Umbará

Estrada afora

Para ir à escola, os estudantes Dieniffer de Souza dos Reis, Rian Maicon Ramos, ambos com 11 anos, e Thainá Ramos, de 16, enfrentam diariamente uma maratona. Os três moram na Rua Angelo Gai, no Umbará, e precisam andar cerca de dois quilômetros até chegar ao ponto em que embarcam no ônibus escolar que os leva até o Colégio Estadual Padre Cláudio Morelli, onde estudam. Desde o ano passado, os pais dos três estudantes tentam fazer com que o veículo chegue até suas casas, mas ainda não conseguiram.

Mais do que a caminhada em si, as famílias se preocupam com os riscos que os adolescentes correm ao percorrer a via sozinhos. Sem asfalto, a estrada não tem calçadas e o fluxo de caminhões que se dirigem às olarias da região é constante. Além disso, a área é erma, com poucas casas e bastante mato nos sítios localizados por ali.

“Já passaram duas vezes oferecendo carona pros meninos. E minha filha percebeu que eram os mesmos homens”, conta o pai de Dieniffer, Craudair Aparecido dos Reis. O chacareiro diz ainda que é comum a desova de cadáveres e animais mortos no mato da região. “Se eles precisarem de ajuda, não tem um vizinho por perto. A preocupação é enorme, deixar eles sozinhos na estrada sem saber o que pode acontecer. Depois não adianta chorar”, lamenta.

Os pais contam que o problema se complica ainda mais pelo fato de que o ônibus escolar passa pelo local no período da tarde, quando vai buscar e deixar um aluno que mora próximo. Por mais de uma vez eles tentaram resolver a questão junto à diretoria da escola e a Secretaria Estadual de Educação, mas o impasse continua. A mãe de Rian e Thainá, Irene Franco de Morais, chegou a ir pessoalmente à garagem dos ônibus, mas também não conseguiu fazer com que o trajeto fosse estendido.

“Estava desistindo. Esse problema acontece desde quando meu filho, que hoje está no quartel, estudava lá. Estamos tentando levar e buscar no ponto, mas está complicado. A escola diz que não depende dela, então depende de quem?”, questiona. “Até hoje estamos esperando uma resposta. Se todo mundo pegasse o ônibus lá (no ponto)…”, completa a mãe de Dieniffer, Lady Daiane de Souza. Ela e o marido dizem que ouviram de um dos diretores a orientação de chamar a polícia se alguma coisa acontecesse e que, caso continuassem reclamando, os estudantes teriam que usar um ônibus de linha para ir à escola.

Rotina puxada

Para chegar a tempo de pegar o ônibus escolar no ponto, os três estudantes saem cedo de casa. A caminhada começa às 6h40 e o veículo sai do local às 7h08. As aulas começam às 7h30. “A gente chega cansado e fica com medo porque passa caminhão muito perto”, conta Rian. Quando chove, o barro toma conta da estrada. “Tem dias que chegamos no colégio sujos de terra”, observa Thainá.

Escola não tem solução à vista

A diretora do colégio, Rosi Nichele, informou que não há previsão para que o ônibus escolar chegue mais próximo as casas dos estudantes que moram na Rua Angelo Gai. Além disso, o veículo que faz o trajeto naquela região já está lotado e o trajeto pela estrada poderia representar um risco aos estudantes. Por conta da alta demanda, o percurso já foi estendido e o único ônibus que atende a região faz o dobro de paradas que foram estabelecidas inicialmente.

De acordo com a diretora, foi preciso estabelecer prioridades. Rosi explicou que durante a tarde o ônibus não chega a passar em frente a casa das famílias e neste período a demanda é menor. “Não conseguimos atender a totalidade, tanto que no próximo ano os alunos que passarem para a manhã terão que abrir mão do ônibus”, disse. Ela negou que teria sido feita qualquer ameaça aos pais dos estudantes.

A assessoria de imprensa da Secretaria Estadual de Educação também foi procurada e informou que a pasta faz um repasse para a prefeitura de Curitiba, que destina ônibus para o transporte escolar. Não ficou esclarecido, no entanto, de quem seria a responsabilidade pela gestão do trajeto.

Quatis de estimação

A casa de Craudair também é o lar de dois quatis que fazem a alegria das crianças da região. Encontrados pelo chacareiro ainda filhotes, eles estão totalmente domesticados. Como cachorros de estimação, eles até acompanham os estudantes em parte do trajeto até o ponto de ônibus.

Sobre o autor

Carolina Gabardo Belo

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