Mistério

O Atlético, em seu estado mais puro, que é aquele que busca na paixão o sustento da última esperança, colocando à margem o estado industrializado, foi a Santiago, venceu a Católica por 3×2, e segue em frente na Libertadores. Não venham os teóricos com análises táticas e argumentos técnicos para explicar a vitória do Furacão. Foi uma daquelas vitórias que só o coração explica.

Foi o velho Furacão, despertador de sentimentos adormecidos, criador de fatos já quase improváveis, transformador do futebol em um Vesúvio, que vai acumulando acasos, certezas, desespero, dúvidas, verdades, tristezas, e alegrias, para então explodir.

Foi um jogo de calafrios, esse de Santiago. No primeiro tempo, Furacão jogava bem, tinha a bola e o campo, e já poderia ter marcado com Nikão e Sidcley, quando tomou um gol. Mas foi no segundo tempo, que o jogo foi daqueles de deixar qualquer um quase louco. A partir da alternância dos gols em Santiago e em Buenos Aires, onde jogavam Flamengo e San Lorenzo, é que explodiu aquele Vesúvio de sentimentos.

E, vejam só como o futebol torna-se danado com o seu poder de mudar a vida das pessoas: o Atlético, quando empatou com Eduardo da Silva, passou a se sustentar na vitória parcial do Flamengo. Nessas coincidências maldosas, quando Douglas Coutinho marcou o segundo, o San Lorenzo empatou, em Buenos Aires. E quando o mundo parecia ter acabado com o empate da Católica, ocorreu o gol antológico de Carlos Alberto. E, daí, o Atlético não precisou de mais ninguém.

Paixão à parte, não sei se estaria escrevendo esse texto, se não tivesse Carlos Alberto. Quando entrou, o Atlético não ganhou só a forma de jogo, que não tinha com Lucho, mas ganhou alma. Carlos Alberto, em vinte minutos, jogou o futebol que um dia José Mourinho, comandando-o no Porto, chamou de “futebol de gênio”. Em jogada pela ponta esquerda, driblando como ponta e cruzando como ponta, deu a bola para Eduardo empatar. E, depois, ganhando a bola, lançando Jonathan e descobrindo um vazio, recebeu-a para chutar no ângulo da meta chilena.

Eis, então, o grande mistério de nossas vidas: o Clube Atlético Paranaense.