de 90, o programador Linus Torvalds desenvolveu o sistema operacional Linux, que acabou incorporando elementos do GNU. Deu certo. Na mesma época, a internet explodiu, favorecendo a colaboração entre as pessoas. A combinação de fatores serviu de estopim para o software livre se popularizar.

A difusão do software livre apóia-se também em questões financeiras. Se não estiver lucrando o suficiente com um programa, um fabricante pode decidir encerrar a produção -deixando os usuários desesperados. ?Ficar na mão de um só fornecedor é muito perigoso?, observa Jacques. ?A indústria às vezes também retarda avanços na tecnologia por questões comerciais, se modelos atrasados ainda vendem bem?, diz.

Dificilmente os softwares proprietários saem mais baratos do que os livres, quase sempre gratuitos ou disponíveis a preços baixos. A vantagem funciona como um ímã principalmente para órgãos da administração pública e empresas, que têm de instalar programas em milhares de máquinas. No Brasil, tanto o governo federal como estados e prefeituras têm optado por aplicativos livres para economizar recursos. ?Principalmente o governo federal está dando um grande impulso ao software livre. Basta ver o resultado do programa PC conectado?, ilustra Jacques, se referindo ao programa de PC popular do governo que já vendeu milhões de unidades.

O coordenador do Fórum de Porto Alegre acredita que entre três e cinco anos, caso o incentivo do governo continue, os números de quem utiliza o software livre e o proprietário estejam parelhos. ?O maior benefício é ter uma base tecnológica mais democrática. Com esse modelo, deixamos de ser apenas consumidores de tecnologia e passaremos a um País fornecedor de novidades?, acredita Jacques.

Empresas

Dentro das corporações, a utilização de software livre cresce ano a ano. De acordo com uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV) sobre uso da tecnologia no mercado corporativo, o sistema operacional Linux está presente em 16% dos servidores. No ano passado, o índice era de 14%. Medições estatísticas como esta, no entanto, são raras, justamente pelo fato de ser livre e não haver interesse comercial maciço por trás da iniciativa. Fica difícil quantificar algo que pode ser distribuído por qualquer pessoa ao redor do mundo.

Do lado das multinacionais, o software livre faz parte de uma batalha comercial. Companhias como Novell, Sun e IBM começaram a apoiar seu desenvolvimento para competir com ?gigantes? na área. Em vez de comercializar os programas, vendem serviços associados ao uso desses aplicativos. ?Esse movimento está transformando a indústria do software?, afirma o gerente de Novas Tecnologias da IBM Brasil, Cezar Taurion. ?Se a gente não o acompanhar, um dia vai ser surpreendido?. (DD)

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