Precisamos falar sobre o Atlético II

Por que Mário Celso Petraglia pediu licença até o final de 2017?
Procurei por uma versão que sugerisse a verdade, ouvi as mais diversas, algumas mirabolantes, e resolvi acreditar na versão que me foi narrada por pessoa do seu círculo pessoal.
A versão é bem simples: o único motivo que Petraglia deu para a sua família foi o de que, cansado das ofensas que recebe nas arquibancadas, nas redes sociais, inclusive das ameaças a cada derrota do Atlético que restringe a sua liberdade, a obrigação de ao sair sozinho ou com familiares proteger-se de seguranças, cansou-o do futebol.
E só não renunciou em razão da sua responsabilidade em continuar buscando uma solução para a dívida que grava o patrimônio do clube pela construção da Baixada. “De futebol, não quero mais saber”, afirmou. E foi além: que não quer mais tomar conhecimento do que ocorre no futebol do clube, como se tivesse proibindo que os problemas cheguem a ele. Embora, por força das circunstâncias entenda que sejam motivos simplistas demais, não encontro razão para duvidar da versão.
Agora vou dar a minha opinião. O doutor não pediu uma licença por 5 dias, mas por 5 meses. Para um clube complexo, cheio de entranhas, e explosivo como o Atlético se tornou, e considerando que não ficou ninguém lá dentro com capacidade para buscar e dar soluções, 5 meses irão se tornar uma eternidade.
Se não quer mais saber de futebol, e sendo o Atlético exclusivamente clube de futebol, Petraglia não poderia sair, entregando tudo a dirigentes secundários sem capacidade de gestão.
Decidido a se afastar e “não querer saber mais de futebol”, Petraglia tinha dois caminhos, que não devem valorados pela sequência. A renúncia, exigindo que todos os eleitos os seguissem, para provocar o Atlético em busca de uma vida sem a sua influência, antecipando um futuro inevitável. Como ficou continuará exercendo o poder de mando, pois é impossível se afastar de um ambiente e de costumes de 22 anos.
O outro caminho exigiria a renúncia em estado bruto. É aquela em que o homem não precisa ir embora, basta ter o espírito, para ter a grandeza de transigir com a sua verdade, ouvir e até concordar com a verdade dos outros.
Escrevo isso porque conheço bem Petraglia. Por gostar de conviver com o choque, não gosta de subservientes, apenas usa-os. Em algum momento ele sentiu ou sente a falta dos atleticanos que estiveram com ele no começo de tudo. Aqueles com dotes de independência, com autoridade para opinar, com poder de argumentação.
O argentino Jorge Luis Borges escreveu certa vez que “quem tem um companheiro, não anda sozinho”. O companheiro na frase do poeta não é a simples companhia, ou um amigo, que caminha no fazer de um percurso. Mas aquele que questiona, que discute, que briga, que é capaz de submeter a sua razão à razão do outro. Foi com choques de opinião e de autoridade que aqueles atleticanos junto com Petraglia fizeram, em sete anos, o Atlético pagar 10 milhões de dólares de dívidas (um absurdo para a época), ir para a primeira divisão, comprar, pagar e construir o CT do Caju, derrubar a Baixada e construir uma arena, voltar a ser campeão paranaense, ir a Libertadores, ser campeão do Brasil, e inspirar o publicitário Nelsinho Fanaya a construir a identidade mais nobre de um clube do futebol brasileiro, “Atlético, paixão eterna”.

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