É possível ter cartão de crédito sem se endividar

Quem nunca ficou tentada a comprar tudo que via pela frente, no cartão de crédito, em um momento de crise, fosse ela amorosa ou relacionada ao trabalho? Muitas vezes, a tentação de usar a estratégia do parcelamento é grande demais e acabamos cedendo a essa vontade. Mas, no fundo, sabemos que uma atitude impensada como essa pode comprometer nosso orçamento nos meses seguintes, nos quais teremos que pagar pela impulsividade do momento.

Para evitar que desastres como esses ocorram, economistas dão dicas de como controlar os gastos no cartão de crédito, fazendo com que ele seja apenas uma ferramenta benéfica, e não um verdadeiro problema financeiro. A primeira delas (e talvez a principal), de acordo com o professor de Finanças da FAE, Amilton Dalledone Filho, é sempre pagar o valor total da fatura no vencimento. “Não se pode nunca financiar o cartão por ele mesmo, pois as administradoras cobram os juros mais altos do mercado”, justifica.

Antes de a fatura chegar, entretanto, é preciso tomar alguns outros cuidados. Um deles é fazer o controle dos gastos, anotando em uma planilha ou caderneta, quais os valores já foram comprometidos com as compras, inclusive, quando forem parceladas, para que haja dinheiro reservado para o pagamento quando ela chegar. “Também é bom escolher uma data próxima ao recebimento do salário para o vencimento e até colocar o pagamento em débito automático na conta. Assim, não há risco de esquecer e o pagamento é sempre feito no valor integral da fatura”, completa Dalledone Filho.

Em relação ao parcelamento, é preciso tomar outro cuidado. “Só parcele uma compra em loja que não cobra juros para isso. Senão, o preço acaba encarecendo”, esclarece o professor. Independente de a compra ser parcelada ou não, ele ainda recomenda que o consumidor não ceda à empolgação do momento. “Isso pode ser uma grande armadilha. Sempre devemos pensar: ‘devo comprar?’, ‘preciso comprar?’, ‘é hora de comprar?’. E só podemos comprometer, no máximo, 30% da nossa renda. Senão, o pagamento fica impossível”.

O economista Carlos Magno Bittencourt, membro da diretoria do Conselho Regional de Economia do Paraná (Corecon-PR), ainda acrescenta um último conselho neste sentido. “É preciso concentrar todas as compras em um único cartão. Já presenciei uma cena de uma mulher que estava na minha frente para efetuar uma compra e ficou em dúvida, pois todos os espaços de cartões da carteira estavam cheios. Mas com um cartão só, paga-se apenas uma anuidade e pode-se concentrar os bônus de milhagens e prêmios”, comenta. Aliás, é principalmente por causa desses benefícios que vale a pena ter cartão de crédito.

Em todo caso, se o limite do cartão de crédito acabar estourando devido a um imprevisto, é possível resolver a situação sem comprometer ainda mais o orçamento. “Se isso acabar acontecendo, é preferível optar por um empréstimo no banco para financiar o pagamento do cartão do que pagar somente parte da fatura, pois as operadoras não são boazinhas e é aí que elas saem ganhando. Se atrasar o pagamento do cartão, os juros ficam em uma média de 9% ao mês, enquanto em um empréstimo, a taxa é de 3% ao mês”, explica Bitterncourt.

Investindo o que sobra

Controlar os gastos no cartão de crédito pode ser só o primeiro passo para economizar parte do salário, o que é bastante interessante, ainda mais quando se tem um objetivo futuro que vai demandar um investimento maior. Nesse caso, qual a melhor maneira de fazer o dinheiro que sobra render? Para quem, ainda assim, tem pouco dinheiro para aplicar, a melhor estratégia ainda é a caderneta de poupança, segundo Bittencourt. “Esta continua sendo a forma mais popular. Apesar de mais conservadora, é boa porque não tem taxa de administração, não tem desconto no Imposto de Renda e voltou a s,er atrativa porque a taxa básica da economia subiu”.

Quem já conseguiu economizar um pouquinho mais e pode começar a se arriscar, uma boa opção é a compra de títulos do governo federal por meio do Tesouro Direto. “Com R$ 200, R$ 300, você já consegue comprar parte de um título. Esse investimento está ficando mais atrativo porque as taxas estão subindo”, explica Dalledone Filho. “E tem uma garantia a mais porque o governo nunca ‘quebra’”, completa Bittencourt. Antes disso, porém, convém se informar sobre o funcionamento do sistema para acabar não perdendo dinheiro – mesmo que o governo nunca “quebre”, existe a possibilidade de desvalorização dos títulos. Mais informações em www.tesouro.fazenda.gov.br.

Ainda existem as opções de aplicar em ações na Bolsa de Valores, letras imobiliárias, fundos com variação cambial, Certificado de Depósito Bancário (CDB). “Mas, para todos os outros tipos de aplicação, você precisa ter, no mínimo R$ 10 mil para investir, senão não há margem para fazer o dinheiro render”, afirma Dalledone Filho. Caso haja interesse em fazer uma dessas outras aplicações, vale a pena consultar um especialista antes. Uma consulta com um economista fica entre R$ 100 e R$ 150. O próprio Corecon-PR pode indicar um profissional para o atendimento. Em todos esses casos (inclusive no Tesouro Direto), o investimento é a médio ou longo prazo.