Por conta própria

Automedicação é arriscada, mas liberada em alguns casos

Quem nunca recorreu à boa e velha caixinha de remédios ao sentir uma forte dor de cabeça ou os sintomas de uma gripe que está começando, sem pedir qualquer indicação para um médico? Esta é uma situação normal na vida de qualquer um, mas é sempre importante lembrar que há limites para a automedicação. Em certos casos, pode ser inofensiva e servir apenas para aliviar alguma dor. Em outros, pode acabar comprometendo a saúde do paciente. Mas como saber ao certo qual é este limite?

De acordo com o clínico médico Carlos Sperandio, credenciado Paraná Clínicas Planos de Saúde Empresariais, existe uma “regra” que sempre deve ser respeitada: “Quando os sintomas são comuns, o paciente os conhece e sabe que o medicamento faz a dor passar, ele pode se medicar sozinho. Mas, se os sintomas são incomuns ou comuns que não melhoram com o remédio, é preciso procurar um médico”. Só que isso vale apenas para medicamentos mais simples, como analgésicos e antigripais, não sendo aplicada a medicamentos controlados, como antidepressivos, antibióticos e ansiolíticos, e mesmo outros, de livre consumo, como anti-inflamatórios, devem ser consumidos apenas com prescrição médica.

Para o clínico médico Ricardo Benvenutti, do Hospital Vita, as mulheres estão sempre mais propensas à automedicação. “Quando ainda não era necessário ter uma receita para comprar antibióticos, era ainda pior porque, com elas têm mais infecções urinárias, recorrem mais a este tipo de medicamento. Mas, de qualquer forma, elas acabam aderindo mais à automedicação por causa dessas queixas urinárias e outras situações, como dores de cabeça e cólicas”, diz ele. Aliás, medicamentos para esse último caso estão liberados, segundo o médico. “Uma mulher que tem cólica sabe disso, conhece o corpo dela, sabe como é o ciclo. Só é preciso estar atenta quando a cólica foge do normal ou acontece em outro período do ciclo, pois, nesses casos, pode ser sintoma de outro problema”.

Recomendações

Mas, mesmo estando “liberada” em alguns casos, os médicos afirmam que é preciso conhecer seu organismo para saber se ele não tem alguma restrição de saúde, ler a bula e respeitar a dosagem indicada nela além de também ser recomendado procurar informações com um profissional de saúde. “É claro que o médico é o profissional mais habilitado para fazer a prescrição, mas, no caso dos medicamentos de livre consumo, é interessante procurar o farmacêutico para se orientar”, comenta.

Isso porque, mesmo alguns remédios que parecem inofensivos, podem trazer alguns prejuízos para a saúde se essas “regrinhas” não forem respeitadas. “Alguns medicamentos em excesso podem causar intoxicação, como o paracetamol, levando a uma insuficiência hepática, na qual o fígado para de funcionar corretamente”. Benvenutti concorda. “Como sou nefrologista, já vi muita gente que tomou anti-inflamatórios indiscriminadamente a vida toda e teve problemas nos rins”, conta. Ele ainda lembra que, no caso dos antibióticos, o maior problema é que o organismo pode criar resistência em relação a algumas bactérias.

Outros perigos exigem atenção

Além de todas essas questões, Sperandio alerta para mais um perigo que a automedicação pode trazer: a interação medicamentosa. “O problema de associar vários remédios diferentes é que é sempre o fígado que processa todas as medicações. Alguns deles, usam enzimas diferentes para serem processadas, outras usam as mesmas. E aí, o que pode acontecer é que há uma exigência maior deste órgão. Isso pode levar a um efeito exacerbado de um dos medicamentos ou ao corte de efeito de um deles”, explica. De acordo com ele, até mesmo os medicamentos mais simples, como anticoncepcionais, podem sofrer interação com outros. Por isso, a importância também de seguir aquelas “regrinhas” anteriores.

Benvenutti, por sua vez, discorda de que haja um risco sério em relação às interações medicamentosas, em especial em relação aos remédios mais simples, mas aponta ainda outra preocupação em relação ao hábito da automedicação. “Alguns desses medicamentos, principalmente os anti-inflamatórios, podem mascarar os sintomas de outra doença, que pode evoluir para um quadro mais intenso por falta de diagnóstico”, alerta. Neste caso, é Sperandio quem discorda – para ele, em doenças mais graves, é impossível mascarar os sintomas. Mas o médico reforça que é preciso estar atento a todos os sinais do corpo para perceber quando é necessário procurar um médico. Em especial, pessoas com mais de 60 anos devem ter ainda mais cuidado pois alguns medicamentos podem apresentar efeitos colaterais graves.