Vaidade na infância pode ser motivo de alerta para os pais

Quem não tem saudade da época em que nossa pele era lisinha, nossos cabelos eram sedosos e todos nos achavam bonitinhos, sem que fizéssemos qualquer esforço por isso? Na infância, nossa beleza está em formação e, talvez por isso, chame tanto a atenção. Mas é nesta fase que a vaidade se desenvolve também, merecendo todo o cuidado dos pais. Muitos vestem as filhas quase como adultas e sequer imaginam as possíveis consequências disso.

Alanis, a filha de cinco anos da social media Andressa Fonseca, 30, adora escolher a própria roupa. Ao contrário da maioria das crianças da mesma idade, ela prefere ganhar roupas a brinquedos, e chega a chorar, desde muito pequena, quando a mãe tenta definir a vestimenta ou o sapato que ela vai usar. “Ela é apaixonada por vestidos. Quando chega da escolinha, ela mesma vai até o guarda-roupa e escolhe a roupinha que vai colocar. E isso muitas vezes se torna um problema, porque sempre está frio e, mesmo assim, ela quer colocar vestidinho”, conta a mãe.

A irmã mais nova, Daniela, ainda é um bebê e já aprendeu a pedir para Andressa para vestir uma “tateta” (jaqueta). A mãe já teve até que esconder seus itens de maquiagem quando encontrou as duas pequenas tentando usar seus produtos. Mas por que as meninas gostam tanto de usar as coisas da mãe? Para a educadora Kelly Araújo, que ministra cursos de automaquiagem para crianças, esse interesse nada tem a ver com a vaidade. “Acredito que o papel da maquiagem na infância é de descoberta e autoconhecimento. A criança não utiliza a maquiagem para se tornar ainda mais bela. A conotação de busca da perfeição está no adulto. A criança só quer diversão e a maquiagem para ela é mais uma divertida brincadeira”, conta.

Ciciro Back
Andressa já teve que esconder seus itens de maquiagem após encontrar Alanis e Daniela usando seus produtos.

O exemplo de Alanis e de Daniela pode não ter sido apenas da mãe. Andressa é vaidosa, mas não é o tipo de mulher que gasta mais do que pode com produtos caros ou de marca famosa. A mãe dela, entretanto, faz escova no cabelo e passa batom antes de dormir. Mas mãe a avó não são as únicas referências de beleza das meninas. “Não acho que a Alanis se influencie pelas amiguinhas, mas pelo que vê na TV, os programas que ela assiste. Eu noto que as referencias vêm de lá, como o cabelo igual da Vivi das Chiquititas, ou tiarinha da Valéria do Carrossel, vestido igual da Barbie, essas coisas”, deduz Andressa.

Modelação

O psicólogo Caio Feijó, mestre em Psicologia da Infância e da Adolescência, explica que as meninas podem estar imitando comportamentos que ela viu e que foram recompensados, processo chamado de modelação. “Quando a criança ouve um comentário de que a fulana é linda ou está charmosa, ela tende a imitá-la para obter os mesmos elogios. Dentro de casa, se a mãe ou uma tia, por exemplo, tem esse comportamento vaidoso e é gratificada por isso (recebe constantes elogios), a filha amplia esse comportamento cada vez que a situação for reforçada”, explica.

O alvo da imitação pode estar em casa ou em qualquer outro lugar que a criança frequente. É importante que os pais fiquem atentos e ajudem a manter essa modelação sob controle. “A disputa pode ser uma das causas dos exageros. Uma querendo se sobrepor à outra, produzindo-se de forma cada vez mais ousada até chegarem ao ridículo. Isso pode, inclusive, trazer riscos, pois crianças bonitas, maquiadas e vestidas com sensualidade são os alvos preferidos dos pedófilos”, ressalta o psicólogo.

A co,nsultora de imagem Mariana Assad concorda que a vaidade na infância deve ser mantida sob controle. “A vaidade, quando é praticada na medida certa, é muito saudável, pois ajuda a construir a autoestima das crianças e pode se tornar um incentivo para aperfeiçoar talentos e qualidade. Porém, quando os limites são ultrapassados, pode ser prejudicial, pelo fato de resultar no efeito contrário. Em vez de melhorar a autoestima, pode provocar frustrações no presente e no futuro”, afirma.