Vítimas do despreparo

Porque foi rebaixado para a segunda divisão, e porque elegeram uma nova diretoria, os coxas passaram a tratar 2017 como um ano a ser esquecido. Pois já começam a correr o risco de 2017 voltar e ir bem longe.

Na vida, desprezar a derrota, ou tratá-la como um evento casual, é programar a causa de derrotas futuras. Ignorar as suas lições conduz à inconsequência.

Passados 90 dias de assumir, os novos dirigentes não estão conseguindo esconder o despreparo para comandar o Coritiba. Não entendam esse despreparo como a ausência de atributos para exercer as atividades regulares de vida. Trato do despreparo específico, próprio de todos que saem da arquibancada para o comando, sem ter o mínimo de experiência de administração de futebol. A impressão que eu tenho é que esses novos dirigentes assumiram sem ter a real noção do que na prática significa comandar um clube histórico e de força popular.

O despreparo para o exercício de uma função específica, em especial tendo como elemento central a inexperiência, provoca equívocos. Na vida regular, em regra, temos tempo de corrigi-los ou amenizar as suas consequências. No futebol atual a regra é outra, inspirada em uma velha lição: o que começa errado, a tendência é terminar errado. O Coritiba recente serve de exemplo para si próprio: arrumaram um presidente a laço para derrotar Vilson Ribeiro de Andrade, e deu no que deu.

O grande erro de Samir Namur e seus vices está sendo acreditar na política de arquibancada de que é possível criar um time originário da base. Se fossem preparados para o futebol, saberiam que na história do futebol mundial nunca houve um time formado em única fornada de base. No Brasil, apenas o Flamengo de Claudio Coutinho – que, sem dinheiro, obrigou-se a antecipar o futuro de Zico, Leandro, Adílio, Júnior, Tita e Andrade, contratando o goleiro Raul e o meia Paulo Cesar Carpegiani para orientá-los. E só deu certo porque era uma geração de qualidade de exceção.

A diretoria está tratando o Coritiba como um doente, vivendo um dia de cada vez. Despreza que o único objetivo que deve ter é o de devolver o clube à primeira divisão. Não sabendo que a Segundona é uma selva, que não respeita história e camisa, insistem com a política de quanto mais barato melhor. Logo o clube será pego pelo desespero – e esse sai muito caro, pois o mercado do futebol é insaciável. Já se foram três meses, a Segundona está próxima, e o Coritiba ainda não tem um time e não tem um técnico.

Mas, para tudo isso, precisa tomar duas atitudes: os dirigentes têm que ganhar consciência que não entendem de futebol, e contratar ou convidar alguém que entenda.