Doença celíaca: saiba como viver sem glúten

Você pode nunca ter ouvido falar em doença celíaca, mas com certeza pode conhecer alguém que tenha intolerância ao glúten, mesmo que ela mesma não saiba que sofre dessa disfunção. Apesar de ser bastante comum – estima-se, por meio de pesquisas realizadas em São Paulo, que, a cada 214 brasileiros, pelo menos um tenha a doença -, muita gente ainda desconhece esse distúrbio, até mesmo aqueles que sentem os sintomas, mas ainda não foram diagnosticados como celíacos.

É justamente por isso que a Federação Nacional das Associações de Celíacos do Brasil (Fenacelbra) lançou recentemente uma campanha de conscientização sobre a doença, aproveitando a ocasião do Dia Internacional do Celíaco, celebrado no último domingo. A garota-propaganda é ninguém menos que Isis Valverde, que abriu mão do seu cachê por ter uma relação próxima com a causa. A atriz, hoje com 26 anos, descobriu que sofre da doença quando tinha 19.

Mas, afinal, o que é a doença celíaca ou intolerância ao glúten? “É uma alteração no sistema de imunohistocompatibilidade (HLA System), que faz com que o corpo perca a capacidade de absorção do glúten devido a uma atrofia da mucosa intestinal, provocando sintomas no sistema gastrointestinal, como diarreia e distensão abdominal”, responde o endocrinologista e diretor médico do Laboratório Frischmann Aisengart, Mauro Scharf.

O distúrbio está relacionado a uma predisposição genética e pode acometer pessoas de todas as idades, inclusive, desenvolvendo-se quando o paciente já é adulto. De acordo com ele, o problema ainda atinge mais mulheres do que homens, numa proporção de 2 para 1, provavelmente por ser uma das doenças autoimunes, mais frequentes no sexo feminino devido à variação hormonal.

Perigo

Em crianças, pode ocasionar déficit de crescimento devido à dificuldade de absorção de vitaminas e outros nutrientes, causada pela atrofia da mucosa intestinal. Na idade adulta, já existem estudos que comprovam o aumento do risco de o paciente desenvolver osteoporose e resultados preliminares de pesquisas que apontam que também há maior incidência de câncer no intestino entre essas pessoas. “A doença normalmente também está associada a diabetes tipo 1 e hipotireoidismo”, completa.

Como os sintomas podem ser confundidos com outros distúrbios alimentares, como intolerância à lactose e alergias, o diagnóstico tem que ser feito por meio de exame laboratorial, no qual a pessoa é exposta a anticorpos específicos para identificar a doença. “Se o teste indica que o distúrbio pode ser a intolerância ao glúten, o paciente tem que se submeter a uma endoscopia depois para fazer uma biópsia intestinal, que confirmará a presença da doença”, explica o médico.

O tratamento é simples: retirada de alimentos contendo glúten da dieta. Não há medicamento, como no caso da intolerância à lactose, nem mesmo cura, apenas controle dos sintomas. Segundo a nutricionista e professora da Universidade Positivo (UP), Viviane Valle de Souza, o glúten é uma proteína presente em quatro cereais presentes em grande quantidade no cardápio brasileiro: trigo, aveia, centeio e cevada.

Adaptação é necessária

A dificuldade mora nessa necessidade de fugir dos cereais com glúten. “Aqui no Brasil, a farinha de trigo é usada na fabricação de n alimentos, como massas, biscoitos e pães. Para fugir deles, o celíaco tem que optar por produtos com outros tipos de farinha, como de arroz, milho ou mandioca. Apesar de já existirem alguns comércios especializados, ainda são poucos os pontos de venda e tudo é muito caro”, comenta. Na prática, o que acontece é que a família acaba se adaptando à dieta do celíaco. “Muitas mães se especializam em alimentos com esses outros ingrediente,s para atender o filho”, relata Viviane.

A engenheira química Solange Cristina do Nascimento, 40 anos, sabe bem como é isso. Sua família começou a consumir produtos sem glúten há cerca de sete anos por causa de sua irmã, mas logo ela descobriu que também tinha a doença. “Ela tinha o sintoma clássico, que é a diarreia, mas, no meu caso, como tenho constipação, a doença era mais atípica, mais difícil de diagnosticar. Só descobri por causa dela mesmo, apesar de já estar com alterações na tireóide na época, que é outro sintoma frequente”, conta. Atualmente, Solange é vice-presidente da Associação dos Celíacos do Paraná (Acelpar).

Para ela, outra dificuldade do celíaco está quando ele tem que se alimentar fora de casa. “Essa campanha é importante para conscientizar restaurantes, escolas e outros estabelecimentos. Quando estamos nesses ambientes, temos que perguntar como a comida foi feita, pois a contaminação, quando o alimento é feito no mesmo local de outro, com glúten, é comum e pode nos fazer mal”, comenta. Segundo ela, o celíaco não deveria nem comer alimento feito em panificadora, por mais que seja isento de glúten, por ter sido feito no mesmo ambiente.

E, por mais que o celíaco possa consumir outros produtos normalmente, ela diz que sente falta de algumas comidas. “Não temos croissant e é difícil encontrar chocolate”, lamenta. Ela acredita que essa é uma oportunidade que os estabelecimentos estão perdendo por falta de conhecimento. Apesar de a doença ser antiga, só teve reconhecimento maior por parte das categorias médicas no Brasil a partir de 2009, quando entrou em vigor o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas da Doença Celíaca, que estabelece normas para o atendimento desses pacientes.

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